Artista capaz de transformar tênis em cadeira é chamado de redesigner; em NY, proposta virou um sucesso
Esqueça as simpáticas bolsas feitas de lacre de latinha de alumínio ou mesmo os brinquedos de pet, caso essa seja a primeira imagem formada ao se falar em reciclagem. Há uma parcela de objetos construídos a partir de matéria-prima reciclada que migrou do artesanato para o design. Além de mais bem acabados, ficaram mais caros e disputados. Vários artistas conhecidos se engajaram nesse movimento, butiques especializadas foram abertas e até exposições passaram a pipocar no exterior. Ter uma peça dessas virou fashion.
Tem até termo novo no mercado. O artista plástico Rodrigo Almeida - capaz de transformar tênis em cadeira e um frasco de amaciante em um abajur - passou a ser chamado de redesigner. Ele costuma participar do Salone del Móbile, um dos eventos italianos mais importantes de design. “Trabalhar com material reciclado não é simples nem barato. Muitas vezes preciso desenvolver tecnologia para transformar o material”, diz Rodrigo, brasileiro radicado em Nova York.
No mês passado, ele participou de uma exposição nova-iorquina, ao lado de outros redesigners brasileiros como Claudia Araújo, uma grife na área de tapetes, que está no ramo desde 1997, quando abriu sua tecelagem. Com estrutura pequena de uma fábrica com 22 teares, Claudia investiu na produção de tramas exclusivas. E o material reciclado prometia ser um caminho.
O primeiro produto foi o tapete cabeludo, a princípio feito com sobras de lycra, que viravam lixo nas confecções de biquínis. O material recolhido era trabalhado do mesmo jeito que o fuxico, preso um a um à base. Um tapete redondo de 60 cm de diâmetro levava dois dias para ficar pronto.
Nessa época, Claudia pagava o quilo da sobra R$ 1,70. Hoje, custa R$ 28,50. “Ficou inviável fazer um reciclável barato”, diz Claudia. O problema não foi só esse. O tapete fez tanto sucesso, que a fábrica não tinha matéria-prima suficiente para atender aos pedidos. “Comprei lycra e retalhei o tecido para fazer os tapetes.” E o princípio do reciclado foi pelo ralo.
Com a Lei Cidade Limpa, um outro material apareceu no mercado, a lona impermeável de outdoors, que foram retirados do cenário. Ela virou sacolas coloridas, com estampas que não se repetem. “No início praticamente ganhava o material. Pagava um preço simbólico”, diz a estilista Jaci Abe, que teve uma confecção na década de 90. “Quando os meus fornecedores viram as sacolas, o preço subiu.”
As sacolas de Jaci já podem ser compradas em lojas nova-iorquinas por US$ 75. “O produto feito com material reciclado não é necessariamente barato, principalmente quando se trata de um produto mais elaborado em design e processo”, diz a brasileira Zoë Melo, radicada nos EUA, dona de uma empresa de consultoria de design, a Touch. Em agosto, ela abrirá seu primeiro showroom em Los Angeles só com produtos de material reciclado e socialmente corretos. “Teremos designers brasileiros, portugueses e argentinos, entre outros.”
(Por Valéria França, O Estado de São Paulo, 16/06/2008)