Duas manifestações simultâneas no Espírito Santo alertam para o encarecimento dos alimentos, o monopólio de transnacionais e a expansão da monocultura da cana, nesta terça-feira (10). Em Montanha, norte do Estado, e em Vitória, onde se realizou um "panelaço", mil pessoas se mobilizaram para protestar. Os atos fazem parte da Jornada de Luta da Via Campesina, com atividades em todo o País.
Em Montanha, onde a manifestação começou pela manhã e se estendeu por todo o dia, o protesto foi contra a instalação da empresa estrangeira Infinity Bio-Energy, que pretende plantar cana-de-açucar no norte do Estado. A empresa já comprou todas as usinas de cana da região. Os manifestantes marcharam pelas ruas do município distribuindo panfletos e alimentos orgânicos.
Segundo Valmir Noventa, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), a expansão está descontrolada. O norte já conta com mais de 40 mil hectares de cana plantados, área que deve dobrar nos próximos anos, conforme os planos da própria Infinity Bio-Energy, que divulgou sua pretensão de se tornar líder mundial na produção e distribuição de álcool e outros biocombustíveis. Já as metas do governo do Estado apontam para uma ampliação na produção de álcool de 133%, conforme o Plano Estratégico de Agricultura Capixaba (Pedeag).
Informações da Via Campesina alertam que será impossível assentar as 10 mil famílias sem terras que existem no Estado, se esse mercado continuar crescendo. Além de gerar a concentração de terra e aumentar a exploração ambiental, essa monocultura substitui área de produção de alimentos como arroz, feijão e mandioca, encarecendo o preço destes produtos.
O assunto foi tema da segunda manifestação da Via Campesina, que contou com a participação de mais de 500 pessoas, que saíram da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) no início da tarde desta terça, para o "panelaço". Durante a caminhada até a rede de supermercados Wall Mart, onde uma grande mesa de alimentos trazidos do campo foi montada como protesto, os manifestantes gritavam palavras de ordem como "Agronegócio só traz pobreza, queremos para o mundo agricultura camponesa", e carregavam faixas e cartazes contra a expansão da cana e do eucalipto no Estado, ressaltando os prejuízos que este mercado gera para o Espírito Santo.
Ao todo, participaram trabalhadores do campo e da cidade. Juntos ressaltavam palavras de ordem como: "Se o campo e a cidade se unir, a burguesia não vai resistir", "Ninguém bebe óleo de mamona", "Ninguém toma suco de eucalipto", entre outros.
Durante a manifestação, uma pista da avenida Nossa Senhora da Penha ficou liberada para o trânsito.
(Por Flávia Bernardes,
Século Diário, 11/06/2008)