Foi aberto ontem – e acontece até amanhã -, na Universidade Corporativa da Indústria (Unindus), em Curitiba (PR), o Global Forum América Latina, com o tema “Empresas, Universidades e Sociedade num Mundo Sustentável”.
Idealizado a partir do Business as an Agent of World Benefit (BAWB), o primeiro Global Forum aconteceu em 2006, em Cleveland (EUA), reunindo 400 líderes empresariais e representantes do mundo acadêmico de 40 países, além de mil participantes via internet. O objetivo era identificar áreas de cooperação entre a iniciativa privada e a Academia, com vistas à promoção de ações efetivas para o desenvolvimento sustentável global.
Desse primeiro encontro, surgiu a proposta de que o Global Forum tivesse novas edições, dessa vez em caráter regional. Por já ter sediado vários congressos do BAWB, o Brasil foi escolhido para acolher o primeiro Global Forum América Latina.
O evento no Paraná busca avançar na direção dos objetivos do Pacto Global da ONU, tido como a maior iniciativa de responsabilidade social em todo o mundo, na qual já se engajaram mais de 3 mil empresas de cem países; mais de 700 organizações da sociedade civil e trabalhistas, e instituições acadêmicas. Resumidamente, a meta é criar uma economia global inclusiva do ponto de vista social e sustentável, sob a ótica ambiental.
O norte para a consecução desse propósito está nos chamados “Princípios para a Educação em Gestão Responsável” (conheça-os no final da matéria).
”No curto prazo, desejamos transformar as visões construídas no Global Fórum América Latina em ação. Para isso, já estamos programando ainda para este ano um “call for action”, onde vamos desenvolver estratégias para as visões serem postas em prática”, disse a AmbienteBrasil Rodrigo da Rocha Loures, presidente do Sistema FIEP (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), entidade sob cuja responsabilidade se efetivou o Global Forum América Latina.
Segundo Loures, a médio prazo, a expectativa é produzir conhecimento para responder com sucesso ao imperativo do desenvolvimento sustentável. Entre os objetivos também estão o de promover uma capacidade de cooperação estratégica entre as comunidades empresarial e acadêmica, e destas com o setor público e a sociedade em geral; fazer com que a temática central passe a fazer parte da agenda estratégica da educação corporativa; e fazer com que as autoridades educacionais passem a conceder atenção apropriada à educação na área de gestão.
Ele coloca que, por fim, a expectativa é que o encontro em Curitiba instale um processo consistente e contínuo de aprendizagem compartilhada voltada para o aprimoramento da educação para a sustentabilidade no Brasil. “Se isso ocorrer, estaremos contribuindo de forma ampla para a qualidade de vida e para a conservação dos recursos naturais no planeta”, diz Loures.
Ele avalia que os egressos das universidades brasileiras, especialmente da área de Administração, têm se norteado para especializações e busca do domínio de técnicas. “Contudo, o reposicionamento do mundo empresarial, a complexidade e o dinamismo crescente dos mercados pedem gestores com atitude e métodos diversos - visão sistêmica, habilidades de liderança e inovação, sensibilidade social e política. Profissionais com este perfil não estão saindo das escolas de negócios”, adverte o presidente da Fiep, para quem “sustentabilidade, hoje, é o novo nome do desenvolvimento”.
Na visão de Loures, a percepção sistêmica do conjunto de desafios à sustentabilidade não pode estar calcada apenas nos seus aspectos ambientais. “O que está em risco não é propriamente a vida no planeta Terra e, sim, a vida humana e a vida das organizações. Isso implica em desafios econômicos, sociais, culturais e políticos para além dos desafios propriamente ambientais, no sentido dos recursos naturais”, defende.
Nessa trajetória, coloca ele, é preciso ter claro que não se pode captar um sentido sistêmico tendo como ponto de partida uma visão setorial. “Devemos encontrar nos cursos universitários aquilo que concorre para formarmos líderes empresariais mais preparados para os desafios do desenvolvimento sustentável”, sugere Loures. “Estas pessoas é que vão atuar nas empresas, governos, academia e sociedade civil pelos próximos 30 ou 40 anos. Suas decisões vão influenciar toda a atividade produtiva e humana”.
Princípios para a Educação em Gestão Responsável
1 – Propósito – Iremos desenvolver as capacidades dos estudantes para que se tornem futuros geradores de valor sustentável para empresas e para a sociedade como um todo e para que trabalhem para uma economia global inclusiva e sustentável.
2 – Valores – Iremos incorporar em nosso currículo e em nossas atividades acadêmicas os valores da responsabilidade social global como retratadas em iniciativas internacionais como o Pacto Global da ONU.
3 – Método – Iremos criar modelos educacionais, materiais, processos e ambientes que viabilizem experiências de aprendizado eficazes para a liderança responsável.
4 – Pesquisa – Iremos nos engajar em pesquisas conceituais e empíricas que aperfeiçoem nosso conhecimento a respeito do papel, das dinâmicas e do impacto de corporações na criação de valores sociais, ambientais e econômicos.
5 – Parceria – Iremos interagir com administradores de corporações para estender nosso conhecimento sobre seus desafios no cumprimento de responsabilidades sociais e ambientais, de forma a explorar conjuntamente abordagens eficazes para atender esses desafios.
6 – Diálogo – Iremos facilitar e apoiar o diálogo e o debate entre educadores, empresas, governos, consumidores, mídia, organizações da sociedade civil, outros grupos interessados e acionistas em assuntos críticos relacionados com a responsabilidade social e a sustentabilidade global. Entendemos que nossas próprias práticas organizacionais devem servir de exemplo dos valores e atitudes que passamos para nossos estudantes.
(Por Mônica Pinto,
AmbienteBrasil, 18/06/2008)