Sem nenhuma atitude das autoridades, a situação no município de Jaguaré, norte do Estado, é cada vez mais grave. Na região, continuam os despejos aéreos de agrotóxico. Além disso, fazendeiros pretendem comprar seu próprio avião para a atividade. Sem ter para onde correr, camponeses reclamam que foram abandonados pelo poder público.
"Solicitamos uma audiência pública não só para Jaguaré, mas para toda a região, que vem sendo atingida pelo problema, mas as autoridades ficaram de marcar uma data e isso não ocorreu. O clima de revolta está crescendo, as famílias se preocupam principalmente com as crianças e com os idosos", ressaltou Dorizete Cosme, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
Segundo ele, os despejos aéreos de agrotóxico continuam mesmo depois das denúncias realizadas. O MPA afirma que já foram protocoladas denúncias na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Agricultura, no Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf), Polícia Ambiental, e o pedido de audiência pública para discutir o problema ao Ministério Público Estadual (MPE).
Como nada foi feito, uma articulação está sendo formada na região, entre representantes das Igrejas Católicas e Evangélicas, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, das Escolas Agrícolas Familiares, Associação de Agricultores, o próprio MPA, entre outros. O objetivo é divulgar para a população a gravidade do problema.
Ao todo, mil assinaturas já foram coletadas em protesto ao despejo indiscriminado de agrotóxico na região. A lista irá circular por mais 15 dias, até ser entregue às autoridades. Além disso, um panfleto começa a circula na próxima semana em Jaguaré, relatando os casos ocorridos, como o lançamento indiscriminado sobre residências, escolas e plantios agroecológicos, alertando para o perigo destes venenos.
O problema também atinge outros municípios do norte e já há registros de contaminação entre a população. Aviões foram também empregados em Vila Valério e Linhares. Os agricultores denunciam que os venenos lançados nos cafezais, de norte a sul do município, contaminaram gente e atingiram ainda áreas próximas à Reserva Biológica de Sooretama.
Os venenos lançados sobre estas comunidades produzem doenças, entre as quais alguns tipos de câncer, redução da imunidade e doenças genéticas. Provocam impotência sexual (que pode levar ao suicídio) e frigidez. Ao todo, os venenos agrícolas usados na produção de alimentos intoxicam 500 mil brasileiros por ano e, dos intoxicados, cerca de 10% ficam definitivamente incapacitados para o trabalho, o que totaliza uma perda de 50 mil trabalhadores/ano no país.
Uso de venenos é indiscriminado no Estado
O Espírito Santo é o terceiro no país no consumo por pessoa dos venenos agrícolas. Os venenos são chamados pelas empresas de "defensivos agrícolas", porém, são capazes de causar câncer, reduzir a imunidade e levar à depressão. Se não for a causa, o trabalho com os venenos agrícolas é pelo menos uma das causas principais dos suicídios dos agricultores. Os agricultores, instados a usar os venenos agrícolas por intensiva propaganda das empresas, com total omissão do Poder Público, se intoxicam e se tornam impotentes. As mulheres se tornam frígidas. Depressivos, os homens se matam.
Ainda assim, as transnacionais dos agroquímicos faturaram no Brasil em 2006 US$ 3,9 bilhões. São empresas que se interligam vendendo agrotóxicos, adubos e sementes. Destas, agora, algumas são transgênicas. Os nomes das transnacionais são conhecidos, como as outras, menos cotadas, que podem ser vistas nos sites oficiais de sua classe: Bayer Cropscience Ltda, Dow Agrosciences Industrial Ltda, DuPont do Brasil S.A., Monsanto do Brasil S.A., Laboratórios Pfizer Ltda.; Rhodia Brasil Ltda; Syngenta - Proteção de Cultivos Ltda.
(Por Flávia Bernardes, Século Diário, 17/06/2008)