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hidrelétrica de belo monte consumo de energia
2008-06-16

A região amazônica vem batendo seguidamente recordes de demanda instantânea de energia, conforme os registros do Operador Nacional do Sistema. O último, até o fechamento desta edição, foi no dia 20 do mês passado, quando seus reservatórios estavam com quase 99,7% da sua capacidade de armazenamento de água, no auge do inverno. Às 18h52 desse dia, o consumo no norte do país alcançou 4.197 megawatts, deixando para trás o recorde anterior, registrado na véspera, de 4.182 MW. Nesse mesmo momento a demanda de energia em todo o Brasil também era recorde, com 65.019 MW. Mas a maior marca nacional anterior foi atingida num espaçamento maior do que a amazônica, em 11 de abril. A causa geral dos recordes, segundo o ONS, foram as altas temperaturas registradas em todo o território nacional.

No Norte o recorde teve uma causa adicional: nesse dia estava praticando um "elevado intercâmbio" com as regiões Nordeste e Sudeste: transferia para elas nada menos do que 3.180 MW. Como conseqüência, aumentaram as perdas na rede de transferindo do subsistema. Além disso, o ONS observou que houve acréscimo de carga no ponto de medição da Albrás e da Alunorte em torno de 31 MW médios em relação ao último recorde verificado, além dos acréscimos de carga nos demais consumidores industriais.

O recorde de consumo ocorreu exatamente no dia em que os índios kayapó atacaram o engenheiro Paulo Rezende, responsável pelos estudos da hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira. A coincidência devia recomendar cautela, discernimento e lucidez na análise da questão energética na região. A Amazônia contribui com quase 9% da geração nacional de energia. A usina de Tucuruí responde por 80% dessa potência.

No dia do recorde de consumo, quase metade da geração energética da região foi transferida para o Nordeste e o Sudeste. De pouco mais da metade usada internamente, acima de 50% foram absorvidos pelas duas fábricas de alumínio, a Albrás, em Barcarena, e a Alumar, em São Luís, os maiores consumidores individuais do Brasil (com 3% do total). A outra metade foi partilhada por 25 milhões de habitantes, em suas residências e locais de trabalho, pagando uma energia muito mais cara do que os dois empreendimentos eletrointensivos, que têm direito a tarifas incentivadas. Metade desses 3 mil MW tem origem térmica, à base de óleo diesel e gás.

Esse é o marco de referência a considerar na hora de definir o que se pretende fazer com a energia já disponível e com aquela que precisa ser adicionada ao potencial instalado. A manifestação dos índios é um dos componentes nessa equação, de relevância, enquanto intérpretes autorizados e qualificados a falar sobre o mundo da natureza. Mas não podem ser considerados como a única voz, a decisória. Eles próprios precisam ponderar sua vontade pela realidade maior, se não quiserem ficar sós ou criar elementos para uma negociação que acabará não servindo ao interesse coletivo, nem ao sentido do verdadeiro progresso da região. Precisam obter informações, checá-las, aplicá-las ao seu mundo e encontrar um denominador comum, o que, evidentemente, pressupõe sua consulta e audição.

A usina de Belo Monte é um elemento estranho e agressivo ao modo de vida deles e à própria região que habitam. Mas os tupis, os caraíbas e os aruaques também foram (e continuam a ser) invasores das terras dos jês, grupo ao qual os quais os kayapós pertencem. Nem por isso se vai aceitar que prossigam as escaramuças do passado, quando eles eram os únicos que disputavam o domínio do que hoje é conhecida (impropriamente, aliás) como Amazônia.

As frentes lançadas sobre o sertão pelos brancos colonizadores são incomparavelmente mais perigosas e destruidoras. Tribos como a dos kayapós têm se tornado uma barreira à expansão dessas hordas agressivas e um sustentáculo da integridade do espaço original, à espera de melhor conhecimento para uso mais nobre. No entanto, a vontade dos índios não tem sido suficiente para conter essas frentes da mesma maneira como vêm conseguindo em relação a Belo Monte.

Na simulação que fez recentemente, através de um poderoso software de computador, o "SimAmazônia", o LBA (Programa da Grande Esfera-Atmosfera da Amazônia, o maior empreendimento científico sobre a região) chegou à conclusão de que, mantida a tendência atual de desmatamento, em 2050 a bacia do Xingu terá perdido dois terços da sua vegetação. Isto é, sem considerar o efeito Belo Monte, que poderá incrementar ainda mais essa tendência, mas traz consigo também a possibilidade de se examinar e reenquadrar a questão, que as outras frentes não oferecem.

A combinação do voluntarismo guerreiro dos índios, enfático entre os kayapós, e certa intolerância marcante entre seus aliados brancos, individuais ou institucionais, que manejam a verdade como se ela fosse parte de uma tábua das leis, só acessível a eles, os escolhidos, pode até sepultar o projeto da hidrelétrica, que até hoje não foi convincente, mas não refará a realidade, que prossegue e prosseguirá por outros caminhos. Provavelmente piores.

(Por Lúcio Flávio Pinto *, Adital, 12/06/2008)
* Jornalista


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