O aumento do preço da comida gerado pelo atual modelo econômico motivou protestos no Rio Grande do Sul. Em Passo Fundo, na região da Produção, 800 trabalhadores rurais e urbanos ocuparam a transnacional de alimentos Bunge. Em Aratiba, divisa entre o estado gaúcho e Santa Catarina, 300 atingidos por barragens e agricultores ocuparam a Usina Hidrelétrica de Itá.
Apesar de se referirem a setores diferentes, os dois protestos querem denunciar o atual modelo econômico no país. Josi Santos, uma das manifestantes que ocupou a unidade da Bunge, lembra que a empresa domina o mercado de alimentos industrializados no país. Recente estudo do Ministério da Agricultura ainda concluiu que a transnacional montou um oligopólio no setor de fertilizantes e vem sendo responsável pela alta do preço dos alimentos por meio do encarecimento no plantio.
“A crise dos alimentos, a falta de comida de qualidade na mesa das famílias é uma conseqüência desse modelo. Também há falta de incentivo à pequena agricultura, já que tudo é colocado para os grandes, para a monocultura – a Bunge é a maior comercializadora da soja aqui na região.”, argumenta.
De manhã, conflito com a Brigada Militar no local deixou cinco manifestantes feridos, que tiveram de ser levados ao hospital. Josi conta que policiais apreenderam um caminhão com 8 mil kg de alimentos da agricultura familiar que seriam distribuídos a famílias carentes de Passo Fundo. Os manifestantes tentaram evitar a apreensão e foram alvejados por bombas de gás e balas de borracha.
Já na ocupação da hidrelétrica de Itá, as famílias reclamam do modelo energético no país. Além de se estruturar em mega-barragens, gerando conseqüências ambientais e sociais de grande impacto, os agricultores afirmam que o sistema beneficia somente as empresas. Estimativas apontam que, em média, o gaúcho paga R$ 0,50 kwh/mês, enquanto que empresas pagam até R$ 0,10 kwh/mês. No caso de Ita, avalia Gildo dos Santos, a maior beneficiada é a transnacional Suez Tractebel.
“A Suez, que é dona da hidrelétrica de Itá, ela tem apenas 904 empregos no Brasil inteiro. E somente a barragem de Ita expulsou 4,5 mil famílias, sem contar nas outras usinas que a Suez tem. Então comparando, a geração de emprego é longe de gerar desenvolvimento. Muito pelo contrário, tem gerado filas de famílias que acabam se tornando sem terra”, diz.
As atividades ocorridas no Rio Grande do Sul integram a Jornada Nacional de Lutas Contra o Agronegócio e as Transnacionais. Protestos aconteceram ainda em Pernambuco, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraíba, Ceará e demais estados. Mais manifestações devem ocorrer na semana.
(Por Raquel Casiraghi, Agência Chasque, 10/06/2008)