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cidades sustentáveis
2008-06-18

Há algo de verde no reino das megalópoles. Absolutamente convencidos de que o prazo de validade dos recursos naturais se encontra bem próximo do fim, as grandes potências estão se unindo para construir um mundo melhor. E os projetos que até há pouco tempo eram considerados meras curiosidades criadas por visionários começam a ser levados a sério. É o que vem acontecendo em países como Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, China e Emirados Árabes.

A criação de megacidades sustentáveis e a busca de soluções criativas e viáveis para o problema foi a razão de ser da 7ª Conferência Internacional de Ecocidades, realizada em abril, em São Francisco, nos Estados Unidos. Organizada pelos cerca de 100 membros da Ecology Bilders, o objetivo foi abrir os olhos do mundo para um fato simples e preocupante que a maior parte das pessoas ignora ou evita encarar: neste exato momento, praticamente ninguém – por mais dinheiro ou poder que tenha – está morando e vivendo bem.

Responsável pela conferência, o arquiteto norte-americano Richard Register, que desde 1974 estuda soluções para cidades saudáveis, afi rma que a época dos paliativos já passou. Os “prédios inteligentes”, por exemplo, não são mais sufi cientes. Até porque a maior parte deles está sendo construída no lugar errado, longe do centro, alimentando nossa dependência do automóvel, que ele considera mais de 150 m para encontrar o transporte público sobre trilhos. Completadas as etapas iniciais das obras, Masdar receberá os primeiros moradores em 2009: serão cientistas, técnicos e acadêmicos, que vão testar as novidades e sugerir as correções, se forem necessárias.

Richard Register não precisará esperar mais um ano para identificar o único problema do projeto: o fato de ele ficar nos Emirados Árabes – o que considera um doloroso desperdício de petróleo – e, por suas características muito específicas, não poder ser usado em outros lugares. Ele acha bem mais útil e inspirador de soluções o mapeamento que a Ecology Bilders está fazendo para “reconstruir” a cidade norte-americana de Oakland, tornando-a no futuro um lugar onde os habitantes poderão se locomover confortável e preferencialmente a pé ou de bicicleta. Resumindo: para ele, mais importante do que criar ecocidades é começar a salvar as que já existem.

Ambicioso mesmo é um projeto chinês que fica a 25 km de Xangai. A vila de Dongtan, localizada na ilha fl uvial de Chogming, deverá se tornar a partir de 2010 a primeira cidade ecológica do mundo. Com 86 km2 (mais ou menos o tamanho de Manhattan), tem a assinatura da Arup, uma consultoria inglesa especializada em design e inovação. A idéia é criar até 2050 um paraíso não só para os futuros 500 mil habitantes como também para os pássaros migratórios, que fazem da região um ponto de parada na rota entre a Austrália e a Sibéria. Com os carros, as chaminés também foram banidas.

A energia virá de fontes renováveis, principalmente dos ventos e da biomassa da casca de arroz. Para dispensar elevadores, os prédios terão seis andares e foram planejados de modo a tirar o máximo proveito das condições naturais do clima. Energia solar e sistema de ventilação inteligente permitirão a economia de 66% de energia. A água e 90% dos resíduos sólidos serão reaproveitados. Ao sair de qualquer uma das casas, o morador estará a apenas sete minutos a pé dos transportes públicos e de toda a infra-estrutura urbana. Ou poderá ir de bicicleta – veículos motorizados, só os movidos a combustíveis limpos, como bateria e células de hidrogênio. A maioria dos alimentos também será produzida ali, em fazendas orgânicas, que, com as áreas verdes, ocupam dois terços de sua extensão total.

Embora Peter Head, o diretor da Arup, acredite que cada cidade precise encontrar uma solução própria e não pretenda fazer de sua Dongtan um modelo a ser seguido, o que é bom para a China parece também ser bom para os Estados Unidos.

O maior projeto de sustentabilidade norte-americano é igualmente uma ilha (artificial, a Treasure Island), projetada pela Arup na baía de São Francisco. Em uma antiga base da Marinha, um grupo de arquitetos está criando uma área habitacional compacta com cerca de 6 mil unidades residenciais em torno de um terminal de ônibus e de barcas. Cerca de 65% da área será destinada a parques, espaços abertos e fazendas orgânicas. O plano é torná-la auto-suficiente em matéria de energia gerada por várias fontes alternativas. O caso dessa cidade do futuro “flutuante”, entretanto, é especial, pois foi necessário encontrar solução para um problema bastante específi co e atual: a grave ameaça de elevação do nível do mar. O projeto inclui algumas medidas geotécnicas de curto prazo para protegêla de inundações, além de planos estratégicos que permitem à ilha se adaptar a possíveis condições adversas.

O incansável Richard Register concorda e somente não dá a aprovação completa a Treasure Island por faltar a ela um requisito básico: a tolerância zero com os carro grande vilão da história. Sua previsão é cruel: se as cidades continuarem a ser planejadas para os carros e não para as pessoas, não só será impossível frear as mudanças do clima como também em três ou quatro gerações os combustíveis fósseis estarão esgotados – a começar pela gasolina.

Pelos cálculos de Register, apenas uma em cada oito pessoas do planeta tem carro e nenhuma intenção de abrir mão dele – por necessidade ou por status. As outras sete arcam com as conseqüências de um dano ecológico para o qual não contribuíram. Até agora, pouca gente se preocupou de verdade em mudar essa situação. No máximo, diz ele, “fantasiam um dia ir morar no campo, instalar um coletor solar no telhado e cultivar a própria comida, embora não tomem nenhuma providência para isso”.

O que a Ecology Bilders e outras organizações estão propondo – e, em alguns casos, realizando – são cidades em que todos tenham à disposição a mais moderna tecnologia e ao mesmo tempo as vantagens de “morar no mato” – onde não precisar de carro seja sinônimo de altíssima qualidade de vida. Um dos exemplos mais impressionantes e emblemáticos é Masdar (“fonte”, em árabe), que começa a ser erguida sobre um dos solos mais ricos em petróleo do mundo.

A cidade, murada e totalmente ecológica, vai ocupar 6 km2 em pleno deserto a sudeste de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. Livre de automóveis, emissão de carbono e desperdício de energia, ela foi projetada pela fi rma inglesa Foster & Partners com o apoio, entre outros, do WWF – World Wildlife Fund e consumirá 22 bilhões dólares até fi car pronta, por volta de 2016, quando abrigará, entre habitantes e trabalhadores, mais de 60 mil pessoas e 1,5 mil empresas.

“Vamos mostrar ao mundo como as cidades do futuro devem ser construídas”, anunciou Sultan al Jaber, o executivo responsável pelo empreendimento. Um exemplo de sustentabilidade inspirador por vir de um país rico, “até agora famoso apenas pelos gastos extravagantes”, explica Jennie Organ, do BioRegional Development Group, parceiro no empreendimento.

Masdar será abastecida por energia eólica (captada em fazendas construídas em sua periferia) e solar (gerada na que será a maior usina fotoelétrica do mundo). A água virá de usinas de dessalinização e, depois de usada, servirá para irrigar plantações destinadas à produção de biocombustíveis e ao projeto de paisagismo. Uma cidade convencional do mesmo tamanho gasta 800 mW de energia, contra os 200 mW de Masdar,e o consumo de água será cortado em mais de 50%.

Em uma região em que as temperaturas podem chegar a 50o C, as ruas (estreitas, bem ventiladas e sombreadas)são um grande incentivo a caminhadas – os mais preguiçosos, porém, nunca terão a necessidade de andar delo de revitalização urbana. Lá fi cará Greenwich Millennium Village, uma mini-ecocity com cerca de 3 mil casas e prédios comerciais ecologicamente sustentáveis.

No Brasil, tanto Richard Register como Jennie Organ concordam que Curitiba é o melhor (embora incipiente) exemplo de preocupação com a sustentabilidade por seu esforço em multiplicar as áreas destinadas a pedestres. Ambos também reconhecem a energia solar como a mais efi ciente para alimentar as cidades do amanhã. No uso dessa tecnologia, a Alemanha é o país que alcançou os melhores resultados, com destaque para Freiburg, a chamada Cidade do Sol. Considerada a capital alemã da ecologia, desde 1984 ela se prepara para chegar saudável ao futuro, implantando um projeto de sustentabilidade desenvolvido por Wulf Daseking. Hoje, mais da metade da energia gerada nela tem origem ecológica – um terço da qual produzido por biogás proveniente do reaproveitamento de resíduos biodegradáveis.

Outro excelente lugar verde para viver será a cidade de Vancouver, no Canadá, cujo plano-diretor se baseia na ecodensidade, o pilar dos novos projetos, que Brent Toderiam, o responsável pelo planejamento urbano, pretende adaptar às condições locais. Quando a população é concentrada nos lugares corretos, pode-se reduzir bastante o uso de carros e o gasto de energia, os principais responsáveis pelas mudanças climáticas. Porque ninguém precisa dirigir para chegar ao trabalho, ao cinema e ao shopping, que ficam uns ao lado dos outros e ao lado das casas, e porque a proximidade torna muito mais viáveis a coleta e o reaproveitamento de resíduos que podem acabar se transformando em luz e aquecimento.

Já na Suécia, se todos os cálculos derem certo, a geração da década de 2020 será a primeira a nascer numa sociedade auto-sustentável. A busca desse objetivo começou em 2004 por meio da Sustainable Sweden Tour, que vem construindo em praticamente todo o país pequenos e médios núcleos habitacionais. Um dos maiores projetos de desenvolvimento urbano é o Hammarby Sjöstad, em Estocolmo.

Localizado próximo ao lago Hammarby Sjö, trata-se de um bairro com construções planejadas, no total de 9 mil apartamentos e qualidade de vida invejável para as cerca de 30 mil pessoas que devem morar e trabalhar nele. Em meio a uma paisagem inspiradora, a largura das ruas, o tamanho das quadras, a altura dos prédios, a densidade de ocupação, a distribuição dos parques, enfi m, tudo foi planejado para garantir a permanente interação com a natureza e a luz solar adequada.

Na 7ª Conferência Internacional de Ecocidades, todos que estão construindo o futuro falaram do amanhã como algo ao alcance de quem tiver disposição para criar “as cidades de que o planeta precisa”, como defi ne Lalit Bhati, porta-voz de Auroville, cidade no sul da Índia, idealizada com o propósito de “realizar a unidade humana na diversidade”: uma espiral em fase de construção que parte de um núcleo central aberto que ao mesmo tempo separa e harmoniza os espaços residencial e industrial. Ou como a pioneira Arcosanti, um laboratório urbano que começou a ser construído em 1970 no deserto do Arizona pelo visionário arquiteto ítalo-americano Paolo Soleri.

Discípulo de Soleri, que considera o pai das cidades ecológicas e uma das maiores personalidades do século XX, Richard Register e seus seguidores acreditam que, para a humanidade se dar ao luxo de viver bem, as metrópoles do terceiro milênio devem usar toda a tecnologia disponível para oferecer cada vez mais aos habitantes o clima aconchegante de uma cidadezinha do interior.

Há algo de verde no reino das megalópoles. Absolutamente convencidos de que o prazo
de validade dos recursos naturais se encontra bem próximo do fim, as grandes potências
estão se unindo para construir um mundo melhor. E os projetos que até há pouco tempo eram considerados meras curiosidades criadas por visionários começam a ser levados a sério. É o que vem acontecendo em países como Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, China e Emirados Árabes.

A criação de megacidades sustentáveis e a busca de soluções criativas e viáveis para o problema foi a razão de ser da 7ª Conferência Internacional de Ecocidades, realizada em abril, em São Francisco, nos Estados Unidos. Organizada pelos cerca de 100 membros da Ecology Bilders, o objetivo foi abrir os olhos do mundo para um fato simples e preocupante que a maior parte das pessoas ignora ou evita encarar: neste exato momento, praticamente ninguém – por mais dinheiro ou poder que tenha – está morando e vivendo bem.

Responsável pela conferência, o arquiteto norte-americano Richard Register, que desde 1974 estuda soluções para cidades saudáveis, afi rma que a época dos paliativos já passou. Os “prédios inteligentes”, por exemplo, não são mais sufi cientes. Até porque a maior parte deles está sendo construída no lugar errado, longe do centro, alimentando nossa dependência do automóvel, que ele considera mais de 150 m para encontrar o transporte público sobre trilhos. Completadas as etapas iniciais das obras, Masdar receberá os primeiros moradores em 2009: serão cientistas, técnicos e acadêmicos, que vão testar as novidades e sugerir as correções, se forem necessárias.

Richard Register não precisará esperar mais um ano para identificar o único problema do projeto: o fato de ele ficar nos Emirados Árabes – o que considera um doloroso desperdício de petróleo – e, por suas características muito específicas, não poder ser usado em outros lugares. Ele acha bem mais útil e inspirador de soluções o mapeamento que a Ecology Bilders está fazendo para “reconstruir” a cidade norte-americana de Oakland, tornando-a no futuro um lugar onde os habitantes poderão se locomover confortável e preferencialmente a pé ou de bicicleta. Resumindo: para ele, mais importante do que criar ecocidades é começar a salvar as que já existem.

Ambicioso mesmo é um projeto chinês que fica a 25 km de Xangai. A vila de Dongtan, localizada na ilha fl uvial de Chogming, deverá se tornar a partir de 2010 a primeira cidade ecológica do mundo. Com 86 km2 (mais ou menos o tamanho de Manhattan), tem a assinatura da Arup, uma consultoria inglesa especializada em design e inovação. A idéia é criar até 2050 um paraíso não só para os futuros 500 mil habitantes como também para os pássaros migratórios, que fazem da região um ponto de parada na rota entre a Austrália e a Sibéria. Com os carros, as chaminés também foram banidas.

A energia virá de fontes renováveis, principalmente dos ventos e da biomassa da casca de arroz. Para dispensar elevadores, os prédios terão seis andares e foram planejados de modo a tirar o máximo proveito das condições naturais do clima. Energia solar e sistema de ventilação inteligente permitirão a economia de 66% de energia. A água e 90% dos resíduos sólidos serão reaproveitados. Ao sair de qualquer uma das casas, o morador estará a apenas sete minutos a pé dos transportes públicos e de toda a infra-estrutura urbana. Ou poderá ir de bicicleta – veículos motorizados, só os movidos a combustíveis limpos, como bateria e células de hidrogênio. A maioria dos alimentos também será produzida ali, em fazendas orgânicas, que, com as áreas verdes, ocupam dois terços de sua extensão total.

Embora Peter Head, o diretor da Arup, acredite que cada cidade precise encontrar uma solução própria e não pretenda fazer de sua Dongtan um modelo a ser seguido, o que é bom para a China parece também ser bom para os Estados Unidos.


O maior projeto de sustentabilidade norte-americano é igualmente uma ilha (artificial, a Treasure Island), projetada pela Arup na baía de São Francisco. Em uma antiga base da Marinha, um grupo de arquitetos está criando uma área habitacional compacta com cerca de 6 mil unidades residenciais em torno de um terminal de ônibus e de barcas. Cerca de 65% da área será destinada a parques, espaços abertos e fazendas orgânicas. O plano é torná-la auto-suficiente em matéria de energia gerada por várias fontes alternativas. O caso dessa cidade do futuro “flutuante”, entretanto, é especial, pois foi necessário encontrar solução para um problema bastante específi co e atual: a grave ameaça de elevação do nível do mar. O projeto inclui algumas medidas geotécnicas de curto prazo para protegêla de inundações, além de planos estratégicos que permitem à ilha se adaptar a possíveis condições adversas.

O incansável Richard Register concorda e somente não dá a aprovação completa a Treasure Island por faltar a ela um requisito básico: a tolerância zero com os carro grande vilão da história. Sua previsão é cruel: se as cidades continuarem a ser planejadas para os carros e não para as pessoas, não só será impossível frear as mudanças do clima como também em três ou quatro gerações os combustíveis fósseis estarão esgotados – a começar pela gasolina.

Pelos cálculos de Register, apenas uma em cada oito pessoas do planeta tem carro e nenhuma intenção de abrir mão dele – por necessidade ou por status. As outras sete arcam com as conseqüências de um dano ecológico para o qual não contribuíram. Até agora, pouca gente se preocupou de verdade em mudar essa situação. No máximo, diz ele, “fantasiam um dia ir morar no campo, instalar um coletor solar no telhado e cultivar a própria comida, embora não tomem nenhuma providência para isso”.

O que a Ecology Bilders e outras organizações estão propondo – e, em alguns casos, realizando – são cidades em que todos tenham à disposição a mais moderna tecnologia e ao mesmo tempo as vantagens de “morar no mato” – onde não precisar de carro seja sinônimo de altíssima qualidade de vida. Um dos exemplos mais impressionantes e emblemáticos é Masdar (“fonte”, em árabe), que começa a ser erguida sobre um dos solos mais ricos em petróleo do mundo.

A cidade, murada e totalmente ecológica, vai ocupar 6 km2 em pleno deserto a sudeste de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. Livre de automóveis, emissão de carbono e desperdício de energia, ela foi projetada pela fi rma inglesa Foster & Partners com o apoio, entre outros, do WWF – World Wildlife Fund e consumirá 22 bilhões dólares até fi car pronta, por volta de 2016, quando abrigará, entre habitantes e trabalhadores, mais de 60 mil pessoas e 1,5 mil empresas.

“Vamos mostrar ao mundo como as cidades do futuro devem ser construídas”, anunciou Sultan al Jaber, o executivo responsável pelo empreendimento. Um exemplo de sustentabilidade inspirador por vir de um país rico, “até agora famoso apenas pelos gastos extravagantes”, explica Jennie Organ, do BioRegional Development Group, parceiro no empreendimento.

Masdar será abastecida por energia eólica (captada em fazendas construídas em sua periferia) e solar (gerada na que será a maior usina fotoelétrica do mundo). A água virá de usinas de dessalinização e, depois de usada, servirá para irrigar plantações destinadas à produção de biocombustíveis e ao projeto de paisagismo. Uma cidade convencional do mesmo tamanho gasta 800 mW de energia, contra os 200 mW de Masdar,e o consumo de água será cortado em mais de 50%.

Em uma região em que as temperaturas podem chegar a 50o C, as ruas (estreitas, bem ventiladas e sombreadas)são um grande incentivo a caminhadas – os mais preguiçosos, porém, nunca terão a necessidade de andar delo de revitalização urbana.

Lá fi cará Greenwich Millennium Village, uma mini-ecocity com cerca de 3 mil casas e prédios comerciais ecologicamente sustentáveis.

No Brasil, tanto Richard Register como Jennie Organ concordam que Curitiba é o melhor (embora incipiente) exemplo de preocupação com a sustentabilidade por seu esforço em multiplicar as áreas destinadas a pedestres. Ambos também reconhecem a energia solar como a mais efi ciente para alimentar as cidades do amanhã. No uso dessa tecnologia, a Alemanha é o país que alcançou os melhores resultados, com destaque para Freiburg, a chamada Cidade do Sol. Considerada a capital alemã da ecologia, desde 1984 ela se prepara para chegar saudável ao futuro, implantando um projeto de sustentabilidade desenvolvido por Wulf Daseking. Hoje, mais da metade da energia gerada nela tem origem ecológica – um terço da qual produzido por biogás proveniente do reaproveitamento de resíduos biodegradáveis.

Outro excelente lugar verde para viver será a cidade de Vancouver, no Canadá, cujo plano-diretor se baseia na ecodensidade, o pilar dos novos projetos, que Brent Toderiam, o responsável pelo planejamento urbano, pretende adaptar às condições locais. Quando a população é concentrada nos lugares corretos, pode-se reduzir bastante o uso de carros e o gasto de energia, os principais responsáveis pelas mudanças climáticas. Porque ninguém precisa dirigir para chegar ao trabalho, ao cinema e ao shopping, que ficam uns ao lado dos outros e ao lado das casas, e porque a proximidade torna muito mais viáveis a coleta e o reaproveitamento de resíduos que podem acabar se transformando em luz e aquecimento.

Já na Suécia, se todos os cálculos derem certo, a geração da década de 2020 será a primeira a nascer numa sociedade auto-sustentável. A busca desse objetivo começou em 2004 por meio da Sustainable Sweden Tour, que vem construindo em praticamente todo o país pequenos e médios núcleos habitacionais. Um dos maiores projetos de desenvolvimento urbano é o Hammarby Sjöstad, em Estocolmo.

Localizado próximo ao lago Hammarby Sjö, trata-se de um bairro com construções planejadas, no total de 9 mil apartamentos e qualidade de vida invejável para as cerca de 30 mil pessoas que devem morar e trabalhar nele. Em meio a uma paisagem inspiradora, a largura das ruas, o tamanho das quadras, a altura dos prédios, a densidade de ocupação, a distribuição dos parques, enfi m, tudo foi planejado para garantir a permanente interação com a natureza e a luz solar adequada.

Na 7ª Conferência Internacional de Ecocidades, todos que estão construindo o futuro falaram do amanhã como algo ao alcance de quem tiver disposição para criar “as cidades de que o planeta precisa”, como defi ne Lalit Bhati, porta-voz de Auroville, cidade no sul da Índia, idealizada com o propósito de “realizar a unidade humana na diversidade”: uma espiral em fase de construção que parte de um núcleo central aberto que ao mesmo tempo separa e harmoniza os espaços residencial e industrial. Ou como a pioneira Arcosanti, um laboratório urbano que começou a ser construído em 1970 no deserto do Arizona pelo visionário arquiteto ítalo-americano Paolo Soleri.

Discípulo de Soleri, que considera o pai das cidades ecológicas e uma das maiores personalidades do século XX, Richard Register e seus seguidores acreditam que, para a humanidade se dar ao luxo de viver bem, as metrópoles do terceiro milênio devem usar toda a tecnologia disponível para oferecer cada vez mais aos habitantes o clima aconchegante de uma cidadezinha do interior.

(Por Márcia Lobo, Revista A - Maio e Junho/2008, UOL, 18/06/2008)


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