As Nações Unidas estão a ponderar a integração do nuclear no sistema de redução de emissões de gases com efeito de estufa que está a ser elaborado para suceder ao Protocolo de Quioto, que expira em 2012, disse hoje Yvo de Boer, secretário-executivo da Convenção Quadro da ONU para as Alterações Climáticas.
Os países desenvolvidos podem investir em “tecnologias limpas” nos países em desenvolvimento – como parques eólicos e hidroeléctrica – e em troca receber créditos para emitir. Este é o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), previsto por Quioto para ajudar os países mais poluidores a cumprir as suas metas de redução de emissões.
Mas numa altura em que a comunidade internacional debate o sucessor de Quioto, muitos são os países e as organizações ambientalistas que se opõem a que o MDL passe a abranger as centrais nucleares. “A energia nuclear não é a energia do futuro”, disse Martin Hiller, da WWF. “Não deveria estar no MDL. O MDL deveria ter apenas energias renováveis”. Apesar de quase não emitir gases com efeito de estufa, o nuclear ainda é muito perigoso, acrescentou.
Actualmente, a comunidade internacional debate o papel do nuclear como alternativa aos combustíveis fósseis, no combate às alterações climáticas.
Yvo de Boer prevê que, nas próximas décadas, o MDL possa canalizar até cem mil milhões de dólares (64,5 mil milhões de euros) por ano para as nações em desenvolvimento se os países industrializados aceitarem reduzir as suas emissões e metade desse esforço for feito no estrangeiro. Este número foi calculado com base na assumpção de que os créditos por evitar as emissões possam chegar a uma média de dez dólares (6,4 euros) por tonelada.
Até agora, o MDL tem projectos aprovados, ou em ponderação, que podem evitar um total de 2,7 mil milhões de toneladas de emissões até 2012, o equivalente às emissões anuais combinadas do Japão, Alemanha e Reino Unido. “O facto de as pessoas terem encontrado uma forma de remover gases nocivos [da atmosfera] enquanto tiram lucros com isso não é errado moralmente”, comentou Yvo de Boer. “Criámos um mecanismo de mercado e acho que está a funcionar”.
(Reuters, Ecosfera, 12/06/2008)