Pesquisadores da França, Estados Unidos, Japão e Inglaterra mostraram-se preocupados com a situação da mina de amianto abandonada, no município de Bom Jesus da Serra, a 470 km de Salvador. Eles visitaram o local, na última sexta-feira, 15, após encontrarem-se com ex-trabalhadores e líderes do movimento pelo banimento do amianto no País e pela indenização de pessoas contaminadas com a fibra mineral que é usada em produtos de fibrocimento como telhas e caixas d’água.
A pesquisadora francesa e PhD em sociologia do trabalho, Annie Thébaud-Mony disse que a situação é grave e classificou como “um crime de responsabilidade da empresa” (Sama), que, na época, pertencia ao grupo françês Saint Gobain. “Venho me solidarizar. Sou francesa, e sei que esta empresa fez muitas mortes em muitos Países”.
Ela afirmou que a Justiça brasileira deveria obrigar os responsáveis a fazer a recuperação ambiental para acabar com o risco que a mina ainda representa e a indenizar os contaminados. “Eles têm grande responsabilidade com as vítimas e não podem fugir disso”, afirmou.
Ao reconhecer o local que conhecia de fotografias e filmes, a coordenadora da Internacional Ban Asbestos Secretariat (entidade que reivindica o banimento do amianto no mundo), Laurie Kazan-Allen, classificou como “perigosa” a situação. “As fibras estão no ar”. Ela comparou o que viu na Bahia com Prisca, na África do Sul, onde há minas de amianto abandonadas e com rejeitos expostos e milhares de ex-trabalhadores e moradores vizinhos com doenças relacionadas à aspiração das fibras.
Também participaram da visita o Phd em Saúde Pública e consultor de meio ambiente dos Estados Unidos, Barry Castleman e o coordenador da Ban Asbestos of Japan, que atua pelo banimento do amianto no Japão, Sugio Furuya.
A promotora da visita, a presidente da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto, Fernanda Giannasi, voltou a afirmar que o caso da mina de Bom Jesus da Serra pode ser considerado como uma “catástrofe ambiental e sanitária”. Dizendo-se irritada com a falta de providências para a remediação da situação, ela queixou-se de não se ter colocado pelo menos placas para indicar o risco do local.
A mina foi explorada por cerca de 30 anos e há 40 foi desativada. Os rejeitos estão expostos em uma área de 300 hectares. Como as doenças do amianto levam até 40 anos para se manifestar, somente a partir da década de 90 é que os casos de ex-trabalhadores contaminados começaram a surgir. Os trabalhadores não usavam nenhuma proteção e a empresa alega que na época não se tinha conhecimento dos malefícios do amianto.
Segundo socióloga Annie Thébaud-Mony, que é autora de livros sobre a história do amianto, os primeiros estudos que mostravam a relação do amianto com doenças graves como o câncer, que levou à morte de trabalhadores franceses, foram divulgados em 1906.
“E eles não fizeram nada”, disse, se referindo aos donos das indústrias. O mesotelioma, que é um tipo de tumor maligno diretamente relacionado com a aspiração das fibras e que pode se manifestar até 45 após o contato com amianto foi descoberto na África, na década de 50, entre trabalhadores de minas de amianto, segundo Annie.
Apoiado em um cajado feito de vara da caatinga, o ex-trabalhador Edson Ribeiro de Melo, de 79 anos, esperava a apresentação dos pesquisadores no pátio do centro educacional vitorinojosé alves. Ele recordava-se do tempo em que trabalhou na mina. “Trabalhamos inocentes. Não deram nenhum amparo para o pó, nem para os pés, nem para a respiração”, disse, referindo-se às condições de trabalho e ao desconhecimento.
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A tarde - 15/06/2008)