Todos os domingos, uma centena de imigrantes do Tuvalu se reúne para a missa em Te Atatu South, uma localidade da periferia a oeste da cidade de Auckland. Nas dependências do centro que lhes foi emprestado pelo Lion's Club, as famílias se instalam em esteiras colocadas diretamente no chão, para acompanharem a pregação, na qual a única língua praticada é o tuvaluano. Algumas das mulheres estão enfeitadas com uma flor de pluméria, um arbusto de aroma almiscarado, nos cabelos, enquanto a maior parte dos fiéis fala entre si na língua do seu país de origem.
O arquipélago de Tuvalu, um Estado da comunidade britânica situado a alguns milhares de quilômetros ao norte da Nova Zelândia, é uma das menores nações que existem no mundo, pelo seu tamanho -26 km2 de superfície terrestre- e a sua economia. Ela não conta com mais do que 11.000 habitantes, distribuídos por 9 ilhas e atóis de recifes de corais. Mas, segundo o mais recente censo, o número dos imigrantes do Tuvalu que vivem hoje na Nova Zelândia já passou para mais de 2.600, ou seja, eles são cinco vezes mais numerosos do que quinze anos atrás. Além disso, o seu número poderia aumentar ainda mais, pois a comunidade está preocupada.
Da mesma forma que o arquipélago de Kiribati ou as ilhas Marshall, mais ao norte, Tuvalu integra o conjunto dos pequenos países do Pacífico que estão ameaçados pelo aquecimento climático. Segundo o Grupo de Peritos Intergovernamental sobre a Evolução do Clima (cuja sigla em francês é GIEC), o nível médio dos oceanos deverá subir numa proporção de 18 a 59 centímetros daqui até 2100. Para estas ilhas, situadas exatamente acima do nível do mar, isso seria uma catástrofe. "Nenhum local em Tuvalu está situado a mais de 5 metros de altitude. As áreas situadas a apenas 50 centímetros acima do nível do mar irão sofrer enchentes permanentes no decorrer deste século", afirma John Hunter, um oceanógrafo na universidade da Tasmânia.
Tradicionalmente, os habitantes de Tuvalu costumavam emigrar por razões econômicas, uma vez que as chances de desenvolvimento no arquipélago sempre foram limitadas. Durante muito tempo, eles migraram para a ilha de Nauru -entre os atóis de Tuvalu e da Papua-Nova Guiné- para trabalharem nas minas de fosfato. Mas, já faz alguns anos, a ameaça climática tornou-se um motivo adicional para o seu exílio. Misalaima Seve, que é originária de Fongafale, o atol onde fica Funafuti, a capital do Tuvalu, diz que acabou optando por ir embora de lá por temer a subida das águas.
"Eu comecei a ver muitas coisas mudarem. Agora, o mar passou a encobrir a terra por ocasião das grandes marés", garante esta mulher idosa, falando num inglês hesitante. Silou Temoana, que está instalada há alguns anos na Nova Zelândia, afirma, por sua vez, ter observado diversas mudanças em sua ilha de Niutao, ao norte do Tuvalu. "A quantidade de terras está menor do que quando eu era criança, e, ao mesmo tempo, aumentou o número de pessoas. Está se tornando cada vez mais difícil cultivar plantas a contento".
Telaki Taniela, um pai de família que vive com os seus cinco filhos num bairro da periferia de Auckland, faz uma constatação similar: "Eu fui embora do Tuvalu porque estava ficando preocupado com o aquecimento climático. Hoje, as grandes marés são mais freqüentes. Não faltam aqueles, em Tuvalu, que se recusam a acreditar nisso, que chegaram à conclusão de que Deus jamais permitirá que isso aconteça. Mas, cedo ou tarde, eles serão obrigados a se conscientizarem da situação".
Observações por satélite e por meio de medidores vêm sendo realizadas já faz cerca de quinze anos na tentativa de se medir a elevação do nível do mar, mas este período seria curto demais para se tirar quaisquer conclusões, avisam os cientistas. "As estimativas que nós temos apontam que, de 1950 a 2001, o nível do mar subiu, em média, 2 milímetros por ano. Mas, por causa da aceleração da elevação do nível do mar que nós passamos a observar nos últimos tempos, o fenômeno poderia agravar-se em Tuvalu", explica John Hunter.
Alterações no ecossistema
Na opinião de Simon Boxer, que foi encarregado de estudar a questão pelo Greenpeace da Nova Zelândia, este, de qualquer forma, não é o único perigo que ameaça a região: "As populações das pequenas nações do Pacífico vão estar confrontadas a alterações no seu ecossistema antes mesmo de serem inundadas, tais como a salinização do seu sistema de abastecimento de água e das suas áreas cultivadas". Um outro risco é a recorrência de fenômenos climáticos extremos, que poderiam ser devastadores para essas pequenas ilhas.
Contudo, o aquecimento climático não seria a única causa de desastres potencial. Os cientistas apontam igualmente para a ameaça que representam as más práticas de ocupação do solo na ilha da capital. "Desde a independência, em 1978, a população passou de 700 para 5.000 habitantes em Fongafale. Além disso, a construção de calçadas acabou modificando os traçados das marés", comenta John Connell, um geógrafo na universidade de Sydney e especialista nas ilhas do Pacífico. Para Chris de Freitas, um professor na escola de geografia da universidade de Auckland, "enchentes vêm ocorrendo da maneira evidente nas ilhas do Tuvalu, mas, neste caso, não é exatamente o aquecimento climático provocado pelo homem que está na origem deste fenômeno. Elas são o resultado da erosão e de projetos imobiliários que vêm provocando um afluxo da água do mar".
Este é um ponto de vista que poucos imigrantes parecem estar dispostos a ouvir, pois muitos deles estão convencidos de estarem pagando o preço necessário para adquirir o modo de vida dos países ocidentais. Há alguns anos, o governo de Tuvalu havia até mesmo ameaçado entrar com uma ação na justiça contra a Austrália e os Estados Unidos por estes não terem ratificado o Protocolo de Kyoto. Fala Haulangi, uma das principais lideranças da comunidade tuvaluana em Auckland, não admite qualquer questionamento: "Nós não nos valemos do pretexto do aquecimento climático para emigrar. Os nossos familiares e os habitantes mais idosos estão bem lá onde estão nas suas ilhas, eles não têm a menor vontade de irem embora de lá". E Telaki Taniela acrescenta: "Nós deveríamos pleitear o estatuto de refugiados climáticos, pois nós pertencemos a uma nação limpa, que tem sido vítima das ações dos grandes países".
Por enquanto, a Nova Zelândia autoriza anualmente 75 imigrantes do Tuvalu a se instalarem em seu território -em função de um programa de imigração para as ilhas do Pacífico-, sem, contudo, reconhecer seu direito ao estatuto de refugiados ambientais. Em Auckland, a comunidade do Tuvalu organiza regularmente cerimônias e festas noturnas tradicionais com as quais ela tenta preservar a sua cultura.
"A migração pode ser uma solução, mas se o nosso país for submerso, as nossas tradições correm o risco de perder-se, pois elas serão absorvidas pela cultura do país onde nós estaremos instalados", teme Silou Temoana. Na Nova Zelândia, poucos são aqueles, entre os membros da nova geração, que planejam retornar ao arquipélago dos seus pais.
(Por Marie-Morgane Le Moël, Le Monde, UOL, 10/06/2008)