Cerca de 100 agricultores ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam hoje a sede da superintendência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Recife, Pernambuco. De acordo com o integrante da direção estadual e líder da ação, Alexandre Damásio, a ocupação é por tempo indeterminado, e amanhã eles devem trancar o prédio, impedindo a entrada de funcionários. Para isso, afirmou aguardar o reforço de mais agricultores ligados ao movimento.
Eles impediram a entrada e a saída de servidores do Incra por duas horas. Depois liberaram os portões, condição imposta pela superintendência para o diálogo. Mas ninguém da diretoria apareceu, até o início da noite, para conversar com os manifestantes, que espalharam cana-de-açúcar pela sede do órgão, subiram em cadeiras e tocaram zabumba.
Eles querem o desmembramento de 18 dos 45 engenhos da antiga Usina Catende, localizada no município de Catende, na zona da mata pernambucana, e a imediata liberação de crédito de fomento para esta área. A usina Catende teve falência decretada em 1995 e sua administração foi assumida pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco (Fetape) em conjunto com sindicatos de trabalhadores rurais dos municípios da região.
ProjetoNa área de 26 mil hectares, foi implantado o Projeto Harmonia, que funciona em cooperativa, baseado na produção de cana-de-açúcar, mas também piscicultura e pecuária. São 3,5 mil assentados no campo e 400 ex-operários. O MST condena o modelo adotado pela Fetape.
"Defendemos a agricultura familiar e não a monocultura da cana", diz Damásio, ao afirmar que 1,6 mil trabalhadores do MST estão ligados aos 18 engenhos.
Para o diretor de política agrária da Fetape, Paulo Roberto Rodrigues dos Santos, o grupo ligado ao MST não representa 1% do projeto, que é coletivo. Segundo ele, o MST arregimenta trabalhadores de outros acampamentos e assentamentos para comprar essa briga com a Fetape.
"O MST não tem proposta produtiva e, numa área sem conflitos administrada por trabalhadores, quer introduzir o conflito de forma artificial", afirma o advogado da cooperativa, Bruno Ribeiro.
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A Tarde, 16/06/2008)