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sustentabilidade e capitalismo
2008-06-11

É possível para a vasta massa da humanidade desfrutar dos padrões de vida dos atuais países de alta renda? Esta pode ser a maior pergunta diante da humanidade no século 21. É a versão atual das dúvidas expressadas por Thomas Malthus, há dois séculos, sobre a possibilidade de aumentos duradouros nos padrões de vida. O destino de nossos descendentes depende da resposta. Ela determinará se este será um mundo de esperança em vez de desespero, e de paz em vez de conflito.

Esta -não a eficácia de suas prescrições em particular- é a maior questão levantada pelo relatório da comissão de crescimento, discutido aqui na semana passada. Também é o foco de um novo livro poderoso de Jeffrey Sachs, diretor do Instituto Terra* da Universidade de Colúmbia.

O desafio é simples. A renda per capita mundial poderia aumentar 4,5 vezes até 2050 e a população mundial em 40%. Isto significaria um aumento de seis vezes na produção global, concentrada nos países em desenvolvimento. Esse aumento é viável? A resposta que ele dá é: sim e não -sim, porque mudanças nos incentivos, tecnologia e instituições políticas e sociais tornariam um resultado benigno viável; e não, porque o caminho em que estamos agora é insustentável. O professor Sachs é um profeta otimista do apocalipse. Ele se posiciona no ponto intermediário entre aqueles ambientalistas que não vêem nenhuma solução e os defensores do livre mercado que não vêem nenhum problema.

Por inclinação, eu estou mais próximo dos últimos do que dos primeiros. Mas se tornou evidente, pelo menos para mim, que o impacto humano no planeta do qual dependemos aumentou para proporções enormes. Nós tratamos os bens globais como se fossem gratuitos. Evidentemente, eles não são.

O prof. Sachs enfatiza três metas: primeiro, "o fim da pobreza extrema até 2025 e uma melhor segurança econômica também dentro dos países ricos"; segundo, "a estabilização da população mundial em 8 bilhões ou menos até 2050 por meio de redução voluntária das taxas de fertilidade"; e, terceiro, "sistemas sustentáveis de energia, uso de terras e recursos que evite as tendências mais perigosas da mudança climática, extinção de espécies e destruição dos ecossistemas". Finalmente, para atingir estes fins, ele recomenda "uma nova abordagem para a solução dos problemas globais com base na cooperação entre as nações e o dinamismo e criatividade do setor não-governamental".

Alguém poderia ver a primeira das metas acima como a de prosperidade para todos. O controle populacional está relacionado a este fim porque as pessoas mais pobres do mundo sofrem com o fardo dos custos de criar suas grandes famílias. Finalmente, apenas com a administração dos bens globais será possível sustentar a elevação dos padrões de vida.

O conceito mais esclarecedor do livro é o do "antropoceno" -a era na qual as atividades humanas dominaram o mundo. Peter Vitousek, da Universidade de Stanford, documentou as formas com que a humanidade se apropriou da dádiva do planeta para seu uso próprio: os seres humanos agora exploram 50% do potencial fotossintético terrestre; eles despejam agora um quarto do dióxido de carbono na atmosfera; eles usam 60% do escoamento acessível dos rios; eles são responsáveis por 60% da fixação de nitrogênio do planeta; eles são responsáveis por um quinto de todas as invasões de plantas; ao longo dos últimos dois milênios eles provocaram a extinção de um quarto de todas as espécies de aves; e exploraram ou exploraram em excesso mais da metade da pesca do mundo.

Goste ou não, nós humanos agora estamos no controle. Então o que devemos fazer? Em sua resposta, o prof. Sachs compartilha o otimismo da maioria dos americanos: nós devemos consertar as coisas, ele insiste, mas só podemos fazê-lo juntos. Neste grande empreendimento, ele argumenta, os Estados Unidos devem compartilhar a liderança, mas não podem ditar ao restante da humanidade.

Em relação à dinâmica do crescimento nos países em desenvolvimento, os pontos de vista do prof. Sachs são próximos dos da comissão de crescimento. Mais distinta é sua recomendação de uma grande estratégia de impulso forte de investimento, apoiada por ajuda, visando retirar os mais pobres do mundo, predominantemente africanos, das armadilhas da pobreza nas quais, no seu entender, eles caíram. O prof. Sachs fez contribuições notáveis ao nosso entendimento dos obstáculos ao desenvolvimento criados pela geografia, meio ambiente e doenças devastadoras, como a malária. Em seu atual livro, ele enfatiza como a escassez de água contribui para a pobreza e o conflito por todo o planeta.

Mas sou mais cético do que o prof. Sachs quanto ao retorno de uma estratégia de um impulso forte. Em muitos casos, ela fracassará. Mas precisa ser tentada, porque não há alternativa moralmente tolerável ou crível. Eu também concordo que esforços imensos devem ser feitos para acelerar o declínio da fertilidade nos países mais pobres do mundo, apesar de voluntariamente.

Mas suponha que o crescimento econômico se espalhe pelo planeta, como gostaríamos. Ele poderá ser sustentável? O prof. Sachs é notadamente otimista a respeito dos recursos para o crescimento. Sua visão é de que os recursos de combustíveis fósseis, energia renovável e disponibilidade de água doce devem ser suficientes para apoiar a manutenção do crescimento ao longo do próximo meio século. Mas isto quase certamente exigiria uma transição das tecnologias de energia baseadas no petróleo para baseadas em carvão e renováveis. A energia seria, quase certamente, muito mais cara do que no período 1985-2000, mas não proibitivamente.

O desafio, na visão do prof. Sachs, é tornar o crescimento compatível com a conservação dos bens globais: a sobrevivência das espécies e, acima de tudo, a mudança climática. Mas talvez o que seja mais intrigante em tudo é o otimismo que ele exibe em relação à segunda tarefa. Apesar de abraçar a visão de que a mudança climática é uma ameaça imensa, ele também acredita que pode ser resolvida com um custo modesto, desde que incentivos adequados sejam implantados: menos de 1% da renda global.

Ao todo, na verdade, o prof. Sachs acredita que podemos atingir todas as metas que ele estabeleceu -a eliminação da pobreza em massa, controle populacional e sustentabilidade ambiental- por menos de 2% da renda global. Isto representa cerca de meio ano de crescimento global e é certamente um preço barato.

Esta, então, é uma análise que consegue ser ao mesmo tempo pessimista e otimista. Seria possível não ser tão otimista em relação ao custo das soluções. Mas é preciso reconhecer a relevância dos desafios. Se o crescimento econômico parar, o conflito entre os povos do mundo correria o risco de se tornar inadministrável. Se as conseqüências ambientais provarem ser grandes demais, os custos do crescimento seriam insuportáveis. Agora nós somos mestres do nosso planeta. A grande pergunta para o século 21 é se poderemos também nos tornar mestres de nós mesmos.

(Por Martin Wolf, Financial Times, 10/06/2008)
*Common Wealth: Economics for a Crowded Planet (Allen Lane, 2008)

 


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