A terça-feira foi dia para reparar estragos. O vento forte e a chuva que se abateram sobre Santa Cruz do Sul desde a noite da última sexta provocaram deslizamentos e deixaram residências às escuras até a tarde de ontem (10/6). Pelo menos 2,6 mil moradias atendidas pela AES Sul no município ficaram sem energia elétrica a partir da madrugada. Na região foram 4.080 casos.
Os principais problemas foram ocasionados por galhos e árvores que caíram sobre a rede, provocando a ruptura dos cabos. Em todo o Estado, a empresa destacou 200 equipes para realizar os consertos. No Rio Grande do Sul, a falta de luz atingiu 32 mil clientes. Na região, além de Santa Cruz, Candelária teve 500 casos registrados, mesmo número que Rio Pardo. Em Vera Cruz foram 480. O restabelecimento total da energia ocorreu à tardinha.
Já a Secretaria Municipal de Habitação se empenhou no trabalho de amparo às famílias que tiveram as moradias atingidas por desmoronamentos de terra e pedras. A maioria dos casos ocorreu no Bairro Margarida/Aurora, em casas construídas na encosta do Monte Verde, em uma área considerada de risco pela Defesa Civil.
Segundo o coordenador do órgão, Gastão Gal, fora os casos já comunicados até a noite de segunda, nenhum outro foi registrado. O mais grave ocorreu com Maria Santa May, 82 anos, que ficou sem a peça onde residia, junto à casa da sobrinha Juraci Santos. O imóvel fica em um barranco na Rua Luiza Geiss, construído sobre pilares que ameaçam cair a cada chuva forte.
Na segunda-feira, a água desceu o morro com força e trouxe junto muita terra e uma grande pedra, que caiu sobre o quartinho de Maria, derrubando uma parede de madeira. Ontem, parte do chalé ainda estava pendente, preocupando a família. Uma equipe da Prefeitura esteve no local para avaliar os danos e deve retornar hoje para tentar retirar a rocha. “Quero tirar minha roupa que ficou lá e não posso. Está perigoso”, disse a aposentada.
Invadida
A sobrinha Juraci afirma que os moradores gostariam de se mudar do local, mas não têm opção. “Sair daqui para morar no albergue não dá. Tem muita coisa que a gente teria que deixar para trás. A única alternativa seria se conseguissem uma outra casinha pra gente”, comentou ela, que reside lá há nove anos. O medo agora é de que uma nova chuva forte ocorra nos próximos dias, podendo derrubar um muro de alicerce cuja base cede a cada enxurrada.
Assim como elas, dezenas de famílias moram na mesma área em terrenos invadidos nos anos 90 e no começo desta década, na Rua Luiza Geiss e no Beco Lotário Heuser. As residências já foram avaliadas e não têm condições de segurança, registrando casos de desmoronamento a cada temporal.
Vera Cruz
Em Vera Cruz, uma árvore caiu sobre um chalé e por pouco não deixou uma criança ferida. Segundo o Corpo de Bombeiros Misto do município, o caso ocorreu na virada da noite de ontem, durante o temporal. José Heitor dos Santos estava na moradia com a esposa e os quatro filhos, entre eles um bebê de 2 anos. Quando perceberam que a árvore iria cair, saíram em direção à cozinha, que fica numa área anexa à residência. Mais da metade do chalé foi destruída. Galhos caíram inclusive sobre o berço onde o nenê estava antes de ser retirado.
(Por Jansle Appel Junior, Gazeta do Sul, 11/06/2008)