Em palestra nos Estados Unidos, o governador Blairo Maggi aponta as medidas adotadas no Estado para conter a devastação
No dia mais importante de sua passagem por Washington (EUA), o governador Blairo Maggi participou ontem (10/06) de dois eventos distintos e declarou em tom de brincadeira: “Eu não sou o bicho-papão e nem o diabo verde que dizem”.
O primeiro discurso, motivo de sua viagem ao país, aconteceu no período da manhã no Global Katoomba Meeting 2008. Maggi apresentou à comunidade internacional as práticas sustentáveis realizadas na produção agrícola em Mato Grosso, falou de projetos e deixou claro que recursos externos são bem-vindos para promover a sustentabilidade ambiental.
Na tentativa de esclarecer o que se passa de fato na região, para desmistificar as informações que chegam pela mídia sobre o desmatamento, Maggi acabou utilizando poucos de seus 40 minutos de fala para abordar o tema “O Futuro do Carbono”, que seria o previsto na agenda do encontro e por fim ficou em segundo plano (ver matéria).
“Falei sobre a agricultura sustentada porque ela é tão importante quanto a questão da biodiversidade. Essa prática permite o aproveitamento das áreas já abertas e isso é muito importante para evitar o desmatamento. Mas essa discussão está ficando em segundo plano”, destacou Maggi em entrevista ao Diário. Para o governador, o mundo se apegou aos números dos anos entre 2002 e 2004, quando o desmatamento atingiu índices alarmantes, mas que ele afirma não serem mais condizentes com a nova realidade.
Os participantes do encontro demonstraram bastante interesse sobre o projeto de substituição de faixas de terras da pecuária por agricultura, para se fazer a rotação e tornar a terra mais produtiva quando o gado voltar para a pastagem. “Assim não precisamos abrir novas áreas, pois a produtividade da pecuária por hectare aumenta muito. Porém, é fácil tornar um agricultor pecuarista, mas o contrário é difícil, por falta de recursos. Esperamos contar com o apoio do governo federal, e de outras organizações mundiais nesse projeto”, discursou.
O governador afirmou à comunidade internacional que a atividade agrícola do Estado respeita os mananciais e as áreas de preservação permanente (APP). “O plantio direto evita que a poluição vá para os rios. Outra coisa que mostra que temos uma agricultura sustentada é o recolhimento de embalagens de agrotóxicos. Enquanto o Brasil recolhe 95%, os Estados Unidos recolhem apenas 19%”, comparou.
Outra bandeira levantada em seu discurso foi sobre a adesão voluntária de setores da agricultura ao projeto de compensação do passivo ambiental de cada proprietário rural entre 5 e 10 anos, para fazer a devolução das APPs derrubadas no passado. Em Lucas do Rio Verde, por exemplo, a área devastada ilegalmente seria equivalente a 50 mil hectares.
“Em Mato Grosso, todos temos a preocupação com o meio ambiente, porque sabemos que cada vez mais serão levantadas barreiras comerciais para quem não produz corretamente, a exemplo da moratória informal da soja”.
A espécie de embargo citada por Maggi foi proposta por organizações não-governamentais e a soja plantada em áreas abertas depois do ano de 2006 não consegue ser comercializada no mercado externo.
No fim de seu primeiro discurso, um desabafo: “o setor produtivo está cansado de ser criminalizado no Brasil. Agora, sem duvida, é difícil conciliar tudo isso, pois é preciso lidar com o questionamento de por que não podemos construir o que o mundo já construiu. Mas também estamos conscientizados de que não é porque os outros cometeram erros que nós também temos que cometer”, criticou.
(Por Keity Roma, De Washington/EUA, Diário de Cuiabá, 11/06/2008)