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crise do lixo italia
2008-06-10

Michele Orsi, de 47 anos, sócio da empresa de coleta de lixo Eco4, sabia demais. Vivia em Casal di Principe, uma cidade de 20 mil habitantes na província de Caserta, perto de Nápoles, o feudo do bando camorrista mais poderoso, o dos Casalesi, cujo "capo" é Francesco Schiavone, o Sandokan. Orsi iria testemunhar na quinta-feira diante do juiz sobre as ligações que unem políticos, empresários, camorristas e funcionários públicos em torno do negócio de lixo na Campania. Surpreendentemente, no domingo Orsi resolveu passear. Não tinha escolta. Dois pistoleiros cruzaram seu caminho e lhe deram 18 tiros. Três o atingiram, dois no peito e um na cabeça, e Orsi se transformou na quarta testemunha assassinada no último mês.

Sete dias depois, a polícia continua sem pistas. Como manda o roteiro dos assassinatos mafiosos, ninguém em Casal di Principe viu nem ouviu nada. "Omertà" absoluta. Sua morte deu uma virada sinistra na crise do lixo em Nápoles. Caserta é a área mais afetada pela emergência que vive a região da Campania desde 1994. Além disso, é a cidade natal de Roberto Saviano, o autor de "Gomorra", livro-reportagem que revelou ao mundo o funcionamento do Sistema.

Saviano, que hoje vive permanentemente sob escolta por causa das ameaças de morte, explicou depois do assassinato de Orsi que este "era um empresário líder do setor do lixo que ganhou milhões de euros com os clãs da Camorra". Seu advogado, por sua vez, definiu o dono da Eco4 como "uma vítima que durante anos pagou 15 mil euros mensais para a Camorra".

A razão do imposto é que Orsi tinha conseguido nos últimos anos os contratos para eliminar o lixo em 18 lugares diferentes da região. "Ele e seu irmão Sérgio cuidavam do lixo de 150 mil pessoas", diz Maurizio Braucci, escritor napolitano e co-roteirista de "Gomorra". "Tinham contatos com políticos, com os colaboradores do comissário especial que administra a emergência do lixo e com a Camorra. Era uma das pessoas chaves na diabólica rede de corrupção e clientelismo que se esconde atrás da emergência do lixo em Nápoles."

Franco Roberti, promotor-chefe antimáfia, lamentou tanto quanto a família de Orsi sua morte. "Perdemos uma ocasião excepcional de atingir os clãs", disse. "Ele havia decidido denunciar as relações entre políticos e 'capos'. Suas palavras teriam irritado muita gente. Havia muitos interessados em tirá-lo do caminho."

O promotor Roberti se queixou de que o Estado não seja capaz de proteger as testemunhas antimáfia de maneira eficaz. "A única forma é tirá-los do território controlado pela Camorra, e Orsi não pediu para ser incluído no programa que teria permitido isso", explicou. O advogado revelou que, de todo modo, Orsi estava muito assustado. "Vinha ao meu escritório todos os dias porque era o único lugar onde estava seguro."

Parece estranho que Orsi não tenha pedido proteção. Ele havia sido detido em abril de 2007 no âmbito de uma grande investigação anti-Camorra, tinha começado a cantar e havia recebido ameaças de morte dois meses antes de ser assassinado. Mas, segundo o Ministério do Interior, ainda estava no limbo dos informantes, que não podem se beneficiar do plano de proteção previsto para os arrependidos. O secretário do Interior, Alfredo Mantovano, indicou que Orsi "nunca havia sido qualificado como colaborador da justiça".

Foi uma crítica direta aos magistrados e mais um sintoma de que a trama de Nápoles não se explica sem um grande número de matizes e de interesses cruzados. O que tem o aspecto de uma guerra entre o Estado e a Camorra, como seria lógico em um país normal, esconde outras guerras mais antigas e soterradas. E bem mais sujas.

"A chave é entender que a batalha principal é um enorme negócio", explica Braucci. "O problema que se joga hoje nasceu há 15 anos, em 1994, quando o governo decidiu que a emergência do lixo na Campania fosse administrada por um comissário especial nomeado por Roma, e não diretamente pela região."

Segundo Braucci, essa decisão causou a criação de um "grande número de entidades, empresas e consórcios privados e públicos que dependiam do comissário. Essa imensa rede significava contratos de trabalho, estes significavam clientelismo e votos para os partidos, e isso por sua vez significava corrupção".

Assim nasceu uma imensa rede de troca de favores que dura até hoje. E se consolidou um sistema de emergência na gestão dos resíduos, o que implica que na Campania há 15 anos o lixo é eliminado sem cumprir "nem as normas italianas nem as européias", afirma Braucci. "Os juízes, com erros e boa vontade, tentaram conter os abusos ecológicos, mas os políticos os impediram. O negócio era tão grande que deixou de ser regional e se transformou em nacional", continua o escritor.

A Impregilo, a maior empresa financeira da Itália, com sede em Milão, teve entre 2000 e 2005 um contrato exclusivo para eliminar os resíduos da região. "Todo o ciclo do lixo estava nas mãos de sua empresa Fibe", lembra Braucci. O resultado da gestão foi o caos e um julgamento por crime ecológico. "O comissário de 2000 a 2005, Antonio Bassolino, hoje presidente regional, foi processado com um filho e um sobrinho de Romitti, o dono da Impregilo.

Os juízes lhes confiscaram 750 milhões que agora lhes devolveram". Durante anos o lixo urbano foi depositado nos mesmos depósitos e vazadouros utilizados pela Camorra para enterrar resíduos tóxicos. A conexão Camorra-lixo perigoso vinha de longe e cruzou em uma trama diabólica com a emergência do lixo urbano. Nos anos 1980, a máfia napolitana havia descoberto o grande negócio: oferecer às empresas do norte do país para cuidar de seus resíduos tóxicos, levando-os para o sul. "Aí ocorreu o curto-circuito. A Camorra começou a descarregar veneno nos depósitos normais, e cruzaram os caminhos dos partidos, da ecomáfia, do Estado e das empresas. Os cidadãos começaram a protestar e tudo veio à luz."

(Por Miguel Mora, El País, tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves, UOL, 10/06/2008)


 


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