Depois de questionar diversas vezes publicamente os dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o governo de Mato Grosso distribuiu à imprensa um folheto em que usa números do órgão para fazer propaganda de suas ações de combate ao desmatamento.
No material, aparecem as taxas de desmate nos Estados segundo o sistema Prodes (Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia) e é ressaltado que o Estado obteve redução de 72% em áreas desmatadas entre 2005 e 2007. A reportagem refez o cálculo e chegou a uma redução de 65,3% -de 7.145 km2 para 2.476 km2.
O folheto também diz que "há três anos Mato Grosso deixou de ocupar a primeira posição nacional em desmatamento". O Estado perdeu o posto de campeão no ranking nos últimos dois anos fiscais (de agosto de um ano a julho do outro). Mas ainda não é possível saber se manterá o feito em 2007/ 2008. "Anota aí, quando fechar, vai ser menor que essa taxa [de 2.476 km2]", disse à Folha Luís Henrique Daldegan, secretário de Meio Ambiente.
O governador Blairo Maggi (PR) várias vezes duvidou dos dados do Inpe do sistema Deter (Detecção do Desmatamento em Tempo Real). Chegou a dizer que "o Inpe, nos últimos tempos, tem feito a divulgação de índices de desmatamento muito elevados em relação ao que temos encontrado".
Segundo o secretário, o governo não concorda com o fato de o Deter considerar não só corte raso, mas também degradação florestal -enquanto o Prodes detecta só corte raso.
O Inpe avalia que o Prodes, que é anunciado no segundo semestre, vai confirmar os dados do Deter de tendência de alta no desmatamento na Amazônia Legal. Segundo Dalton Valeriano, do Inpe, houve confirmação nos últimos três anos.
(Afra Balazina, Folha de S.Paulo, 18/06/2008)