A mudança climática está causando transtornos sanitários na Europa, devido a novas e prolongadas manifestações alérgicas, alertam as autoridades. A mais importante das “novas” alergias que afetam a saúde da população européia é a causada pela ambrósia comum (Ambrosia artemisiifolia), uma erva que desencadeia a chamada “febre do feno”. A planta, que chega a um metro de altura, é nativa da América do Norte, mas foi levada à Europa há várias décadas, segundo biólogos e autoridades sanitárias da Alemanha. Devido às temperaturas mais altas dos últimos tempos, se propagou por este país, França, Hungria e Itália, entre outros.
Seu pólen causa em muitas pessoas a febre do feno, que se caracteriza por espirros, nariz úmido, coceira nos olhos e fortes ataques de asma e conjuntivite. Também foram registrados casos de infecções cutâneas por contato com a ambrósia. “Como floresce no verão, e até outubro, está prolongando pelo menos em dois meses a temporada européia considerada normal de alergias”, disse à IPS o meteorologista Thomas Duemmel, da Universidade Livre de Berlim. Para este especialista, outras plantas alérgicas, como a bétula , o avelaneiro e a castanha da Índia florescem no começo da primavera e até meados de maio.
Ao somar-se à ambrósia, a temporada de alergias começa em princípios de março e pode se estender até outubro. “As temperaturas mais altas aumentaram o período de floração de todas estas plantas, piorando as afecções alérgicas de milhões de pessoas”, disse Duemmel. A proliferação da ambrósia é preocupante “porque uma única árvore pode produzir até um bilhão de partículas de pólen que, com a ajuda do vento, chegam a se espalhar por centenas de quilômetros”, acrescentou.
“Temos de frear isto, porque a planta produz um dos polens mais alérgicos que se conhece”, afirmou à IPS o biólogo Stefan Nawrath, especialista em ambrósia do Instituto para a Ecologia, a Evolução e a Diversidade, da Universidade de Frankfurt, 450 quilômetros ao sul de Berlim. “Dez grãos de pólen de ambrósia por metro cúbico de ar são suficientes para causar dores de cabeça, rinite e inclusive asma”, acrescentou. O estatal Instituto Julius Kühn para a pesquisa em botânica informou que a ambrósia é “a planta da América do Norte que mais causa alergia”;.
Em uma pesquisa, o Instituto afirma que, “devido ao seu florescimento tardio, é infértil em regiões mais frias do mundo, e, portanto não pode proliferar”. Devido às altas temperaturas associadas à mudança climática, “é importante pesquisar quais condições climáticas tornam possível a fertilização das sementes de ambrósia”, acrescenta. Estas preocupações sanitárias são tão sérias que várias agências de salubridade da Alemanha aprovaram um plano para exterminar a ambrósia. Em algumas regiões da França e da Itália, pelo menos 12% da população são alérgicos ao pólen da ambrósia. Além disso, “pode ser uma praga para a agricultura, porque reduzi a produtividade dos campos”, explicou Nawrath à IPS. Na Alemanha, a incidência de alergias causadas pela mudança climática aumentou acentuadamente desde o pós-guerra.
Informes oficiais indicam que a porcentagem da população do ocidente da Alemanha que sofre da febre do feno ou de outras formas de polinosis passou de 20% entre os nascidos no período de 1942 a 1951, para 27% entre os nascidos de 1962 a 1971. a Sociedade Alemã de Alergologia e Imunologia vai mais além, pois estima que atualmente um terço da população do país sofre alguma forma de alergia. Em seu “Livro branco sobre alergias na Alemanha”, a entidade afirma que estas enfermidades “aumentaram drasticamente nos últimos anos. Agora, as mortes causadas por asma alérgica são mais numerosas do que as causadas por acidentes de trânsito”.
O aumento está necessariamente vinculado às mudanças no meio ambiente, disse Heidrun Behrendt, diretora de pesquisas sobre alergia e imunologia na Universidade Técnica de Munique, 500 quilômetros a sudeste de Berlim. “A predisposição genética às alergias não pode crescer substancialmente dentro de uma determinada população. Portanto, temos que buscar explicações para o aumento das doenças alérgicas nas mudanças ambientais”, disse Behrendt em uma entrevista.
A especialista e sua equipe de pesquisadores descobriram que os sinalizadores celulares lipido-dependentes do pólen (conhecidos pela sigla alemã Palms) desencadeiam a doença ao provocar a interação entre o pólen alérgico e partículas químicas contaminantes presentes no ar, como as emitidas pelos meios de transporte. “Pudemos demonstrar que os grãos de pólen e os contaminantes do ar liberam Palms, e isso explica o aumento das alergias”, disse Behrendt. Segundo o estudo, os Palms ativam as células infectadas e eliminam as células que permitem a imunização do organismo humano, abrindo caminho para as alergias. Isto explicaria o motivo de muitas pessoas sofrerem mais alergias em zonas de muita contaminação do ar, sejam aéreas com um intenso trânsito de veículos ou próximas de indústrias químicas.
(Por Julio Godoy, Envolverde, IPS, 16/06/2008)