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emissões veiculares
2008-06-10

Conhecida no mundo inteiro como "carpool" ou "rideshare", a carona solidária é uma alternativa simples e eficaz

O trânsito de Lisboa não é intenso e agressivo como o de São Paulo e a capital portuguesa conta com uma excelente infra-estrutura fluvial, ferroviária e metroviária, além de bondes elétricos e ônibus.

Mesmo assim, os cidadãos portugueses optaram pelo chamado "carpool" para se deslocar. Lá, o sistema de carona solidária conta com cerca de mil pessoas.

Morei em Portugal por algum tempo e, no ano passado, quando ainda estava lá, eu e uma amiga falávamos sobre o seriado "Carpoolers", que estreou em maio deste ano na TV a cabo brasileira. Conta histórias da convivência de um grupo de caronistas ecologicamente responsáveis.

O assunto veio à tona porque, na época, o Parlamento Europeu bombardeava a mídia local com as preocupações sobre a redução das emissões de CO2. Portugal precisava encontrar soluções para se adequar às novas regras, e o "carpool" parecia ser uma ótima idéia.

No Brasil, a carona solidária ainda não penetrou no cotidiano das pessoas, mas já há um esforço nesse sentido. A Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo lançou, no último dia 28/5, a campanha Carona Legal, um incentivo para a população compartilhar os trajetos de carro.

Conhecida no mundo inteiro como "carpool" ou "rideshare", a carona solidária é uma alternativa simples e eficaz. A idéia surgiu em vários lugares com objetivo semelhante, mas por motivos diferentes.

Na Europa, a carona foi estimulada pelo Parlamento para que cada país cumprisse sua cota na redução de emissão de CO2. A utilização de automóveis na União Européia tem um impacto significativo nas alterações climáticas, na medida em que representa 12% das emissões globais. Diante desse problema, as autoridades comprometeram-se em minimizar os impactos do trânsito no efeito estufa e estabelecer objetivos para melhorar a eficiência energética.

O cidadão europeu leva muito a sério as questões ambientais. Assim, a energia limpa e renovável é uma realidade em alguns países da Europa e a carona passou a fazer parte da vida urbana.

Nos EUA, a idéia da carona foi impulsionada pelo "global warming", pela crise imobiliária, pelo aumento no custo da gasolina e pela dependência do petróleo estrangeiro, além do trânsito caótico. O "carpool" passou a ser uma solução economicamente viável, ecologicamente correta e socialmente responsável.

No Canadá, a alternativa surgiu por uma questão de saúde pública. A Secretaria de Saúde do país estima que cerca de 16 mil canadenses morram prematuramente por ano e que o número de internações de crianças por doenças pulmonares esteja diretamente relacionado ao aumento da poluição atmosférica. O governo canadense irá gastar aproximadamente US$ 1 bilhão em 2008 com programas associados à poluição.

Há também quem opte pelo esquema para economizar. Um trabalhador que utiliza um veículo 1.6 numa cidade como São Paulo roda em média 18 mil quilômetros por ano, consumindo um litro de gasolina a cada dez quilômetros. Isso resulta num custo de aproximadamente R$ 5 mil anuais, sem contar o tempo perdido no trânsito e as despesas com pneus, troca de óleo, revisão, entre outros. Com a carona, ele pode economizar até R$ 3,5 mil. Uma diferença significativa no orçamento familiar.

A Universidade Stanford (EUA) criou um sistema de incentivo para utilização do "carpool" entre os alunos com vagas de estacionamentos exclusivas para caronistas e compensações em dinheiro. Empresas desenvolvem programas de incentivos pontuando o funcionário que chega de bicicleta, "carpool", van ou a pé. As premiações variam de carros ecoeficientes a GPS e vagas em estacionamento.

A carona é um compromisso com a comunidade, com a cidade, com a saúde pública e com a vida.

O sistema já existe aqui. Lançado durante a primeira Mostra de Tecnologias Sustentáveis, organizada pelo Instituto Ethos no fim de maio, o projeto MelhorAr reforça as ações do governo estadual e propõe redução de veículos por meio de caronas corporativas. A idéia é atingir primeiro o público interno das grandes empresas para depois abranger a população como um todo.

É preciso desenvolver um senso de cidadania, no qual cada um tenha consciência de seu papel no futuro do planeta. A carona solidária pode, sim, ser uma realidade no Brasil.

(Por Lincoln Paiva, Folha de São Paulo, 10/06/2008)


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