A elite dos cientistas brasileiros está reunida na preparação de um documento inédito, que irá mostrar os custos de adaptação e mitigação das mudanças climáticas para o País. A terceira reunião do grupo terminou nesta quarta-feira (18), em Brasília.
Os trabalhos que irão compor o estudo "Economia das Mudanças Climáticas no Brasil", a ser divulgado em outubro deste ano, servirão de base também para o Plano Nacional sobre Mudanças do Clima, em elaboração pelo governo federal.
"É um estudo muito ambicioso", diz Sérgio Margullis, consultor do Banco Mundial e um dos coordenadores da pesquisa. "Ao mesmo tempo, é uma matéria-prima riquíssima para o trabalho que estamos desenvolvendo em parceria com outros ministérios e o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas", acrescenta Suzana Kahn, secretária de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente. Ela destaca, ainda, que o MMA pode contribuir retroalimentando os cientistas em áreas em que haja maior demanda.
O Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Inpe, irá fornecer a base dos modelos climáticos. A estes dados serão incorporados outros trabalhos, em especial na área de adaptação, relacionados aos seguintes setores e temas: impactos das mudanças climáticas sobre os recursos hídricos; produção agrícola; demanda e confiabilidade do setor de energia; sobre a elevação dos níveis do mar e desastres naturais e ainda sobre a saúde humana e sobre os fluxos migratórios.
Por fim, outros trabalhos de pesquisas irão calcular os impactos sobre o uso da terra, com ênfase na competição entre agricultura, produção de biocombustíveis e a preservação das florestas nativas remanescentes.
Eduardo Haddad, diretor de Pesquisas da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), será o responsável por fazer a modelagem econômica, a partir de todos os estudos setoriais recebidos. "O modelo desenvolvido permitirá a análise integrada dos setores em nível nacional e regional para diferentes cenários climáticos e econômicos", informa.
Segundo Haddad, o primeiro cenário é o de inação. Já o segundo incorpora as iniciativas de adaptação nos setores de energia e agricultura e estima seus impactos sobre a economia projetada para as regiões e seus aspectos distributivos decorrentes. Haddad acrescenta que o terceiro cenário, por fim, simulará os impactos de políticas globais de mitigação, especificamente taxação do carbono e/ou limites de emissão, e analisará os impactos sobre os setores econômicos e distributivos.
Jacques Marcovitch, também coordenador da pesquisa, acredita que, mais do que um estudo econômico, existe um compromisso moral por trás do trabalho. "A nossa civilização não tem o direito de continuar acumulando gases de efeito estufa na atmosfera, independentemente dos ganhos e perdas que estão sendo medidos. Nós temos o compromisso de reduzir emissões, daí a importância desse trabalho de mitigação", diz.
Na área de mitigação, aliás, estão sendo realizadas as seguintes análises: custos de oportunidade de mitigação de gases de efeito estufa na Amazônia; de mitigação de gases por meio da intensificação do uso de biocombustíveis; de mitigação de gases via eficiência energética e ainda via práticas agrícolas inovadoras e mudanças no uso do solo. José Féres, pesquisador do Ipea, responsável por estudos da área agrícola, diz que eles terão dois componentes. "Não apenas a avaliação dos impactos da mudança climática na rentabilidade agrícola, preço da terra e produtividade média, mas também do aumento da demanda por biocombustíveis e como isso vai afetar o padrão de uso da terra no Brasil", adianta.
A modelagem econômica, chamada Modelo de Equilíbrio Geral, permitirá estudar formas alternativas de redução de emissões, possibilitando análises de custo-efetividade que têm por objetivo identificar as opções que levam a melhores resultados por unidade monetária aplicada. Permitirá também estimar receitas decorrentes de políticas de mitigação, como o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. O horizonte de prospectiva é o ano de 2100, o que exige projeções complexas principalmente nas áreas de energia e migrações.
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MMA, 18/06/2008)