Saiba o que as três maiores redes de supermercado responderamao IdecO Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, Idec, enviou cartas para as três maiores redes varejistas do país, questionando sobre sua preocupação em relação à rastreabilidade da carne bovina vendida por elas: *Carrefour*, *Pão de Açúcar* e *Wal-Mart*. Buscamos informações sanitárias, ambientais e sociais da cadeia de produção da carne.
As respostas de todos eles foram, para o Idec, insuficientes. Em várias delas, as empresas afirmaram possuir cláusulas contratuais - "garantindo" que não há desmatamento ou trabalho escravo, por exemplo, nas propriedades que produzem a carne que comercializam - porém sem informar se fazem ou como fazem o controle para de fato garantir seu cumprimento.
Só o *Grupo Pão de Açúcar* detalhou a forma como faz esse controle - restrito a apenas 1% de toda a carne bovina comercializada pela empresa. Mas a iniciativa demonstra que é possível, sim, que os varejistas tenham grande controle sobre a forma como é produzida a carne bovina que o consumidor encontra na gôndola. E que ela deve ser louvada.
Veja um resumo das respostas dos supermercados:O grupo *Carrefour* - que detém quatro bandeiras de supermercados (* Carrefour*, *Carrefour Bairro*, *Dia%* e *Atacadão*) - focou suas respostas apenas no programa "Garantia de Origem", que possui critérios de seleção de fornecedores e de garantia de qualidade da carne, e contempla apenas 40% do que é vendido pela rede. As informações fornecidas pouco revelaram sobre a origem da carne, ficando em um plano apenas conceitual, sem dados concretos. A empresa se limitou a listar alguns dos principais frigoríficos fornecedores e, com relação aos municípios de origem da carne, disse que ela "é proveniente de todo o território brasileiro, com pequeno volume importado".
Questionado sobre a disponibilização das informações que possui sobre rastreabilidade da carne bovina nos rótulos dos alimentos, o grupo disse que elas estão em "plaquetas informativas, inseridas próximas a cada um dos tipos de carne e de corte".
Com relação ao controle para evitar que a carne venha de áreas de desmatamento ou em que se utilize trabalho escravo, a empresa informa que avalia "os aspectos sociais e ambientais de cada uma das fazendas" antes de cadastrá-las e que, em caso de irregularidades, o produtor é "automaticamente retirado do programa".
O Grupo *Pão de Açúcar *(Companhia Brasileira de Distribuição), detentor de oito bandeiras de varejo *(Pão de Açúcar*, *Extra Hipermercados, Extra Perto, Extra Fácil, Extra Eletro, Sendas,* *Comprebem *e* Assai*), foi o único a listar as cidades e fazendas de onde vem a carne. Mas essa informação serve para apenas 1% da carne comercializada, inserida no "Programa de Produção de Carne de Qualidade". Para a maioria restante, não há dados sobre controle efetivo de qualidade e de passivos ambientais e sociais.
A empresa informou que "antes de cadastrar uma fazenda, ela passa por entrevista e visita técnica para verificar a relação entre empregador e empregados, aspectos ambientais e técnicos". Diz ainda que todo o gado possui certificação do Sisbov (Serviço Brasileiro de Rastrabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos, um programa voluntário para a produção voltada ao mercado interno) e que há acompanhamento de técnicos de nutrição, reprodução e sanidade. O Idec acredita que a empresa poderia ter fornecido mais dados para que se soubesse exatamente como é feita essa gestão social e ambiental.
Já o *Wal-Mart*, que possui nove bandeiras de supermercados (*Wal-Mart
Supercenter*, *Todo Dia*, *Maxxi*, *Sam's Club*, *Hiperbompreço*, *Bompreço*, *Mercadorama*, *Nacional* e *Big*), deu respostas incompletas e esclareceu pouco sobre sua participação na cadeia. Disse que compra carne de dois frigoríficos e que "os nomes das fazendas e os municípios [de onde vem a carne] são informações dos frigoríficos que fornecem para o Wal-Mart. Portanto, não possui essa informação".
A empresa afirma também que inclui cláusulas em seus contratos que garantem que todos os animais abatidos venham de "territórios que não sejam áreas de desmatamento". Mas não deixou claro como - e se - tem um controle efetivo para se assegurar disso.
Com relação ao controle de uso de trabalho escravo pelos fornecedores, o
Wal-Mart diz que "caso um fornecedor não atenda as cláusulas do contrato ou passe a integrar a 'lista suja' do trabalho escravo, ele é descontinuado da lista de parceiros da empresa". Isso, ao mesmo tempo em que afirma não ter a relação dos produtores que vendem para os frigoríficos de onde compra - dado imprescindível para ter controle dos contratos.
Mandem um e-mail pelo próprio site do IDEC, é simples e rápido. www.idec.org.br/climaeconsumo/cartoesVirtuais.html
(Fábio Rodrigues, 3Setor,
Portal do Meio Ambiente, 09/06/2008)