BRASÍLIA - Em tom de desabafo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discordou da tese de grileiros e madeireiros de que "há muita terra para pouco índio" e reclamou da decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em abril, de suspender a retirada de arrozeiros da reserva indígena Raposa Serra do Sol, no noroeste de Roraima. Ao participar na noite de ontem de encontro da Comissão Nacional de Política Indigenista, no Ministério da Justiça, ele pediu rapidez no julgamento definitivo do processo de homologação contínua para evitar mais violência na região.
Num longo relato, ele lembrou que o governo ofereceu terras da União ao Estado e ofereceu indenizações com valores elevados para os fazendeiros deixarem a terra indígena. "Quando tomamos a decisão de que agora é a hora de pagar para ver, vamos tirá-los e colocar a Polícia Federal para exercer a função, veio a decisão da Suprema Corte", disse. "Enquanto estiver na Suprema Corte, o presidente da República não pode fazer nada", completou. "O que o governo quer agora é rapidez (do STF) antes que aconteça qualquer ato de violência mais sério lá, porque não faltam os que instigam, uma parte de pessoas políticas do Estado que querem confusão."
Em 9 de abril deste ano, o ministro do STF Carlos Britto decidiu suspender a Operação da PF Upatakon 3, que tinha por missão retirar os invasores da área demarcada em 1998 e homologada em 2005. Lula contou que, em Roraima, políticos colocaram outdoor para xingá-lo e xingar o governo. "Homologamos Raposa Serra do Sol, um direito", disse. "Aprovamos uma série de coisas e decidimos não fazer nada que pudesse causar violência", completou. "Essa coisa foi indo, ação na Justiça, liminar, ação na Justiça, liminar, até que decidimos colocar preço na terra dos arrozeiros, muito mais do que valiam, porque queríamos que a coisa fosse pacífica."
(Agencia Estado, 19/06/2008)