O presidente da República e seu ministro da Fazenda parecem estar iniciando uma campanha para mostrar que a inflação atual - que ambos consideram que deverá se reduzir - não representa uma ameaça ao crescimento econômico sustentável. Engano. Ela representa uma séria ameaça à sustentabilidade do crescimento, e outros fatores poderão acrescentar-se.
A pesquisa Focus mostra-se menos otimista do que o ministro Mantega com respeito a uma rápida redução da taxa de inflação (IPCA): a cada semana as projeções dos entrevistados se tornam mais negativas, pelo menos até 2010; em compensação, mantém-se a projeção otimista para a taxa de crescimento do PIB, embora nunca igual à do governo, de 5%.
Quando se constata que o mercado, a cada semana, revê para cima sua projeção para o IPCA, é hora de lembrar do efeito da inflação inercial, que está contribuindo para fortalecer a alta.
Como a política econômica do governo do PT se baseou numa expansão voluntarista do consumo e a inflação já começa a inibi-lo, é de temer que o dinamismo da economia seja afetado. Caberia, pois, substituir os incentivos artificiais ao crescimento do consumo por um aumento da poupança pública que permitisse reduzir os gastos correntes e favorecer investimentos em infra-estrutura, se possível com a ajuda do setor privado.
Uma redução dos gastos correntes que permitisse chegar a um déficit nominal zero teria o efeito de reduzir também os gastos do governo com juros e aumentar sua capacidade de investimento.
Se a política fiscal tem importantíssimo papel na obtenção de crescimento sustentável, há que se lembrar de outros fatores que podem ameaçar esse objetivo: o déficit das contas correntes do balanço de pagamentos e o insuficiente progresso tecnológico do País.
O mercado projeta um crescimento do déficit das transações correntes que poderá exigir medidas que reduzem o crescimento econômico (por exemplo, obstáculos à importação). Por isso é preciso incentivar a exportação de produtos manufaturados, o que, por sua vez, exige avanços no conteúdo tecnológico dos produtos brasileiros exportados.
Não é hora de tentar evitar a entrada de capitais estrangeiros, que não são especulativos, mas sim de estimular a pesquisa para o desenvolvimento.
Não é fácil, pois, contornar as dificuldades para um crescimento sustentável.
(O Estado de S. Paulo, 16/06/2008)