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stora enso eucalipto no pampa segurança alimentar
2008-06-19

Trabalhadores finlandeses demitidos e camponeses sem terra brasileiros se converteram em inesperados aliados na luta por seus meios de vida. Ambos enfrentam a gigante florestal sueco-finlandesa Stora Enso. A empresa adquiriu 2.500 hectares de terra no Rio Grande do Sul para plantar eucalipto destinado à produção de celulose e papel. Isto expulsará camponeses de suas terras e colocará em perigo a produção de alimentos, segundo ativistas. A companhia também é alvo de críticas na Finlândia, onde fechou uma fábrica de celulose em abril, o que representou demissão de 200 trabalhadores na pequena cidade de Kemijärvi.

Ativistas brasileiros dos direitos pela terra afirmam que a empresa vai agravar a insegurança alimentar, porque seus planos no Brasil implicam a conversão de áreas agrícolas para plantar eucaliptos. “Com o encarecimento mundial dos alimentos, usar a terra para monoculturas, como no caso da soja para alimentar o gado, é contraproducente’, disse na Finlândia à IPS Ulysses Campos, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). “O governo brasileiro é em grande parte cúmplice de propagação da monocultura, mas apresenta a plantação de eucaliptos como algo muito bom para a economia nacional”, acrescentou.

O MST acusa Stora Enso de violar a lei que proíbe no Brasil empresas estrangeiras de possuírem terras que estejam a até 150 quilômetros de distância das fronteiras. A área do Rio Grande do Sul onde se diz que a companhia comprou suas terras fica perto da fronteira com o Uruguai. Para burlar a lei, segundo Campos, Stora Enso estabeleceu no Brasil companhias que atuam como fachada. Uma delas é a Azenglever Agropecuária, afirmou.

Ulla Paajanen-Sainio, vice-presidente para relações com investidores e comunicações financeiras da empresa, negou a realização de ações ilegais. “Recorremos ao assessoramento legal brasileiro para levar adiante nossos planos”, disse à IPS. Acrescentou que a Azenglever pertence a dois brasileiros que são empregados locais da Stora Enso. “Mas a empresa sueco-finlandesa carece de laços formais com a empresa brasileira”, ressaltou. “Em todo caso, após comprar as terras, é necessária permissão das autoridades locais para começar a usá-la com o propósito para o qual foi adquirida”, afirmou. “Stora Enzo ainda não decidiu se plantará eucalipto ou outras espécies vegetais”, acrescentou.

Esta declaração não aplacou as críticas. “inclusive, se estiver operando legalmente, nos opomos à sua presença porque a lógica do não uso da terra para a produção de alimentos é imoral”, disse Campos. Paajanen-Sainio desmentiu a acusação dizendo que no Brasil a área destinada à agricultura supera de longe a destinada a outros usos. Novecentos ativistas da rede internacional de organizações rurais Via Camponesa, em sua maioria mulheres, ocuparam em março a plantação em protesto pelas compras de terras pela companhia, sendo desalojados pela polícia.

Segundo Campos, a Stora Enso negocia com o governo brasileiro a compra de mais 10 mil hectares para plantar eucalipto. Uma das conseqüências adversas da atividade florestal é que acentua a concentração da propriedade da terra, pois umas poucas empresas habitualmente adquirem grandes extensões, acrescentou. No caso dos eucaliptos, são usadas grandes quantidades de produtos químicos que contaminam as fontes de água, alertou. Segundo Campos, a área onde Stora Enso opera fica sobre enormes reservas de água subterrânea, com o potencial de abastecer o Brasil nos próximos 300 anos. Teme-se que a plantação de eucaliptos, se for permitida sua expansão, contribua para seu esgotamento, já que cada árvore consome aproximadamente 30 litros diários, afirmam especialistas.

A empresa enfrenta outros conflitos na frente doméstica finlandesa. O governo da Finlândia, acionista majoritário da empresa, com 37%, se recusou a intervir quando a direção decidiu fechar a fábrica de Kemjärvi. “Infelizmente, existe agora um governo de centro-direita e sua política é de não intervir nas empresas controladas pelo Estado”, disse à IPS Juha Pikkarainen, líder do Massaliike, grupo de trabalhadores demitidos formado para lutar contra o fechamento da unidade.

Mais de cem operários que não foram transferidos para outras unidades em outros pontos do país permanecerão desempregados, acrescentou Pikkarainen. “Mas os mais prejudicados são os donos das plantações da área, pois ficaram sem mercado para sua madeira. Milhões de dólares investidos irão por água abaixo”, ressaltou.

(Por Linus Atarah, Envolverde, IPS, 17/06/2008)


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