O lixo de Nápoles – garrafas plásticas de água Ferrarell, cópias encharcadas da revista Internazionale, restos de alimentos se decompondo – foi parar em Hamburgo, e espera para ser jogado no incinerador dos subúrbios desta organizada cidade alemã.
Por meses, montanhas de lixo apodrecendo foram se acumulando nas vias da cidade ao sul da Itália já que a região carece de espaços para depositar o lixo que recolhe. Portanto, nas próximas 11 semanas, um trem com 56 vagões chegará a Hamburgo, depois de uma jornada de trabalho de 44 horas, cada um carregando 700 toneladas de lixo vindo de Nápoles.
"Nós estamos fazendo isso porque nos foi pedido ajuda emergencial, mas faremos isso somente por alguns meses, não por anos,” disse Martin Mineur, diretor de duas incineradoras de Hamburgo. “Essa não é uma medida de longo-prazo. A Itália precisa resolver os problemas da Itália.”
Mas os problemas da Itália ecoam pela Europa, onde Nápoles cada vez mais é tomada por um cheiro asqueroso de um passado inabitável, e Hamburgo aparece como seu futuro. Pelo continente, as áreas destinadas ao lixo estão sendo preenchidas rapidamente e no pouco espaço disponível na Europa, é difícil encontrar novos espaços para depositar o lixo. O problema tem obrigado os europeus a diminuírem o desperdício.
Por volto de 2020, a União Européia exigirá que seus países membros reduzam a quantidade de lixo em 35% da quantidade de 1995. Exigências já começaram restringindo e reduzindo severamente o uso de depósitos de lixo devido aos problemas sanitários e ambientais que eles provocam.
Mas não será fácil. Itália, Espanha, Grécia e Inglaterra continuam a enviar 60% de seus lixos para esses depósitos. Um recente estudo concluiu que é improvável esses países encontrem novos depósitos de lixos, assim com Irlanda e França. (Nos EUA, 55% do lixo são enviados para depósitos, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental.) “É um problema difícil,” disse Barbara Helferrich, porta-voz da Diretoria da Comissão Européia do Meio Ambiente. “Mas alguns países estão administrando o lixo muito melhor que outros.”
A Alemanha e alguns países do norte da Europa passaram boa parte da última década desenvolvendo estratégias para reduzir e descartar o lixo produzido pela vida moderna: fecharam depósitos de lixo poluentes e investiram pesado em reciclagem e programas de redução de lixo.
A Itália “tem o dinheiro da União Européia,” apontou Helferrich. “Eles têm suporte técnico. Mas eles ainda não têm um plano. Nápoles ainda não aplica a legislação, e está se movendo lentamente na direção de uma solução apropriada.” Na verdade, depois de anos de aviso, a Comissão Européia, se posicionou contra a Itália em Maio, declarando que ela vem falhando em completar suas obrigações de coletar e se desfazer de seu lixo.
(Por ELISABETH ROSENTHAL, The New York Times, Ultimo Segundo, 10/06/2008)