Apontado como pivô da demissão da ex-ministra Marina Silva (Meio Ambiente), o ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos) disse nesta quarta-feira que não age como um "ditador" no comando do PAS (Programa da Amazônia Sustentável). Durante audiência pública na Comissão da Amazônia da Câmara, o ministro disse que o PAS é uma "obra coletiva", com a participação de vários segmentos do governo federal.
"Eu fico perplexo quando me perguntam o que vai acontecer na Amazônia em dois anos, como se eu fosse um ditador para revelar um plano secreto. Não é assim, [o PAS] é uma obra coletiva", afirmou.
Marina, que já estava desgastada no governo, se irritou com o fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter colocado Mangabeira na coordenação do PAS, uma área que tem muita relação com sua ex-pasta. Publicamente, a ministra negou qualquer mal-estar com Mangabeira, mas disse que sua demissão foi provocada pela "estagnação" do setor ambiental no governo.
Durante audiência aos deputados, Mangabeira defendeu maior rigor na legislação brasileira como forma de evitar a internacionalização da floresta amazônica --aliada a ações que permitam o desenvolvimento econômico da região.
"Temos que tomar medidas emergenciais e acauteladoras de um lado, com a revisão de nossas leis que talvez sejam muito permissivas para permitir a entrada de estrangeiros. Por outro lado, temos que tomar medidas estruturais que têm como foco o desenvolvimento da região", afirmou.
O ministro disse ser favorável à "industrialização da Amazônia" como forma de garantir a soberania da floresta. "Precisamos de um grande avanço industrial na Amazônia. Na área florestada, as indústrias podem ser instaladas nas cidades e periferias urbanas. Na Amazônia sem florestas, temos que ter indústrias que possam agregar valor àquela economia."
Incentivos
Mangabeira defendeu incentivos privados para a instalação de indústrias na Amazônia florestal, sem a participação direta do governo. "Temos que ter menos ênfase nas punições e mais ênfase nas construções e incentivos", disse.
O ministro afirmou que já pediu aos governadores dos Estados amazônicos para que identifiquem "micro-regiões" habilitadas para receberem ações do PAS.
"Se nós tentarmos deslanchar todas as iniciativas simultaneamente em todo lugar na Amazônia, é grande o risco de não alcançarmos o grau de densidade e coordenação dessas iniciativas. Propus que identificássemos micro-regiões, concentrando nelas as iniciativas do governo", afirmou.
(Por Gabriela Guerreiro, Folha Online, 11/06/2008)