A Companhia Energética de Petrolina (CEP), empresa privada do setor termelétrico, foi autuada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em R$ 100 mil por despejar cerca de 800 mil litros de resíduos de óleo combustível em oito hectares de caatinga, num local situado a 19 km de Petrolina (PE).
A maior parte da área atingida pertence à Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), que possui uma jazida de argila no local. O outro terreno prejudicado é de propriedade do agricultor Ivo Antônio da Silva. Segundo o Ibama, a termelétrica assumiu a autoria do despejo do material. A empresa tem até o dia 26 deste mês para recorrer ou pagar a multa.
O resíduo do óleo afetou diversas espécies de plantas e animais macroscópicos e microscópicos no local. O material se assemelha a borra asfáltica, tanto pela textura quanto pelo cheiro. O primeiro despejo aconteceu no início deste mês e foi o mais prejudicial. Vinte carretas da termelétrica teriam levado cerca de 600 mil litros do material tóxico para uma área que fica a 16 km de onde ela está localizada, no km 10 da BR-235. O tempo estimado para recuperação da área atingida é de dois anos.
O Ibama foi informado da situação por denúncia anônima. Após vistoria do local, o órgão constatou o fato e autuou a termelétrica em R$ 50 mil. Mesmo assim, outro despejo de óleo foi feito na última segunda (16), desta vez a 3 km de onde ocorreu o primeiro e à beira da BR. Por haver riachos perto dos locais onde houve o despejo, há suspeitas de que o material tenha sido levado pela chuva ou lençóis freáticos e chegado até o Rio São Francisco.
Na primeira área atingida, houve contaminação de uma lagoa usada por animais de criação de agricultores como Ivo Antônio da Silva, que afirma ter perdido quatro cabras que consumiram a água contaminada. Segundo ele, cada uma dela valeria R$ 300. “Não há multa que pague esse crime ambiental”, revolta-se o agricultor, que diz estar entrando na justiça e quer uma indenização de R$ 10 mil pelos cerca de 200 m2 atingidos em área de sua propriedade.
De acordo com o chefe do Ibama em Petrolina, Carlos Vanderlei Pinheiro, entre os animais da caatinga encontrados mortos estavam patos selvagens, nanico, mergulhão, cabeça vermelha, rolinha e outros. “É impossível saber a quantidade de animais e plantas mortos por causa desse óleo. O prejuízo aqui é incalculável”, disse Pinheiro, segundo o qual a empresa terá de gastar ainda mais R$ 100 mil para recuperar toda a área.
MORTE – A tentativa de recuperação da primeira área atingida, foi iniciada no último sábado. A poucos metros do local é possível ser animais mortos com a boca suja de ólel. Segundo o chefe do Ibama, além da contaminação da água, o óleo penetrou cerca de 50 centímetros no solo. “Esse material que está sendo retirado não pode ser jogado em outro lugar. Ele pode ser aproveitado para se usar em asfalto”, disse Pinheiro.
O dhefe do Ibama informou ainda que a Codevasf também foi notificada, Segundo ele, a empresa teria omitido o crime. A reportagem de A TARDE tentou contato diversas vezes com o superintendente da Codevasf em Petrolina, Luiz Eduardo Matias Frota, mas não obteve retorno.
O gerente da Companhia Energética de Petrolina, Marcos Vinícius Dias Alves, informou que não poderia se pronunciar em nome da empresa e que o responsável seria o diretor técnico Hélio Takeno, que reside em São Paulo e visita Petrolina a cada 15 dias. Por telefone, Takeno disse que a termelétrica está analisando o material que contaminou a área.
Apesar de não reconhecer que o resíduo de óleo combustível é originário da termelétrica, Takeno afirmou que a empresa se antecipou no reparo do prejuízo causado na área para permanecer na mídia. Ele disse que o recolhimento do resíduo do óleo é serviço terceirizado. “Prefiro não falar quais são as empresas que fazem o sérvio. Vamos recorrer e depois veremos quais providências tomaremos”, disse Takeno.
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A Tarde, 19/06/2008)