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biocombustíveis cana-de-açúcar crise alimentar
2008-06-13

Manter o protagonismo e a pertinácia. Essa é a receita que o presidente da Sociedade Nacional da Agricultura (SNA), Octávio Mello Alvarenga, diz que o Brasil deve seguir para continuar sendo a referência mundial em biocombustíveis e aumentar sua influência na economia global ao tornar o etanol produzido a partir da cana de açúcar um coadjuvante do petróleo cada vez importante.

Alvarenga fala também sobre a política brasileira para o agronegócio e áreas adjacentes, como o meio ambiente a importância de se combater a violência no campo com iniciativas práticas como a Ouvidoria Agrária, a necessidade de se implementar de fato a Justiça Agrária.

Sobre a crise dos alimentos, que levou a ONU e a FAO a se manifestarem contra uma possível expansão de áreas para a produção de biocombustíveis e diminuição do espaço para o cultivo de alimentos, o presidente da SNA foi enfático: “Estamos em superioridade em relação aos EUA e com qualquer outra nação do mundo, em relação a área a ser utilizada para a agricultura sem a necessidade de fazer qualquer alteração na produção de alimentos.”

Confira a íntegra da entrevista que Octávio Mello Alvarenga concedeu a CartaCapital.

CartaCapital: O que senhor acha que dessa enfoque negativo que ONU e FAO vêm dando à expansão dos biocombustíveis pelo mundo, com a justificativa de que eles podem ocupar áreas destinadas à produção de alimentos?

Octávio Mello Alvarenga: A Sociedade Nacional da Agricultura promoveu em 1903 um congresso sobre álcool no Rio de Janeiro. O que mostra que nós temos, digamos, uma certa antecipação. Nós estamos acompanhando esta questão do álcool, do etanol com há bastante tempo. E me parece que na ultima declaração do presidente Lula na FAO, ele acertou na mosca. Nós produzindo álcool, hoje chamado etanol da cana-de açúcar, nós estamos em superioridade com relação aos outros países. Inclusive e sobretudo em relação aos Estados Unidos, que têm tido uma polítia internacional em relação ao biocombustível, ostensiva ou por debaixo do pano, bastante atuante. O Brasil está na posição de ser o celeiro dos biocombustíveis do mundo, e se apresentando como o único país do mundo com possibilidade de ser este celeiro, quer dizer, temos área, temos clima, temos sobretudo pertinácia e capacidade de produzir.

CC: O senhor acha que a produção dos biocombustiveis em escala global é uma certa ameaça à produção de alimentos?

OMA: A utilização do álcool é uma garantia de produção, e garantia sobretudo para o Brasil, que tem possibilidade de produzir álcool com cana-de-açucar, que é muito mais interessante do que produzir com o milho, como os EUA está fazendo. Estamos em superioridade em relação aos EUA e com qualquer outra nação do mundo, em relação a área a ser utilizada para a agricultura sem a necessidade de fazer qualquer alteração na produção de alimentos.

CC: Os biocombustíveis serão os sucessores do petróleo?

OMA: O biocombustível não é o sucessor do petróleo. É um coadjuvante do petróleo, não poluente. Então ele ganha do petróleo nesse sentido. Vai depender no futuro da aplicação racional. Eu acredito que isso possa acontecer e que isso vai acontecer.

CC: O senhor acha que o Brasil manteria esse protagonismo por ter muita terra agricultável, o clima, como o senhor disse e também a tecnologia?

OMA: Temos clima, temos água e temos a pertinácia. Mas precisa ser além de pertinaz, competente. E o produtor rural brasileiro, que está sendo competente e tendo a pertinácia necessária. Não temos que ter qualquer receio do futuro.

CC: A produção do Brasil é muito concentrada no interior de São Paulo e em algumas áreas próximas. Com o clima brasileiro, a produção de cana-de-açúcar seria garantida em todo o território ou em grande parte das áreas agricultáveis?

OMA: Há cana-de-açúcar em São Paulo, sim, mas ele pode passar a ser produzida em outros setores. É como o arroz, por exemplo. Outro dia, anunciava a imprensa que iria faltar arroz. É uma desinformação, ou talvez essa sede de provocar impacto da notícia. O Brasil tem uma produção de arroz notável. A produção no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina está batendo recordes. E mais ainda, no mesmo dia que noticiava a possibilidade da falta de arroz, Maranhão apresentava uma produção de arroz inesperadamente muito boa. Nós temos uma vantagem muito grande, que é o tamanho do Brasil. Temos uma extensão territorial maior do que a Europa. Você imagina que a Inglaterra pode disputar com a Alemanha. E a França disputa com a Alemanha. No caso do Brasil, você até pode entender uma disputa entre a produção do Pará e a de Santa Catarina, mas falamos a mesma língua. O interesse nacional é um só. De modo que você não pode comparar nunca o que acontece com o Brasil com o que acontece na Europa. O Brasil é maior em termos geográficos de tamanho e tem condições superiores a qualquer país do mundo para ser o celeiro da humanidade.

CC: Há alguma política do agronegócio no governo? E como o senhor avalia como está sendo conduzida? Se a SNA participa de definições desse tipo, se o senhor acha que a agricultura no Brasil está no caminho correto ou há muito a ser melhorado?

OMA: Para te responder com sinceridade eu teria que fazer algumas críticas aos titulares. Nós tivemos grandes ministros da Agricultura. Nós tivemos Roberto Rodrigues, Pratini de Moraes... Mas nem sempre os titulares do ministério têm conhecimento da máquina que têm nas mãos. Agora, por exemplo, estamos com a problemática da Amazônia entregue a um rapaz que era secretaria do Rio de Janeiro, o Minc. Ele vai entendendo da problemática da Amazônia agora. Ele não entendia coisíssima nenhuma, disso eu dou meu testemunho, lamentando que tenha que se dar de uma maneira negativa. Acontece que eu tenho que acreditar na democracia como um filtro que acaba por destacar os melhores. E eu acredito que o Minc se tornará um ministro razoável. Não tão bom quanto Marina Silva, evidente, mas compatível com ela. O ministro Reynold Stephanes (Agricultura), que foi um bom ministro da Previdência, vai também adquirindo sua experiência e contando com a capacidade da equipe ajudando.

CC: O assassino da irmã Dorothy Stang foi libertado e a violência no campo voltou à pauta. A FNA tem uma iniciativa de apoiar o plano de combate à violência do campo?

OMA: Há muitos anos, eu pessoalmente e a sociedade da Agricultura, apoiamos um programa contra a violência no campo e pela instituição de uma Justiça Agrária especializada. Isso implica previamente a adoção pelas faculdades de direito do Brasil de uma cadeira de direito agrário. Parecendo-me inconcebível que um país com tantos problemas de direito agrário, violência no campo, desmatamento, dificuldades entre invasores e invadidos, direitos àqueles que pretendem invadir uma terra, ocupar uma terra para dar maior produtividade ainda não tenha esses dispositivos. Tudo isso é uma questão de Justiça Agrária. Seria interessante que a gente pensasse em uma Justiça Agrária especializada. Hoje nós temos no Ministério do Desenvolvimento Agrário uma Ouvidoria Agrária, temos um ouvidor agrário nacional que é também presidente da comissão de combate à violência do campo, que é o senador Gercino Silva Filho.

CC: E quais seriam as atribuições dessa Ouvidoria Agrária?

OMA: A Ouvidoria agrária age de uma maneira conjunta, isto é, ela ouve dos juízes, ouve os promotores e pode dispor de uma especialização que não existe no Brasil. Começa a existir agora em Alagoas a polícia agrária, isto é, você não vai mandar uma tropa de choque assim que haja uma invasão, uma dificuldade. Você manda uma polícia agrária especializada que é subordinada à Ouvidoria.

(Por Daniel Pinheiro, Carta Capital, 12/06/2008)
http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=8&i=1181


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