Degelo de glaciares e a rápida urbanização são apenas dois exemplos de 36 anos de degradação ambiental que estão a mudar o continente africano, reunidos pelos geógrafos da ONU num atlas apresentado esta semana na Conferência ministerial africana sobre Ambiente, em Joanesburgo. O atlas, com cerca de 400 páginas, mostra “como as opções de desenvolvimento, crescimento populacional, alterações climáticas e, em alguns casos, conflitos estão a modelar e a afectar os recursos da região”, explica o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (Pnua).
Com 316 imagens de satélite captadas em cada país africano, em mais de cem locais, o atlas foi apresentado pelo Presidente da África do Sul, Thabo Mbeki. Para facilitar a comparação, o livro mostra fotografias do “antes” e do “depois”, relativamente às transformações ambientais.
A par dos problemas já conhecidos – como o degelo no Monte Kilimanjaro ou o desaparecimento do Lago Chade e a diminuição do Lago Vitória – o atlas mostra, pela primeira vez, imagens de satélite de mudanças menos divulgadas como o desaparecimento dos glaciares nas montanhas Rwenzori (Uganda) – que diminuíram em 50 por cento entre 1987 e 2003 – e o aumento da desflorestação que acompanhou a abertura de estradas na República Democrática do Congo, desde 1975.
Além disso, as imagens mostram o desaparecimento da floresta do Sul de Madagáscar entre 1973 e 2003, como resultado das práticas agrícolas, e a expansão dramática da capital do Senegal, Dacar, nos últimos 50 anos, área metropolitana que hoje tem 2,5 milhões de pessoas. Mas também há exemplos positivos para mostrar. Como a recuperação dos habitats no Parque Nacional Sidi Toui (Tunísia), aumento das zonas húmidas no Parque Nacional Diawling (Mauritânia) e a protecção da floresta no Parque Nacional Sapo (Libéria).
“Há muitas zonas em África onde as pessoas lançaram mãos à obra, onde hoje há mais árvores do que há 30 anos, onde as zonas húmidas regressaram”, lembrou Achim Steiner, secretário-geral do Pnua. Mas o atlas também mostra “a vulnerabilidade das pessoas a forças, muitas vezes, fora do seu controlo, incluindo o recuo dos glaciares no Uganda e na Tanzânia e os impactos das alterações climáticas nas reservas de água”, acrescentou.
Actualmente, África tem mais de três mil áreas protegidas. Mas a desflorestação é um grave problema em 32 países, incluindo a República Democrática do Congo, Malawi, Nigéria e Ruanda. Todos os anos, África perde mais de quatro milhões de hectares de floresta, ou seja, duas vezes o ritmo médio da desflorestação do planeta.
(Ecosfera, 12/06/2008)