Dois episódios de bruscos aumentos de temperatura no hemisfério norte precederam o fim da última glaciação e causaram mudanças na circulação atmosférica global, revelou um estudo publicado pela revista "Science". Esses episódios, nos quais a temperatura no hemisfério aumentou em uma média de 10 graus centígrados em apenas 50 anos, ocorreram primeiro há cerca de 14.700 anos, e depois há 11.700 anos, segundo o registro climático que conserva a camada de gelo da Groenlândia.
O mais assombroso, segundo os geólogos do Centro de Estudos do Gelo e do Clima do Instituto Neils Bohr, da Universidade de Copenhague, é que as mostras de gelo revelam o que qualificam como uma "reorganização em massa" da circulação atmosférica no hemisfério norte que coincidiu com o aumento das temperaturas. Cada uma delas, acrescentam os autores do estudo, demorou somente um ou dois anos.
O gelo da Groenlândia se formou com a neve que ano após ano é apertada na espessa plataforma gelada. As camadas anuais desse gelo têm o registro do clima, e as perfurações de mais de três quilômetros guardam as provas do clima prevalecente até 125 mil anos atrás. Esse registro revela as temperaturas e os níveis de precipitação passados, o conteúdo atmosférico, provas do momento e a magnitude de tempestades, incêndios e erupções vulcânicas distantes.
O grupo de cientistas, que inclui pesquisadores europeus, um do Japão e dois americanos, espera que os dados apresentados pelos gelos da Groenlândia ajudem a melhorar os modelos informáticos para prever o clima futuro. A necessidade de melhorar esses modelos se torna mais urgente no momento em que os gases causadores do efeito estufa da atmosfera forçam um aumento das temperaturas no mundo todo.
"Analisamos a transição desde o último período glacial até nosso atual período interglacial e as mudanças de clima se sucedem repentinamente, como se alguém apertasse um botão", indicou Dorthe Dahl-Jensen, da Universidade de Copenhague. Segundo os cientistas, ambos os episódios de aquecimento global foram precedidos por uma redução na precipitação de pó atmosférico sobre a Groenlândia.
Jim White, cientista da Universidade do Colorado, assinalou que isso indicaria temperaturas tropicais mais altas e chuvas mais intensas e freqüentes nos desertos asiáticos desse tempo. O grupo de cientistas assinala que é possível que o aquecimento tropical tenha causado rápidas mudanças atmosféricas no Equador; a intensificação das monções do Pacífico; perda de gelo no Atlântico Norte assim como calor e umidade sobre a Groenlândia e a maior parte do hemisfério norte.
"Sabemos que episódios como estes estão no futuro da Terra, mas não sabemos quando ocorrerão", manifestou White. "O problema é se podemos vislumbrar os sintomas antes que ocorram os grandes problemas. Até que respondamos a estas dúvidas estaremos avançando às cegas por um estreito caminho com a esperança de que não haja curvas mais adiante", acrescentou.
(Efe, Ultimo Segundo, 20/06/2008)