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nanotecnologia
2008-06-10

Quando falamos em nanotecnologias as opiniões ainda são bastante divididas quanto a suas possibilidades e limites, mas em um ponto todos os pesquisadores concordam: ainda há muito a ser pesquisado e desenvolvido nesta área. Para falar sobre os impactos que a manipulação de nanopartículas podem provocar, a IHU On-Line entrevistou a pesquisadora Arline Arcuri, que conhecemos durante o Simpósio Uma sociedade pós-humana? Possibilidades e limites das nanotecnologias, ocorrido no último mês aqui na Unisinos. Arline concorda também que muitos estudos precisam ser feitos nesta área, mas quanto aos riscos ela aponta que já há pesquisas com, por exemplo, nanotubos de carbono, mostrando que ele podem provocar cânceres no pulmão de forma semelhante ao amianto.

Arline, que concedeu esta entrevista por e-mail, analisou as nanotecnologias a partir da relação com o trabalhador. Por isso, tratou da política trabalhista brasileira, dasegurança química/física e dos impactos das tecnologias em escala nano nos seres humanos e meio ambiente. Segundo ela, “os produtos novos que estão sendo desenvolvidos, cujas toxicidades são ainda desconhecidas, poderão provocar doenças até agora não identificadas. Não conseguimos ainda acabar com doenças relacionadas ao trabalho antigas como as devidas ao chumbo, amianto, benzeno, sílica e outros e poderemos nos deparar com novas e até surpreendentes doenças".

Arline Sydnéia Abel Arcuri é bacharel em química e doutora em Físico-Química, pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, é membro do Conselho Científico do Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes (DIESAT) e pesquisadora titular da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – A política trabalhista brasileira precisa ser repensada com a inserção das nanotecnologias como um novo tipo de material a ser utilizado em amplos setores da sociedade?
Arline Arcuri –
Certamente, será necessária pelo menos uma adequação, tendo em vista a necessidade de reforçar as medidas de segurança para evitar o aparecimento de doenças e acidentes. De forma geral, os médicos alegam dificuldades em fazer nexo entre as doenças dos trabalhadores e seus ambientes de trabalho até quando estes trabalham com agentes de toxicidade conhecida há muito tempo. O que esperar de possíveis doenças que poderão advir da exposição a produtos que, embora antigos, agora passam a ser manipulados em escala nanométrica ou dos absolutamente novos que vem sendo desenvolvidos?
 
IHU On-Line - Os riscos de se trabalhar com elementos nanotecnológicos estão sendo levados em conta no Brasil?
Arline Arcuri -
A Fundacentro, que é uma instituição voltada ao desenvolvimento de estudos e pesquisas na área de prevenção de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, desenvolve um projeto que visa ao estudo dos impactos das nanotecnologias na saúde dos trabalhadores. A Rede de Pesquisa em Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente (Renanosoma), rede voltada à pesquisa em nanotecnologia, sociedade e meio ambiente, também tem feito debates sobre este tema. Elas vêm desenvolvendo parcerias, nas quais se incluem entidades voltadas aos trabalhadores, como o Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes (Diesat), Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas (IIEP) e outras instituições como o Incra, que, no âmbito do projeto acima, estão discutindo a produção de pesquisas voltadas ao conhecimento da situação dos riscos no trabalho envolvendo nanotecnologia em laboratórios e empresas brasileiras. Para nós, ainda é desconhecido se existem por parte das empresas e laboratórios de pesquisa algum cuidado especial para a proteção de seus trabalhadores.
 
IHU On-Line – Qual é a situação da segurança química/física internacional?
Arline Arcuri –
No âmbito da segurança química, existem pelo menos duas iniciativas internacionais importantes que são: o Fórum Intergovernamental de Segurança Química (FISQ) e o Strategic Approach to International Chemicals Management (SAICM). O primeiro foi criado em decorrência do capítulo 19 da agenda 21 e o segundo, em certa dimensão, é conseqüência do primeiro e visa ao estabelecimento de uma estratégia internacional para o manejo de produtos químicos perigosos. O quanto cada país já implantou as recomendações emanadas nestas iniciativas é muito variado. Na minha avaliação, a União Européia é a que está mais avançada nesta implementação. Porém, mesmo nestes fóruns o tema nanotecnologia foi introduzido recentemente. Somente na reunião deste ano do FISQ, que se reúne a cada três ano, é que aparece este tema nas discussões. Na Organisation for Economic Cooperation and Development (OECD), também existe em atuação grupos discutindo os impactos das nanotecnologias e este também foi tema de uma oficina de trabalho recente organizada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
 
IHU On-Line – Quais são os impactos da nanotecnologia na saúde dos trabalhadores já previstos?
Arline Arcuri –
Existem alguns estudos mostrando os efeitos provocados por nanopartículas antropogênicas (isto é, produzidas de forma não intencional pelo ser humano), especialmente no sistema respiratório. Os efeitos são provocados principalmente pelo tamanho da partícula assim, é de se esperar que outros materiais utilizados em escala nanométrica também venham a apresentar efeitos semelhantes. O que é pouco conhecido são os efeitos específicos que cada tipo pode provocar devido a outras características decorrentes do tamanho, como a reatividade da superfície e a forma com estas partículas vão estar presentes. Existem alguns estudos em laboratórios, feito sem vitro ou em animais que ajudam a prever alguns possíveis impactos. Estudos feitos com nanotubos de carbono em mostram que eles podem vir a provocar cânceres no pulmão de forma semelhante ao amianto. Recente publicação sobre nanotoxicologia discorre em seu prefácio sobre o pouco conhecimento dos riscos que estas tecnologias emergentes podem vir a acarretar. Assim, podemos dizer que há muito ainda ser pesquisado sobre os impactos.
 
IHU On-Line – Em relação à interação das nanotecnologias e ao meio ambiente, quais são os principais problemas éticos? Ainda faltam políticas de regulação?
Arline Arcuri –
Já há alguns produtos químicos para os quais se atribui responsabilidade pela extinção de algumas espécies vivas, como os disruptores endócrinos. Este efeito só foi descoberto após o estudo dos efeitos em locais onde estes produtos foram descartados ou esparramados em algum acidente. Este e outros inúmeros exemplos deveriam servir de alerta sobre este e outros riscos que poderão vir a aparecer pela interação dos produtos decorrentes das nanotecnologias no meio ambiente. Outro problema que me parece importante destacar é que existem trabalhos apontando para soluções para algumas contaminações ambientais por meio de nanotecnologias. Isto poderia servir de “justificativa” para não se tomar os cuidados necessários no descarte de produtos já que já estariam disponíveis “soluções” para os problemas ambientais que esta atitude poderia provocar.

Outras questões éticas também seriam: novas formas de vida, que poderiam ser espalhadas com comportamentos desconhecidos, frutos da nano e biotecnologias juntas; novas tecnologias aplicadas na lavoura, que poderiam não apenas provocar impactos ao meio ambiente como levar ao desemprego no campo; falta de conhecimento sobre os impactos ao meio ambiente de novos produtos criados pelas nanotecnologias, que podem levar ao extermínio de algumas espécies etc.
 
IHU On-Line – Há relatos de casos que exemplifiquem a preocupação que devemos ter em relação à manipulação de nanotecnologias e seus impactos no meio ambiente e, principalmente, na saúde do trabalhador?
Arline Arcuri –
Trabalho na área de prevenção de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, especialmente devido a agentes químicos. Além disso, a Fundacentro é uma entidade ligada ao Ministério do Trabalho e Emprego que possui entre suas atribuições a fiscalização dos ambientes de trabalho quanto à saúde e segurança de seus trabalhadores. Diariamente, encontramos trabalhadores em situação de riscos devido à exposição a agentes e situações há longo tempo conhecidas como possíveis causadoras de doenças e acidentes. Estas situações ainda não foram solucionadas. Infelizmente, a preservação da saúde dos trabalhadores não é prioridade para grande parte das empresas nos mais diferentes ramos industriais. Se nem com relação aos possíveis danos já conhecidos são utilizadas as medidas de proteção recomendadas, o que se esperar quanto a situações de trabalho nas quais são manipuladas substâncias, algumas delas até conhecidas, mas em escala maior, não nanométrica, e outras absolutamente novas, para as quais não se tem ainda informações sobre efeitos.

Ainda não conhecemos situações concretas de possíveis exposições. Pretendemos, este ano ainda, efetuar visitas a algumas empresas para saber se elas vêm tomando algumas atitudes especialmente voltadas às prevenções, para a proteção dos trabalhadores que produzem materiais nanoestruturados. Mas a experiência adquirida, citada no início desta resposta, infelizmente, nos traz muita preocupação quanto às situações que poderemos encontrar.

IHU On-Line – A senhora participou do simpósio Uma sociedade pós-humana? Possibilidades e limites das nanotecnologias. Como analisa os textos apresentados durante o evento e relaciona com a problemática acerca do trabalhador?
Arline Arcuri –
Fiquei mais impressionada do que já estava sobre os possíveis impactos das nanotecnologias, especialmente na sociedade. Aconteceram várias palestras sobre aspectos filosóficos, sociais sobre os quais eu ainda não havia refletido, e que me levam a pensar muito sobre este novo ser, meio homem, meio máquina que poderá surgir como resultado destas nanotecnologias, aliadas à biotecnologia, informática e conhecimento das funções cognitivas. Estas questões vão além do mundo do trabalho, mas certamente este será e na verdade, já está sendo afetado. Os produtos novos que estão sendo desenvolvidos, cujas toxicidades são ainda desconhecidas, poderão provocar doenças até agora não identificadas. Não conseguimos ainda acabar com doenças relacionadas ao trabalho antigas, como as devidas ao chumbo, amianto, benzeno, sílica e outros, e poderemos nos deparar com novas e até surpreendentes doenças. Além disso, as novas formas de produção poderão provocar grande impacto sobre o emprego. Produtos multifuncionais certamente contribuirão para a eliminação de algumas profissões.

(Instituto Humanitas Unisinos, 10/06/2008)


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