Centenas de voluntários depositavam sacos de areia em diques do rio Mississippi, na terça-feira, enquanto as piores enchentes a atingir o Meio-Oeste dos EUA em 15 anos desferiam mais um golpe contra a economia norte-americana e o preço mundial dos alimentos. Um dique se rompeu em Gulfport (Illinois), fazendo com que a água barrenta da hidrovia mais importante do país inundasse áreas de cultivo e algumas casas. Ninguém ficou ferido, mas a autoridades fecharam uma ponte que leva a Burlington (Iowa).
Os preços do milho e da soja permaneceram perto de níveis recorde enquanto milhões de acres de plantações perdiam-se ou sofriam danos nos EUA, o maior exportador de grãos do mundo. Os preços da carne também dispararam, já que aumentou o custo envolvido na criação de gado, porcos e galinhas. "Enfrentamos algumas pressões neste ano, mas pode haver uma pressão ainda maior no próximo ano em termos de inflação dos alimentos e isso quando o preço da proteína animal começar a crescer", disse Bill Lapp, consultor do setor alimentício e ex-economista-chefe da Consagra.
O presidente norte-americano, George W. Bush, prometeu enviar ajuda para a região afetada, onde bilhões de dólares em terras de cultivo e negócios perderam-se. A região fica localizada no cinturão dos grãos dos EUA, o que deve colocar mais pressão inflacionária sobre os preços das comidas, do combustível e de outros produtos.
"Eu, infelizmente, tive de comparecer a muitos desastres durante meu mandato presidencial", afirmou Bush após um pronunciamento sobre as enchentes. No entanto, o senador Robert Byrd, um democrata da Virgínia Ocidental, disse que poucas medidas haviam sido adotadas pelo governo federal para evitar as enchentes e que Bush não tinha aprendido nada com o furacão Katrina e com outros desastres. "O presidente Bush já declarou que investir nas necessidades dos EUA é em certa medida 'um desperdício', e seu Orçamento, que não acrescenta um único centavo para a melhoria dos diques, reflete essa convicção", disse Byrd.
Em Quincy, cidade cuja maior parte fica em um terreno elevado situado ao lado do Mississippi, autoridades organizaram uma grande operação para evitar o que deve ser o nível recorde a ser atingido pelo rio no próximo fim de semana. Em 1993, um dique danificado provocou uma grande enchente. "Temos uma enorme parede de água vindo na nossa direção", afirmou o prefeito da cidade, John Spring. "As enchentes fazem parte da vida das pessoas que moram ao longo do rio. Mas, desta vez, estamos mais preparados para isso."
Roger Sutter, o encarregado da operação de colocação de sacos de areia e construção de diques, disse que essa parte da tarefa estava completa, fornecendo uma proteção de cerca de meio metro acima do nível que o rio, segundo previsões, atingiria. Centenas de membros da Guarda Nacional, prisioneiros e voluntários participavam dos esforços de colocação dos sacos de areia, algo que se repetiu em todo o Meio-Oeste --muitas vezes sem sucesso.
"O que temos de fazer agora é ficar de olho nisso e garantir que não haja nenhum vazamento", acrescentou Sutter. Comparações foram feitas com as grandes enchentes de 1993, que provocaram mais de 20 bilhões de dólares em prejuízos e 48 mortes no Meio-Oeste. As enchentes deste mês deixaram algumas mortes, fazendo de Iowa o Estado mais atingido. Mas os danos ainda precisam ser calculados.
(Por NICK CAREY, REUTERS, 17/06/2008)
(Reportagem adicional de Lisa Shumaker, Peter Bohan e Christine Stebbins em Chicago e David Alexander em Washington)