Muros, cercas e até parte de uma casa destruídos, pátios alagados, ruas cheias de barro e pedras. Esse foi o saldo da chuvarada registrada entre sábado e ontem em Santa Cruz do Sul, onde desde a última sexta-feira choveu 101,8 milímetros. Dados da estação meteorológica da Unisc apontam que do dia 1º até agora o volume acumulado é de 111,8 milímetros na cidade, 10 milímetros a menos que o esperado para todo o mês de junho.
O caso mais grave foi registrado no Bairro Margarida/Aurora. Um deslizamento de terra e pedras no alto da Rua Luiza Geiss deixou uma casa de madeira parcialmente destruída. Por pouco Maria Santa May, de 82 anos, não foi atingida por uma parede. “Eu estava deitada quando ouvi o barulho. Deu tempo só de levantar e sair do quartinho. A terra derrubou a parede, que veio abaixo e estragou quase tudo o que eu tinha”, contou.
A moradora Juraci Santos, de 44, suspeita que o aguaceiro vindo do Monte Verde pelo morro que divide os dois bairros provocou o deslizamento porque vizinhos próximos fizeram uma valeta para desviar a água da casa deles. “Só que aí aumentou a quantidade da água que corre aqui”, constatou, apontando para os pilares da casa, cuja base encolhe a cada chuva forte. O medo da vizinhança agora é que caia um muro de pedras de alicerce construído nos fundos casa.
Conforme Juraci, o Corpo de Bombeiros e a Prefeitura estiveram no local no fim de semana e recomendaram aos moradores que deixassem as casas, orientação que não foi seguida por causa da criminalidade. “Já temos pouca coisa, imagina se sairmos daqui. Não vai sobrar nada. Os ladrões não perdoam”, reclamou. De acordo com o secretário de Transportes e Serviços Públicos, Élio Alves, técnicos avaliarão o local assim que o tempo melhorar. A área é considerada de risco pela Defesa Civil.
Também no Margarida, um barranco deslizou, alagando as casas de Alauir da Silva, 48, e da filha dela, na Rua Lotário Heuser. Os bombeiros foram chamados e entregaram lonas. “A casa ficou toda molhada. Na noite passada nem pude dormir aqui”, relatou Alauir. No lado oposto ao que houve o deslizamento, outro barranco ameaça cair, colocando em risco a casa vizinha, distante cerca de um metro. Segundo os moradores, uma árvore estaria evitando o deslizamento.
Bom Jesus
Na subida do Acesso Grasel – uma das entradas da cidade –, as chuvas fortes de sábado derrubaram pedras no pequeno acostamento. A Prefeitura sinalizou o local, mas espera o tempo melhorar para remover as pedras. De acordo com o secretário Élio Alves, no Bairro Cristal o pátio da Emei Vovô Arlindo ficou alagado, mas o problema não comprometeu o atendimento às crianças. “No Centro houve pontos isolados de alagamento por causa de bueiros entupidos. Choveu muito em um curto espaço de tempo.”
No Bairro Bom Jesus, um problema antigo voltou a incomodar os moradores da Rua Montevidéu. Apesar do buraco aberto pela Prefeitura para conter a água que desce dos morros, a chuva abriu crateras na Travessa Montevidéu. Um poste de luz no meio da travessa corre o risco de cair e o asfalto ficou coberto de lama e pedras. “Algumas casas foram atingidas pela água”, contou o presidente da associação de moradores, Clairton Ferreira. Segundo ele, os moradores aguardam a solução do problema desde 2006, quando um abaixo-assinado foi entregue na Prefeitura.
O tempo instável dos últimos dias é resultado, segundo a MetSul Meteorologia, de uma frente fria que cruzou o Estado. A estação meteorológica da Unisc, no Bairro Universitário, registrou 11 milímetros de chuva na sexta; 27,6 no sábado; 35 no domingo e 28,2 até a tarde de ontem.
A previsão para hoje é que o tempo melhore ao longo do dia, quando as temperaturas voltam a cair. Segundo o meteorologista Eugênio Hackbart, a próxima madrugada será gelada em todo o Estado, com mínimas abaixo de 5 graus em todas as regiões, favorecendo a formação de geada. Nas partes mais altas do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina pode fazer temperaturas abaixo de zero amanhã.
(Por Igor Müller, Gazeta do Sul, 10/06/2008)