Os impactos das culturas de agroenergia no Brasil foram tema de debate ontem (10/06), pela manhã, no Plenário 3 da Câmara dos Deputados, em Brasília. O evento, promovido pelo Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis (CMA) da Repórter Brasil e pela Frente Parlamentar da Terra, discutiu os resultados do primeiro volume do relatório "O Brasil dos Agrocombustíveis: Os Impactos das Lavouras sobre a Terra, o Meio e a Sociedade", publicado pelo CMA.
O debate contou com a participação de parlamentares e representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Comissão Pastoral da Terra, da Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf) e do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).
O primeiro volume do estudo do CMA, dividido em três relatórios anuais, avalia os efeitos das culturas de soja e da mamona. Nessa etapa, os pesquisadores rodaram 19 mil quilômetros por dez estados brasileiros, além do Paraguai, para analisar o impacto das culturas. No segundo volume, os dados colhidos serão do milho, algodão, dendê e babaçu. No terceiro, será a vez da cana e do pinhão manso. São levados em conta os aspectos socioeconômicos, ambientais, fundiários, trabalhistas, além do impacto sobre comunidades indígenas e tradicionais.
Segundo o deputado federal Adão Pretto (PT-RS), que esteve coordenando a mesa do debate, o único consenso alcançado foi que não se pode deixar a agricultura familiar centralizar-se somente na monocultura, devendo, portanto, haver uma maior diversificação no cultivo. Para o deputado, a agricultura familiar deve dar prioridade à produção de alimentos.
Os representantes do Ministério do Desenvolvimento Agrário criticaram os resultados do relatório do CMA e afirmaram que a política de agrocombustíveis foi criada como uma alternativa para a agricultura familiar. No entanto, a ONG Repórter Brasil ressaltou que o estudo foi realizado diretamente com a opinião dos agricultores.
Atualmente, o cultivo de produtos para o agrocombustíveis ainda é insignificante nas pequenas propriedades, de acordo com Adão Pretto. "Devemos discutir o futuro, pois se começar a dar dinheiro, eles vão trocar os alimentos pelos biocombustíveis", ressalta. O próprio deputado chegou a presenciar falências de pequenos agricultores no Rio Grande do Sul nos tempos da expansão da soja no Estado:"Tenho receio que o agricultor caia no monocultivo. Só plantando cana vai comer o quê? Vão acabar indo à falência como aconteceu com a soja".
No ano passado, o deputado visitou a Venezuela para conhecer a realidade agrícola do país. "Os venezuelanos vivem em torno do petróleo. O litro do leite custa bem mais caro que o da gasolina", ressalta. Além disso, ele aponta que a maior diferença entre a agricultura venezuelana e a brasileira é que esta última é bem mais diversificada. "Lá a reforma agrária está mais avançada, mas não há gente para trabalhar nas terras expropriadas. A produção de alimentos deixa muito a desejar", enfatiza.
(Adital, 10/06/2008)
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