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educação e sustentabilidade política agrícola brasileira
2008-06-20
Em apenas 12 anos a agricultura brasileira duplicou a sua produção de grãos, passando de 58 para 122 milhões de toneladas por ano. Adicionalmente obteve significativos aumentos na produção e exportação de outros bens agrícolas e pecuarios. Sem anúncios nem celebrações, o agronegócio assumiu o papel de "locomotiva" da economia brasileira que está dando uma enorme ajuda na solução dos problemas nacionais. E, diga-se de passagem, isto aconteceu graças à iniciativa e ao esforço dos próprios agricultores, os quais conquistaram este êxito com mínima ajuda governamental.
 
Nesses mesmos 12 anos os governos não formularam macro-políticas de apoio ao desenvolvimento da agricultura, não fizeram grandes investimentos em infraestruturas de estradas, portos e armazenagem, não instituíram o desejado seguro agrícola. Reduziram o montante do crédito rural oficial e debilitaram instituições públicas de educação, pesquisa e extensão agrícola. Aumentaram alguns impostos, privatizaram as rodovias e instituíram pedágios que oneraram os custos de produção e de distribuição das colheitas. Não concederam subsídios aos nossos produtores e não adotaram importantes medidas tarifárias de proteção contra a importação de produtos agrícolas do estrangeiro.
 
Nesse período algo similar ocorreu no âmbito externo: o FMI, a OMC e o Banco Mundial não modificaram as suas políticas em relação à agricultura, os preços dos nossos produtos de exportação nem sempre foram favoráveis, os países ricos continuaram subsidiando fortemente os seus agricultores e impondo crescentes restrições, tarifárias e não tarifárias, à importação das nossas colheitas.
 
Em resumo, nesses 12 anos não foi adotada - nem interna, nem externamente - nenhuma das medidas clássicas que propunham e continuam propondo muitos especialistas em desenvolvimento agrícola e líderes rurais. E, apesar de todas estas adversidades, reais ou imaginarias, a produção de grãos duplicou.
 
Esta contradição, entre a inércia dos governos e o êxito da agricultura, é tão surpreendente e importante que não pode ser ignorada nem sequer subestimada. Ela denuncia que, em muitos casos, as antigas "receitas' e as frondosas burocracias públicas encarregadas de executá-las foram uns gigantescos desperdícios de recursos e um rotundo fracasso. Enquanto elas estavam vigentes, em vez de estimular as iniciativas dos agricultores e promover o desenvolvimento do setor agropecuário, produziram um efeito contrário. Esta contradição exige que façamos um sério questionamento às propostas convencionais de desenvolvimento agrícola; esta contradição está demonstrando que estavam equivocados, tanto os que reivindicavam como os que formulavam certas políticas de apoio à agricultura; estas em certos casos ajudaram muito mais a alimentar um Estado autofágico e corporativista, que a solucionar os problemas concretos dos agricultores e da agricultura.
 
A mencionada contradição também nos impõe a seguinte pergunta: concreta e objetivamente, a que se deveu a duplicação da produção de grãos aqui descrita, se os governos - por ação ou por omissão - fizeram exatamente o contrário do que propunham os "especialistas" e "lideres" rurais? Se deveu principalmente ao seguinte fator: uma minoria de agricultores, mais lúcida e progressista, se cansou das reivindicações utópicas dos seus próprios líderes, das propostas ingênuas de certos "especialistas" em desenvolvimento agrícola  e da ineficiência do Estado. Esta minoria, que com certeza não chega a 10% dos produtores rurais, foi a que, em grande medida, contribuiu à duplicação aqui descrita. Esta minoria decidiu ignorar a retórica paternalista e, tomar em suas próprias mãos, a correção das ineficiências do agronegócio, fazendo-o dentro das suas propriedades e, em certos casos, organizando-se para fazê-lo fora das porteiras das mesmas. Os agricultores que protagonizaram esta "revolução" produtiva foram premiados com um grande êxito econômico; não porque as políticas tenham sido favoráveis ou porque os governos tenham sido generosos na injeção de recursos à agricultura, mas sim porque eles se tornaram mais eficientes. No entanto, ainda não podemos entusiasmar-nos com este êxito, porque ele é muito parcial e excludente.
 
É parcial porque os agricultores que já atingiram essa maior eficiência ainda podem tornar-se muito mais eficientes e conseqüentemente muito mais bem sucedidos na atividade agrícola. Para isto necessitam executar uma segunda etapa de inovações, cuja concretização, a exemplo do que ocorreu na etapa anterior, também depende muito mais deles mesmos que dos seus respectivos governos. Nesta segunda etapa necessitarão: aumentar ainda mais os seus rendimentos por unidade de terra e de animal, diversificar a produção para reduzir a dependência do crédito rural  e para  evitar riscos desnecessários, reduzir perdas durante e depois da colheita, melhorar a qualidade dos seus produtos e incorporar-lhes valor, racionalizar a administração das suas propriedades para eliminar superdimensionamentos e ociosidades nelas existentes e, especialmente,  corrigir os erros que eles continuam cometendo tanto na aquisição dos insumos como na comercialização dos seus excedentes. Se eles executarem esta segunda etapa atingirão a denominada eficiência total ou integral, que é o único "passaporte" capaz de assegurar-lhes rentabilidade, competitividade e êxito econômico na agricultura, independente do que façam ou deixem de fazer os seus respectivos governos ou os governos dos países ricos.
 
É excludente porque os outros 90% de agricultores, carentes de conhecimentos e espírito empresarial, ainda são vítimas de desatualizados "especialistas e líderes" rurais que continuam iludindo-os com obsoletas, utópicas e ineficazes ajudas paternalistas; e mantendo esta maioria no círculo vicioso da ineficiência, da dependência e da pobreza rural. Tais "especialistas e líderes" continuam propondo que os agricultores mendiguem créditos que não conseguirão devolver e cestas básicas que apenas alimentarão o seu sentimento de incapacidade; em vez de recomendar-lhes que exijam dos seus governos uma educação rural de qualidade que ensine, a eles e aos seus filhos, os conhecimentos úteis, as aptidões e as atitudes que necessitam adquirir para que eles também possam fazer algo similar ao que fizeram os agricultores inovadores; e, através desta medida realista, tornem-se menos dependentes de um Estado que está cada vez mais debilitado, empobrecido e inoperante.
 
A estes 90% de agricultores que ainda não conseguiram participar desta extraordinária revolução de eficiência e de produtividade na agricultura, o sistema educativo rural (escolas fundamentais rurais, escolas agrotécnicas, faculdades de ciências agrárias e serviços de extensão rural ) deverá proporcionar as competências necessárias; a fim de que eles também possam incorporar-se ao grupo daqueles que tomam iniciativas, que introduzem inovações, que corrigem as suas próprias ineficiências; isto é, ao grupo daqueles que solucionam os seus próprios problemas em vez de continuar esperando que outros o façam por eles. O referido sistema educativo deverá formá-los e capacitá-los para que estejam em condições de progredir através da sua própria vontade, esforço e capacidade.Com tal objetivo o Estado moderno deverá promover uma profunda "revolução" na qualidade e na pertinência dos conteúdos do sistema educativo rural. Os seus conteúdos curriculares e os seus métodos de ensino deverão ser submetidos a uma radical transformação  de realismo, de objetividade, de pragmatismo e de adequação às verdadeiras necessidades das famílias rurais.Os referidos conteúdos deverão ser úteis  para que sejam aplicáveis, pelos próprios educandos, na correção das ineficiências e na solução dos problemas que eles enfrentam na vida cotidiana dos seus lares, propriedades, comunidades e mercados rurais.Transmitir conhecimentos úteis é a principal missão de uma educação útil.
 
E para concluir, a seguinte reflexão: Proporcionar aos agricultores os conhecimentos necessários para que eles mesmos  possam resolver os seus problemas  é a solução  de maior eficácia e de menor custo; e, por que não dizê-lo, para os governos debilitados e empobrecidos este é o único caminho possível para que o desenvolvimento rural com equidade deixe de ser um enunciado de boas intenções e passe a ser uma possibilidade concreta.

(Por Polan Lacki, Texto recebido por E-mail, 17/06/2008)
Polan.Lacki@onda.com.br  

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