Consolidar um sistema de produção em escala e desenvolvimento de tecnologias de conversão de biomassa florestal em energia é o objetivo do projeto Florestas Energéticas, que reúne mais de 70 empresas públicas e privadas em todo o país, sob a liderança da Embrapa Florestas (Colombo-PR). No Rio de Janeiro, a equipe envolvida na obtenção de derivados energéticos esteve reunida entre os dias 11 e 13 de junho para discutir o andamento das atividades e os gargalos que comprometem a adoção de tecnologias pelo setor produtivo.
O projeto teve início em setembro de 2007 e prevê a indicação de materiais genéticos, aumento da oferta de sementes, melhoria das características da madeira e aproveitamento da silvicultura específica para produção de energia. Além disso, há pesquisas para obtenção de biocombustíveis (álcoois, aldeídos e cetonas) em rotas bioquímicas e termoquímicas.
No tratamento de resíduos agroindustriais (rota bioquímica), existem oportunidades de produção de etanol por hidrólise de material lignocelulósico. O processo libera os açúcares fermentáveis contidos na celulose devido à ação de enzimas produzidas por fungos. Quando resolvido os gargalos tecnológicos, esse processo poderá dobrar a produção atual de etanol apenas com o aproveitamento de madeiras e resíduos agroindustriais.
Hoje, os gargalos tornam a produção de enzimas hidrolíticas onerosa. O custo varia de US$ 0,30 a US$ 0,50 por galão de etanol. Para ser viável ao setor produtivo o valor tem que cair para cerca de US$ 0,05.
Nessa perspectiva, a Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro/RJ), a Embrapa Agroindústria Tropical (Fortaleza/CE), a Embrapa Agrobiologia (Seropédica/RJ), a Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju/SE), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) investigam a caracterização e o melhoramento genético de fungos e bactérias produtores de enzimas.
“A idéia é obter um microorganismo com alto potencial de síntese de enzimas hidrolíticas”, explicou Sônia Couri, da Embrapa Agroindústria de Alimentos. Até o momento dois fungos destacam-se: Aspergilllus niger 3T5B8 e Lasidiploidia therobromae CNPAT 038, oriundos de espécies vegetais. Outros 400 serão analisados até o final do ano.
Ao mesmo tempo, uma outra linha de pesquisa conduzida pela Escola de Engenharia de Lorena/USP busca o pré-tratamento da biomassa por explosão a vapor para potencializar a ação de enzimas. Basicamente, a biomassa é composta por celulose, hemicelulose e lignina. De acordo com o pesquisador Flávio Teixeira da Silva, o pré-tratamento retira as hemiceluloses. Com isso, uma maior quantidade de celulose fica disponível para hidrólise (processo resultante da ação de enzimas que libera açúcares para fermentação e produção de etanol). O processo precisa chegar a protótipos piloto em parceria com empresas privadas.
Aliás, a participação de empresas privadas, com apoio da Finep, viabiliza os testes de equipamentos em escalas de bancada, semipiloto e piloto, como por exemplo, os biorreatores para o sistema de fermentação desenvolvidos pela Embrapa Instrumentação Agropecuária (São Carlos/SP). Essas empresas terão privilégio na etapa de transferência de tecnologia quando os processos estiverem plenamente ajustados.
O desenvolvimento de equipamentos e processos para a produção de biocombustíveis também é um dos campos de atuação da Embrapa Agroenergia (Brasília/DF) que apresentou junto com a Unicamp o processo de pirólise rápida de biomassa. Nesse processo, a biomassa é submetida a temperaturas superiores a 500◦C que degrada termicamente o material produzindo gás síntese e bio-óleo. O bio-óleo é um combustível renovável que tem várias aplicações como insumo químico e fonte de energia, podendo substituir aplicações dos derivados de petróleo.
De acordo com o pesquisador Antonio Francisco Jurado Bellote, da Embrapa Florestas, as florestas energéticas são uma grande opção para a matriz energética do país, pelas excelentes condições edafoclimáticas existentes, pela competência instalada e pelo acervo de material genético existente, além de ser ambientalmente mais adequada por apresentar balanço nulo no efeito estufa e ser uma excelente fixadora de carbono. A intermitência de políticas públicas, a influência das mudanças climáticas e o estágio tecnológico inferior em relação a outras matrizes, como petróleo e hidroelétrica, são citadas como desvantagens para a sua consolidação.
Por outro lado, a busca por alternativas é uma demanda mundial. Florestas energéticas e resíduos agroindustriais são fontes renováveis, o Brasil tem competência em práticas silviculturais e na cadeia agroindustrial instalada. “É uma questão de tempo para que os gargalos sejam resolvidos mantidas as condições atuais de incentivo e investimento no setor agroenergético”, frisou Bellote.
(
Celulose Online, 17/06/2008)