O caso Chico Mendes marcou para sempre a carreira do magistrado Adair José Longuini, 55, que presidiu, em dezembro de 1990, o julgamento que condenou a 19 anos de prisão o fazendeiro Darly Alves da Silva e o filho dele, Darci Alves Pereira, como mandante e assassino do líder sindical e ecologista de Xapuri (AC).
Longuini trocou o Paraná pelo Acre tendo como sonhos a compra de terras e a carreira como advogado de banco. Seis anos depois, sem a menor experiência, teve que instruir o primeiro processo criminal de sua carreira como juiz, sob a vigilância da imprensa nacional e internacional interessada naquele crime que completará 20 anos no dia 22 de dezembro.
- Magistrado novo, há seis meses na carreira, sem prática advocatícia na área criminal, diante de um processo daquele, no início, em seguida a ação penal. Tive que me desdobrar, estudar mais para fazer o melhor - relembra Longuini em entrevista exclusiva a Terra Magazine.
O juiz dedicou-se tanto que virou professor de direito penal na Universidade Federal do Acre, onde o que ganha, segundo ele, não é suficiente sequer para pagar a gasolina do carro. Casado com a juíza Regina Longuini, pai de três filhos, foi eleito pelo critério de merecimento e tomou posse, em dezembro do ano passado, no cargo de desembargador do Tribunal de Justiça do Acre.
A carreira do desembargador chama a atenção pela firmeza em seguir uma linha de coerência. Além disso, Longuini realizou o velho sonho: é proprietário de duas fazendas, que somam aproximadamente mil hectares, onde cria um rebanho bovino com 1.100 cabeças. "A área que tenho é pequena para o padrão que impera na Amazônia, tanto que estou estacionado nessas 1.100 cabeças há oito anos. Para possuir um rebanho maior, teria que investir em tecnologia ou partir para a devastação de novas áreas", pondera.
Após 20 anos, o magistrado que presidiu o tribunal do júri de Xapuri dá a entender que Chico Mendes poderia estar vivo caso a Polícia Federal no Acre não tivesse aconselhado Darly a fugir quando o seringueiro apresentou uma carta precatória, expedida pelo juiz de Umuarama, solicitando a prisão do fazendeiro por crimes cometidos no Paraná.
Longuini não poupa a conduta de dom Moacir Grechi, ex-bispo do Acre, nem do delegado Mauro Spósito, ex-superintendente da PF no Acre, que chegou a ser acusado pelo próprio Chico Mendes, um mês antes do crime, de envolvimento no complô que planejava assassiná-lo.
- De qualquer forma decidi cumprir a precatória. Chamei o escrivão e falei: "Olha, não divulgue para ninguém: temos a carta precatória e vamos fazer a prisão de Darly. Você vai fazer o mandado dentro do meu gabinete e vamos chamar a Polícia Militar, que vai sair em campo para fazer a prisão". E assim fizemos, na surdina. Na hora que os policiais saíram já não encontraram mais o Darly. Ele já havia fugido. Pude concluir posteriormente que a própria Polícia Federal foi quem avisou Darly para que empreendesse fuga para não ser preso. Isso me deixou muito aborrecido. Fiz denúncia ao então diretor da Polícia Federal, Romeu Tuma, para quem enviei um extenso telegrama pedindo que o caso fosse apurado - afirma Longuini.
(Blog do Altino Machado, Amazonia.org.br, 17/06/2008)