A subnutrição que atinge a população da Etiópia não se restrige mais aos bebês e às crianças pequenas. Hoje, ela começa a se apresentar em grupos menos vulneráveis, como as crianças mais velhas, os jovens e os adultos. O número de famintos nessas faixas da população não pára de crescer, e alguns chegam a ter metade de seu peso ideal. Estudos mostram que uma em cada quatro mães que vivem no sul do país, o epicentro da crise, apresenta indícios de subnutrição.
Segundo os grupos de ajuda humanitária, a situação, que já era séria, piorou com a seca que atinge o país. A falta de chuvas fez a produção agrícola cair enormemente na Etiópia, onde agricultura é o carro-chefe da economia, contabilizando metade de toda a produção doméstica e 85% das exportações do país.
A crise é agravada ainda pelo aumento dos preços no mercado mundial. Os moradores de um vilarejo a 155 quilômetros ao sul da capital disseram que não podem mais comprar comida no mercado. Uma espiga de milho, que era vendida a 6 ou 7 centavos em 2007, chega a 11 centavos neste ano.
"Não há mais comida e todo mundo está passando fome", afirmou Margaret Aguirre, porta-voz de uma organização humanitária americana. "As crianças mais velhas já começam a mostrar sinais de desnutrição. E isso avança tão rapidamente que pode evoluir para uma severa subnutrição", continuou.
Os números de jovens e adultos afetados ainda é incerto, mas os grupos de ajuda humanitária afirmam que ele cresce cada vez mais. "Adultos nessas condições indicam que a situação é bastante séria", disse à agência de notícias Associated Press a enfermeira voluntária Mieke Steenssens.
As agências humanitárias pedem desesperadamente doações para o país, informando que os fundos de emergência não são mais suficientes para amenizar a situação. O país recebe mais doações de alimentos do que qualquer outro país no mundo, a maioria vinda dos Estados Unidos, que enviou, só no ano passado, R$ 300 milhões em comida para o país.
Apesar da ajuda internacional, o número de famintos tem crescido massivamente no país. Em parte, segundo o oficial da ONU (Organização das Nações Unidas) John Holmes, devido ao clima, à seca crônica e à grande população de 78 milhões de pessoas. "O programa contra fome alimenta 8 milhões de pessoas, mas precisamos aumentar essa número devido à seca", disse.
A ONU estima que este ano seja o pior desde 2003 na Etiópia, quando 13,2 milhões de pessoas foram afetadas pela seca. Em 2008, o órgão estima que 4,5 milhões de pessoas necessitem de ajuda urgente. Em 1984, a fome matou 1 milhão de pessoas no país.
Para o oficial etíope Simon Mechale, no entanto, a crise está "sob controle" e se resolverá em quatro meses. Mas, no interior do país, há sinais de que a situação é grave. Em uma distruibuição de comida em um vilarejo, 4 mil pessoas se apresentaram, mas havia somente 1.300 rações de alimentos.
(UOL, com informações da Associated Press, 10/06/2008)