Editor da rádio Brasil Indígena, Anápuáka Muniz Pataxó Hã-hã-hãe se mostra reticente a respeito da gestão do novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. Ele critica a política indigenista brasileira, mas por motivos bastante diferentes do governador de Roraima, José de Anchieta Júnior (PSDB). Leia os principais trechos.
Fórum – O que você acha da reestruturação do Ministério do Meio Ambiente e do Plano Amazônia Sustentável (PAS)? O novo indicado para o Ministério, Carlos Minc, terá força dentro do governo?
Anápuáka Muniz Pataxó Hã-hã-hãe – A reestruturação para nós indígenas, e para mim como cidadão vem para fortalecer a política do PSDB, uma vez que sua política no estado do Rio de Janeiro não foi das melhores. Mas, ele é um marqueteiro, estava sempre na mídia colocando em evidencia as realizações de sua secretaria. Não confio mais em Carlos Minc, mesmo afirmando não ser um "carimbador maluco" nos processos das licenças ambientais. Ele é autor de uma relevante lei que limitava, em todo o território fluminense, as plantações de eucalipto, por considerar este plantio prejudicial ao meio ambiente, algo já constatado por técnicos e ambientalistas – onde tem eucalipto não tem um passarinho para dar sinal de vida.
Quando foi nomeado pelo governador Sergio Cabral (PMDB) para estar à frente da Secretaria do Meio Ambiente, Carlos Minc deu um girou de 180 graus e passou a apoiar a revogação da legislação de sua própria autoria. Com este procedimento, foi alvo de duras críticas dos defensores do meio ambiente, que não se conformaram com o fato de que, graças ao próprio Minc, a compensação com o reflorestamento baixou de 30 para 10 hectares de mata nativa para cada em de eucaliptos, permitindo que a Aracruz Celulose ingressasse com toda a força no Estado do Rio de Janeiro.
O PAS é um plano em que confio, pois a ex-ministra Marina Silva estava conduzindo de forma inteligente, racional e equilibrada com as diversidades das regiões. Isso é algo nunca antes feito por ministros do Meio Ambiente.
O Ministro Carlos Minc sofrerá retaliações. Vejo que terá muitos "tapinhas nas costas" por todos, mas não será levado a sério. Haverá pressão política e econômica dentro e fora de sua pasta para que ela não tenha futuro. Minc se tornou um ideologista, não é mais um homem de luta como foi na época que fundaram o Partido Verde (PV) junto com Alfredo Sirkis e Fernando Guabeira.
Fórum – Minc é visto com desconfiança por ativistas ligados ao meio ambiente. Qual sua expectativa e avaliação em relação a gestão do Minc?
Anápuáka – Como os demais estamos com receio. Foi muito impactante a mudança, porque era uma coisa que estava dando certo. É complicado quando há pressão dentro do próprio ministério para ceder aos interesses do meio econômico. A pressão dos ruralistas e senhores do agronegócio é para destruir. Tanto sem olhar para o passado e menos ainda para o futuro da humanidade.
Fórum – O governador de Roraima, José de Anchieta Júnior (PSDB), criticou a política indigenista do governo e às organizações não-governamentais (ONGs) que atuam na região. Afirmou que a política indigenista é caótica, incoerente e irresponsável. Como o senhor analisa essa afirmação do governador?
Anápuáka – A política indigenista não é a melhor mesmo, mas a culpa é deles. Até porque quem legisla em causa propria são eles. Isso limita a aplicação das boas políticas de garantia de direitos. A política indigenista não é boa para garantir qualidade de vida aos povos indígenas.
(Revista Fórum ,30/05/2008)