Uma grossa camada de gelo cobria os campos do Planalto Médio quando, às 6h30min de ontem, cerca de 500 policiais militares iniciaram o cerco aos dois acampamentos do MST em Coqueiros do Sul.
Vinham animados, embalados numa madrugada de preleções do próprio comandante da BM, coronel Paulo Roberto Mendes, e seu sub, o coronel João Carlos Trindade, que desde segunda-feira supervisionavam em Passo Fundo a concentração de tropas para a ação militar.
Os policiais destacados para agir são integrantes dos Batalhões de Operações Especiais (BOE) de Santa Maria, Porto Alegre e Passo Fundo, além de integrantes de unidades de cavalaria e de policiamento ambiental. Com exceção dos passo-fundenses, os demais pouco dormiram - ou não dormiram. Ainda era noite quando chegaram perto dos acampamentos Jandir e Serraria (cada um situado numa ponta da Fazenda Coqueiros). Desligaram os motores dos caminhões e caminharam devagar pelas trilhas. Quando amanheceu, os acampamentos estavam rodeados de militares.
Entorpecidos de frio e sonolentos, os acampados só perceberam a aproximação dos policiais quando o cerco estava consumado. Dispararam foguetes. O alerta serviu para acordar os militantes, mas não para impedir a chegada dos policiais. Com os brigadianos estavam quatro promotores estaduais, uma procuradora federal e uma juíza da Auditoria Militar, para fiscalizar possíveis abusos por parte dos PMs.
Sem-terra foram levados para área em Sarandi
Os policiais estavam preparados para o confronto, com escopetas, escudos e cães de guarda. Mas desta vez não houve enfrentamento. Talvez porque os líderes do MST não estivessem nos acampamentos. Talvez porque poucos homens estivessem nas barracas - no acampamento da Serraria, existiam mais crianças (51) do que homens (49). Os próprios acampados ajudaram os PMs a desmontar os barracos.
Como não possuíam mandados de busca e apreensão, os PMs evitaram vistorias nos barracos. À beira da estrada, junto ao acampamento Jandir, os policiais encontraram numa valeta duas espingardas calibre 32 que os policiais supõem pertencer aos sem-terra. Um foragido foi preso, no mesmo acampamento.
Ignorando que se tratava de uma ação planejada há tempo pelo Ministério Público, representantes do MST minimizaram a operação da BM.
- É uma cortina de fumaça do governo do Estado para desviar as atenções da investigação feita pela CPI do Detran - afirmou João Amaral, um dos líderes dos acampados em Coqueiros do Sul.
O advogado da família Guerra, Tailor Agostini, disse que os proprietários consideraram a ação positiva. E esperam a volta da tranqüilidade.
Ao todo, 363 acampados foram retirados. Em ônibus, eles foram transferidos para um acampamento em Sarandi, à beira da BR-386.
(Leandro Belles, Zero Hora, 18/06/2008)