Dados do Anuário Estatístico da USP de 2007 mostram que a Universidade de São Paulo possui atualmente cerca de 37 mil microcomputadores, 15 mil impressoras e 4 mil dispositivos de rede, entre outros equipamentos de informática. Como as estimativas mais confiáveis dão conta de que aproximadamente 10% desses aparelhos caducam por ano, pode-se ter uma idéia do tamanho do problema que o chamado lixo eletrônico (e-lixo ou e-waste) representa somente nos campi da maior universidade brasileira.
Foi a preocupação em garantir que essa enorme quantidade de telefones, mouses, teclados, fios e placas que vão parar todos os anos no meio do lixo comum ganhem um descarte mais adequado e agridam o meio ambiente da menor maneira possível que ajudou a gerar um projeto pioneiro dentro da USP. O Centro de Computação Eletrônica (CCE), órgão responsável pelo atendimento em informática a todas as unidades da USP na capital, implementou neste ano o Plano para a Cadeia de Transformação de Resíduos de Informática. O programa, que conta com o apoio da Agência USP de Inovação e do USP Recicla, está sendo desenvolvido em parceria com três alunos do Laboratório de Sustentabilidade (S-Lab), disciplina da Sloan School do Massachusetts Institute of Technology (MIT), dos EUA.
“Pelo que sabemos, esse tipo de projeto é um dos pioneiros não só no meio universitário brasileiro como também no mundo”, explica a professora Tereza Cristina M. B. Carvalho, diretora do CCE. A meta do plano é criar uma política que trate não só do gerenciamento de resíduos eletrônicos dentro da universidade, como também se preocupe com a sustentabilidade de toda a cadeia de transformação desses produtos. “Em uma das primeiras etapas, por exemplo, vamos analisar se os micros que estamos comprando, por exemplo, são os chamados ‘micros verdes’, que não têm chumbo e cujos componentes podem ser decompostos ou reutilizados”, explica.
A preocupação ambiental se estenderia não somente ao final do ciclo de vida do equipamento, mas já no ato da compra. “Infelizmente, hoje nós não temos ainda no Brasil uma legislação que exija dos fabricantes suas devidas responsabilidades com o descarte de produtos eletrônicos, o que nos deixa bastante atrasados em relação aos países desenvolvidos”, diz Tereza. “Essa política, que já existe para fabricantes de celulares e pneus, por exemplo, é uma das propostas que vamos discutir aqui dentro, a inclusão dessa exigência nos próximos editais de compras de produtos de infomática”, diz ela.
Dia Mundial do Meio Ambiente
Como hoje a USP não tem uma política definida para a gestão do e-lixo, algumas unidades simplesmente “encostam” o que já não funciona mais, enquanto outras doam para organizações não governamentais (ONGs), explica a diretora do CCE. “Muitas vezes se doam dois ou três micros para uma ONG, cada um com um defeitinho, e desses ela acaba montando um e jogando o resto fora. Precisamos garantir que essa ação da doação seja também uma ação sustentável, e não apenas uma transferência do problema do descarte para terceiros”.
O embrião do projeto funcionará na CCE, nesta primeira etapa. “Pretendemos primeiramente limpar todo o nosso lixo eletrônico. Você abre a sua gaveta e tem lá um mouse, um CD ou uma placa que já não tem mais utilidade”. A primeira experiência foi realizada no último dia 5 de junho, escolhido por ser o Dia Mundial do Meio Ambiente. Nessa data, os funcionários do CCE depositaram em um contêiner no estacionamento da unidade dezenas de telefones, CDs e placas que já não serviam mais, totalizando quase uma tonelada de material. “A receptividade com o projeto foi muito boa”, avalia Tereza Cristina. “Agora, é solidificá-lo aqui e depois transferi-lo gradualmente para todas as unidades”.
(Por Francisco Angelo, USP Online, 20/06/2008)