A China superou nitidamente os Estados Unidos como maior emissora mundial de dióxido de carbono, o principal gás causador do efeito estufa. Segundo um novo estudo, as emissões da China aumentaram 8% em 2007. Esta elevação respondeu por dois terços do aumento das emissões globais de gases causadores do efeito estufa no ano passado.
O relatório, divulgado na sexta-feira (13/06) pela Agência de Avaliação Ambiental da Holanda, revelou que em 2007 as emissões da China foram 14% superiores às dos Estados Unidos. No estudo referente ao ano anterior os pesquisadores descobriram que pela primeira vez a China tornou-se o principal emissor, com um volume de emissões de carbono 7% superior ao dos Estados Unidos.
Muitos especialistas mostraram-se céticos em relação ao estudo anterior, cujos resultados foram menos exatos do que aqueles divulgados na sexta-feira. No ano passado a Agência Internacional de Energia (AIE) continuou afirmando apenas que havia uma projeção segundo a qual a China superaria os Estados Unidos por volta do final de 2007. Agora há pouca dúvida quanto a isso.
"A diferença aumentou para 14%, e este número é de fato muito grande", afirma Jos Olivier, cientista da agência holandesa. "Hoje em dia este índice é tão grande que se trata de uma conclusão bastante robusta". É provável que as emissões da China continuem crescendo substancialmente nos próximos anos porque elas estão vinculadas ao forte crescimento econômico do país, e à sua mistura específica de recursos energéticos e indústrias, dizem os pesquisadores.
A China depende bastante do carvão e o país cresceu mais em alguns dos setores industriais mais poluentes do mundo: cimento, alumínio e cerâmicas. Estima-se que 20% das emissões da China originem-se das suas fábricas de cimento, essenciais para o boom do setor de construção civil do país e que provavelmente continuarão funcionando a todo vapor neste ano, devido aos preparativos para as Olimpíadas e às obras de reconstrução após o devastador terremoto do mês passado.
As conclusões da agência holandesa baseiam-se em informações recentemente publicadas sobre a produção de cimento e o uso de energia da companhia petrolífera BP.
Os Estados Unidos ainda tem uma grande liderança em termos de emissões de dióxido de carbono per capita. O norte-americano médio é responsável por 19,4 toneladas anuais deste tipo de emissão. A média de emissões per capita na Rússia é de 11,8 toneladas, na União Européia de 8,6 toneladas, na China de 5,1 toneladas e na Índia de 1,8 tonelada.
Os especialistas dizem que os novos dados ressaltam a importância de fazer com que a China assine qualquer novo acordo sobre o clima global. Nem a China nem os Estados Unidos participaram do atual tratado para a redução de emissões, o Protocolo de Kyoto, que expira em 2012, e que deverá ser substituído por um novo acordo a ser assinado em Copenhague no final de 2009.
Na sexta-feira, em Bonn, na Alemanha, 2.000 lideranças mundiais concluíram duas semanas de negociações sobre o tipo de acordo que substituirá o Protocolo de Kyoto. Os líderes da Organização das Nações Unidas (ONU) disseram a eles que "entrassem no ritmo".
"Faltando pouco mais de um ano para Copenhague, o desafio para que se chegue a tal acordo continua sendo enorme", afirma Yvo de Boer, secretário-executivo do Conselho da Convenção sobre Mudança Climática da ONU. No final do ano passado, um painel da ONU formado por especialistas científicos advertiu que o mundo conta com apenas alguns anos para reverter a tendência de aumento de emissões a fim de evitar as graves conseqüências do aquecimento global, que vão da elevação do nível dos oceanos ao desaparecimento de espécies biológicas.
"Todos reconhecem que nós só chegaremos a uma resposta ao encararmos os desafios em todos os países, incluindo a China", afirma de Boer. Mesmo assim, ele acrescentou que a China vem "agindo progressivamente para implementar políticas ambientais" nos últimos 12 meses, tendo feito planos para o fechamento de indústrias altamente poluentes de pequeno e médio porte e para a busca de fontes mais alternativas de energia.
Orville Schell, diretor do Centro de Relações Estados Unidos-China, na Sociedade da Ásia, em Nova York, afirma: "O estudo holandês foi uma espécie de previsão do que está por vir, ou seja, a proeminência incontestável da China em termos de crescimento rápido das emissões de gases criadores do efeito estufa".
A Sociedade da Ásia deu início a uma iniciativa bilateral relativa à mudança climática que inclui grupos como o Centro Pew de Estudo das Mudanças Climáticas Globais e que envolve líderes dos dois países, incluindo Al Gore. "Não poderá haver uma solução para as questões referentes à alteração climática global sem que a China esteja integralmente envolvida", alerta Schell. Mas ele acrescenta que, a menos que os Estados Unidos assumam novos compromissos, os líderes chineses não se envolverão mais intensamente com esta iniciativa.
Os pesquisadores holandeses afirmaram que há sinais de que a curva de aumento de emissões por parte da China será um pouco menos acentuada neste ano, embora eles ainda prevejam um rápido crescimento. As emissões chinesas subiram 8% em 2007, comparados aos mais de 11% anuais nos dois anos anteriores. Em comparação, as emissões nos 15 Estados membros originais da União Européia caíram 2% em 2007, embora Olivier, da agência holandesa, observe que esta queda foi pelo menos em parte provocada por um inverno mais quente, que reduziu a necessidade de aquecimento.
Mas com os elevados preços do petróleo e do gás neste ano, há quem seja favorável ao aumento das emissões no futuro. Os elevados preços do petróleo fizeram com que ressurgisse o interesse pelas usinas termoelétricas a carvão para o setor industrial. Essas usinas são bastante poluentes.
Segundo a AIE, que assessora as nações industrializadas a respeito de políticas energéticas, 80% da demanda mundial por carvão é chinesa. Mas os Estados Unidos também são um grande usuário do carvão para o seu complexo industrial. "É crucial que países como China e Estados Unidos explorem tecnologias que façam frente a esse problema", afirma de Boer, referindo-se especificamente a projetos para bombear as emissões para depósitos subterrâneos, em vez de lançá-las na atmosfera.
(Por Elisabeth Rosenthal, The New York Times, tradução UOL, 14/06/2008)