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eucalipto silvicultura
2008-06-19
No final da década de 1940, o futuro governador de São Paulo, Carvalho Pinto, adquiriu uma fazenda na região montanhosa de Amparo, a cerca de 150 quilômetros da capital paulista. Seguindo o modelo agrícola da época no estado, ergueu um cafezal, arrebanhou algumas cabeças de gado de leite e arrematou a empreitada com uma plantação de eucaliptos. Foi em meio àquelas árvores compridas que o neto do político, Carlos Alberto, então com 12 anos, entendeu que tinha em comum com o avô muito mais do que o nome.

Parceiros nas andanças floresta adentro, em que acompanhavam o corte e a medição da lenha, passaram a compartilhar o gosto pela atividade rural. Hoje, o empresário Carlos Alberto de Carvalho Pinto Tonanni continua investindo em eucalipto, numa área de cerca de 115 hectares, além de manter uma granja de frangos e gado. Os bovinos, entretanto, foram temporariamente deixados de lado.

Tonanni, que produz eucaliptos em Amparo, SP, planeja reunir cinco áreas com árvores de diferentes idades, para conseguir renda com cortes todos os anos. A família Carvalho Pinto testemunha a evolução da silvicultura no Brasil. Diferentemente do passado, quando a produção nacional se baseava no desmatamento de florestas nativas, o setor avança em áreas que já foram utilizadas para agricultura ou pecuária, mas estão ociosas ou com rendimento inferior ao esperado.

Estimulado pelo mercado aquecido, Carlos Alberto pretende fazer do eucalipto o carro-chefe da propriedade. Estima-se que existam no país 5,67 milhões de hectares de florestas plantadas, representadas principalmente por pinus e eucalipto, e concentradas nas regiões Sul e Sudeste. O pinus, que leva dez anos para a primeira poda, é mais voltado às serrarias e à fabricação de papel de fibra longa. Já o eucalipto tem crescimento mais rápido (cerca de sete anos), e sua madeira costuma ser destinada à fabricação de celulose e geração de energia.

O mercado florestal nacional acabou sendo impulsionado com a disparada dos investimentos das indústrias de papel e celulose, de móveis e de siderurgia. "A previsão é que até 2010 seja investido algo em torno de quatro bilhões de reais apenas em cultivos", afirma Rubens Garlipp, superintendente da SBS - Sociedade Brasileira de Silvicultura. Os estudos, em especial os de melhoramento genético, com o desenvolvimento de clones específicos para determinadas regiões, seguem de vento em popa e fazem do país referência mundial no manejo de florestas. Os avanços técnicos da última década foram fundamentais para dar mais corpo à atividade no país: estima-se que, neste período, a produtividade tenha crescido 10%.

O sucesso das pesquisas foi potencializado pela boa adaptação ao clima brasileiro de diversas variedades de pinus e eucalipto, que são plantas exóticas. De acordo com Vitor Hoeflich, chefe-geral da Embrapa Florestas, enquanto o Brasil consegue uma média de 25 metros cúbicos por hectare ao ano, países como Estados Unidos e África do Sul, que também atuam no setor, atingem produtividade anual de 15 e 18 metros cúbicos, respectivamente.

Embora as empresas que fabricam produtos de florestas plantadas possuam a maior parte dos cultivos, o perfil do setor está tomando novos contornos. Entre 2002 e 2006, o total da área plantada por pequenos e médios silvicultores cresceu 616%: no último ano, eles foram responsáveis por cerca de 150 mil hectares.

O paulista Roque Frare faz parte deste grupo de pequenos investidores de florestas. Há cerca de três anos, ele ajeitou a primeira muda de eucalipto no terreno de sete hectares herdado do pai, na cidade de Morungaba, SP. Produtor e comerciante de grama batatais, Frare teve a idéia de apostar na atividade quando percebeu que ela casava bem com as características da região, de topografia acidentada, e pelo fato de ter pouco tempo para dedicar à produção. "Algumas culturas precisam ser acompanhadas diariamente; como também tenho uma empresa para cuidar, não posso fazer inspeções a todo o momento", diz.

O agricultor levantou a floresta com recursos próprios, mas esta não é a única maneira de iniciar o cultivo. Hoje, além dos financiamentos públicos, as empresas têm lançado mão de programas de fomento para arrebanhar novos fornecedores. É o caso da Suzano, que obtém de florestas próprias 75% de suas necessidade totais de matéria-prima e os demais 25%, de agricultores parceiros.

A gigante do setor de papel e celulose doa mudas e fornece assistência técnica, com apoio ao produtor desde o preparo do solo às manutenções ao longo do ciclo. Além disso, adianta recursos para o plantio, inclusive para os gastos com mão-de-obra e insumos, ao longo de sete anos, até que possa haver o primeiro corte do eucalipto. "A dívida contraída pelo produtor será paga em madeira; o restante da produção a Suzano compra ao preço de mercado na ocasião", afirma o gerente de divisão de relações institucionais da empresa, Luiz Cornacchioni. Os programas de fomento têm apelo social - já que inserem trabalhadores na cadeia florestal, com conseqüente geração de emprego e renda - e isenta as empresas de mobilizar capital para aumento de área.

Junto aos benefícios financeiros diretos com a venda de produtos da madeira, a silvicultura permite ao agricultor lucrar com o comércio de créditos de carbono. Trata-se de uma espécie de bônus, obtido com ações que evitem a liberação de poluentes ou promovam a retirada de gases tóxicos da atmosfera, como os reflorestamentos. Esse mercado ainda engatinha, mas é promissor. A Suzano está listada na CCX - Chicago Climate Exchange, bolsa ligada à negociação desses certificados de redução da emissão de poluentes. Desde março passado, a empresa vendeu cerca de 20 mil toneladas em créditos.

De fato, a questão ambiental está cada vez mais arraigada à silvicultura no país, com o crescente respeito às exigências legais. "As pessoas estão se conscientizando sobre a importância da atividade de reflorestamento na contenção das mudanças climáticas", diz Nelson Barboza Leite, gerente do Programa Nacional de Florestas do Ministério do Meio Ambiente. Por conta da pressão da sociedade para a racionalização da exploração florestal, ganharam impulso as certificações florestais. Há no país dois tipos de selo de origem para a matéria-prima: o brasileiro Cerflor, coordenado pelo Inmetro e reconhecido pelo PEFC - Programme for the Endorsement of Forest Certification Schemes, com 762 mil hectares certificados; e o internacional FSC - Forest Stewardship Council, que possui cinco milhões de hectares certificados.

O atestado pode ser concedido tanto para florestas naturais quanto plantadas, embora as técnicas de manejo exigidas sejam diferentes. Para as naturais é necessário fazer um documento detalhado sobre que tipo de espécies existem no local, qual a idade da floresta e planejar a exploração, com o compromisso de deixar algumas matrizes para a regeneração da área. Quanto às áreas plantadas, a legislação permite que se faça o corte raso (da árvore toda), mas deve-se elaborar o planejamento da exploração e intercalar plantação com floresta natural, montando um mosaico, para garantir um corredor de biodiversidade.

"O madeireiro no Brasil carrega o estigma de ser o grande destruidor das florestas; para ele, obter a chancela é uma maneira de se diferenciar da criticada prática tradicional", afirma Ana Yang, secretária executiva do FSC. O selo tem ainda uma vantagem econômica, ampliando a possibilidade de acesso ao mercado externo, já que europeus e americanos exigem a certificação para a compra de produtos.

Para os pequenos produtores, a certificação pode pesar um pouco no orçamento, mas há mecanismos para barateá-lo. Fazer em grupo, dividindo os custos, é um deles. O FSC estuda também a possibilidade de que estes agricultores possam entrar na categoria Slimf, hoje aplicada apenas à Amazônia. O Slimf é um critério que avalia extensão da área e nível do impacto da unidade florestal para calcular o custo - em tese, quanto menor a propriedade, menor o impacto ambiental e mais baixo o custo da certificação.

Com o setor se adaptando cada vez mais aos pequenos, a perspectiva é de que sua participação no mercado seja crescente. Também a rentabilidade, frente a outros tipos de cultura, tem contribuído para aumentar o interesse dos agricultores de menor porte. Foi esta percepção que levou o médico Carlos Abreu e a mãe, dona Neusa, a mudarem as características da Fazenda Santa Cruz, situada em Bragança Paulista. A família já possuía uma plantação antiga de eucaliptos, feita de maneira um tanto desorganizada. No entanto, as sucessivas frustrações com a baixa produtividade da agricultura e da criação de gado mantidas no local os levou a investir mais fortemente em silvicultura, com o estímulo dado pela divisão de celulose e papel da Votorantim, que doou as mudas.

Com isso, os ganhos de Abreu deram um salto. O milho, cultivado no passado, proporcionava lucro de 35% ao ano. Com o eucalipto, o índice chega a 70%, levando em conta o tempo de sete anos para o primeiro corte.

Para as indústrias, o futuro é igualmente promissor. As vendas externas de produtos que usam as árvores como matéria-prima - sejam papéis ou móveis - só fazem aumentar: nos últimos dois anos, passaram de 4,2 bilhões de dólares para 5,2 bilhões de dólares. Somos o principal exportador de celulose de eucalipto e a expectativa é que, em 2007, o Brasil supere o Japão e passe a ocupar a sexta posição entre os maiores produtores mundiais de celulose.

Mas, para Hoeflich, da Embrapa, o atendimento à demanda futura sem degradação de florestas naturais somente poderá ser alcançado com o aumento da eficiência da produção, colheita e conversão da matéria-prima. "Merecerão destaque áreas como o melhoramento genético para a obtenção de árvores resistentes a pragas, doenças e herbicidas, e também com maiores rendimentos em celulose e energia", diz.

Há ainda a questão da sazonalidade de mão-de-obra. Apesar de a silvicultura gerar cerca de 1,7 milhão de empregos (da produção de mudas ao transporte de madeira), o trabalho está concentrado em algumas fases: na implantação, nos dois primeiros anos da cultura (quando é preciso dar maior combate às formigas e ao mato) e no momento do corte. Em regiões de terreno acidentado, predomina o trabalho manual. Em locais mais planos, há a facilidade de mecanização, que diminui a necessidade de trabalhadores.

O fato de haver picos de mão-de-obra na atividade dificulta a criação de pessoal especializado. Uma das saídas para amenizar o problema são as florestas de múltiplo uso: de tempos em tempos, faz-se o corte seletivo, retirando árvores mais finas ou tortas e vendendo-as para o uso como lenha ou pontalete, o que acaba abrindo espaço para as árvores mais nobres se desenvolverem. "Quando se têm diversos produtos da floresta, criam-se várias cadeias de mercado e, por conseqüência, empregos de mais qualidade", afirma Alexandre Barboza Leite, engenheiro agrônomo da Teca Consultoria Florestal e filho de Nelson, do Ministério do Meio Ambiente.

Todos estes avanços deverão vir com o tempo - e, talvez, em pouco tempo. Isso porque o setor demonstra que amadurece a passos largos. Em 2003, o Programa Nacional de Florestas preconizava o plantio de pelo menos 550 mil hectares ao ano para suprir a expansão industrial (à época, o Brasil produzia 250 mil hectares ao ano). A meta já foi superada pelo setor privado: no último ano, foram 627 mil hectares de florestas.pesquisa foram as listas de plantas (florística) encontradas nos trabalhos anteriores. Uma floresta digna do nome precisa abrigar também aquelas espécies tolerantes à sombra, grandes árvores como a maçaranduba (Manilkara subsericea) e as perobas (Aspidosperma spp).

Isso leva tempo. Nos primeiros anos e décadas, predominam as espécies pioneiras, que se dão melhor com a abundância de luz solar em clareiras e fragmentos desmatados. Também são menos freqüentes as espécies que dependem de animais para ter suas sementes dispersadas, como os guamirins, parentes da goiabeira dependentes de aves.

Uma floresta madura contém 90% de espécies não-pioneiras e 80% de espécies dispersas por animais. Sabendo a proporção desses dois tipos e o tempo decorrido desde a perturbação da mata em cada um dos 18 casos, foi possível calcular a velocidade de regeneração do perfil: de um a três séculos.

A mata atlântica é também uma das florestas tropicais mais biodiversas do planeta, com 40% de espécies endêmicas (que só existem em certos locais). Para recompor essa chamada beta-diversidade, no ritmo atual, a mata precisaria de 1.000 a 4.000 anos.

(Celulose Online, 18/06/2008)


 

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