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semana do meio ambiente desmatamento da amazônia passivos do agronegócio
2008-06-09

Todo ano é a mesma coisa. Dia 05 de junho, dia internacional do meio ambiente. Semana de debates, plantio de mudas de árvores, palestras. Matérias e mais matérias sobre os problemas enfrentados pelo planeta. Aquecimento global, mudanças climáticas, o desmatamento da Amazônia, a extinção do pampa, da caatinga, do cerrado. Enfim, inventamos a história da comemoração, marcar uma data, que acaba gerando vários negócios. Muito bom para empresas divulgarem as suas ações pelo sustentável. Uma vez li, de um especialista em português, que o termo meio ambiente é totalmente sem sentido. Nem é a metade do ambiente, nem o intermediário, o que dá acesso. Pouco importa. Na civilização das marcas e das celebridades, a verdade está sempre muito longe da realidade. O que interessa é o discurso e a versão publicada.

A tal civilização ocidental, agora também mundial, porque conseguiu implantar – finalmente – o seu modelo na Ásia, criou um fato inédito: botar na cabeça das pessoas que meio ambiente é algo exótico, um projeto de poucas pessoas, principalmente ongs, que atrapalham o progresso do planeta. São chamados de “ecochatos”, “xiitas” e coisas do gênero. Agora, na onda brasileira do crescimento de 5%, parece que o problema é muito grave. Licenças ambientais precisam ser agilizadas, mesmo na calada da noite, como no caso do RS, com as papeleiras, via ordem judicial. O agronegócio não pode parar, há falta de alimentos no mundo, como se a soja fosse um alimento de humanos. O grão exportado à Europa ou a China faz parte da dieta de bois, porcos e galinhas. Alimento é um produto que sobe de preço em todo o mundo e ameaça se tornar um artigo de luxo, pelo menos, em muitos países.

Recordes Inúteis
De qualquer forma o que poderíamos comemorar na semana do meio ambiente? O aumento do dióxido de carbono na atmosfera (CO2), ou a produção recorde da indústria automobilística, muito festejado no RS, com a marca de um milhão de carros, de uma montadora norte-americana? O recorde na produção de carne bovina, com prováveis 5 bilhões de dólares de faturamento em 2008, ou o crescimento do desmatamento no Pará, no Mato Grosso, em Rondônia, e o que é pior, no Amazonas ? Poderíamos comemorar a ascensão do professor de Harvard, estadunidense abrasileirado, agora especialista em florestas tropicais úmidas, ao posto de estrategista do sustentável? Um parêntesis: “a Amazônia não é apenas uma fileira de árvores......e a Amazônia não ficará intocável para deleite da humanidade”. Duas declarações repetidas pelo “yankee”, conforme significado original da tradução – nativo norte-americano.

Quem sabe o salto no preço do petróleo – a 135 dólares/barril – elevação de 100% em um ano-/ o que significa um aumento de 1 milhão de barris por dia, com um consumo diário de 86,6 milhões/barris, conforme informação da Agência Internacional de Energia? Sim, porque com isso, fortalecemos a produção de etanol da cana- de- açúcar, e nós brasileiros, entraremos na história da humanidade, como o povo que descobriu a alternativa energética sustentável do século XXI , da era cristã. Mesmo que para isso, uma parte do nosso milionário rebanho bovino (mais de 190 milhões de cabeças) seja empurrado em direção à região norte. Casualmente onde se localiza a última grande floresta do planeta, responsável por administrar 20% da água doce mundial, somente na bacia do amazonas. E , liberar na atmosfera, 7 trilhões de toneladas de água por ano. Cálculo do grupo de estudos sobre biodiversidade na Amazônia, reunido em 1999, num seminário em Macapá, onde estavam presentes os maiores especialistas no assunto além de todos os órgãos oficiais e de pesquisa do pais.

Momento Extraordinário
A cotação do boi já passa dos 80,00 reais/arroba em São Paulo e a pecuária de corte vive um “momento extraordinário”, como diz um economista da Fundação Getúlio Vargas. Para quem não conhece o setor, em 2005, 2006 ocorreu uma grande matança de fêmeas (vacas). Isso aconteceu porque os preços dos produtos – boi gordo, bezerro (terneiro) e garrotes ou recria- estavam em baixa no mercado. A vaca é a última saída do fazendeiro para pagar os contas. Agora é o contrário. As vacas são retidas, e os preços em todo o ciclo, estão em alta. Também quer dizer, mais dinheiro no mercado, e a compra de novas terras.

Enquanto isso, caminhoneiros e agricultores protestam na Europa, em função dos preços do petróleo. A Noruega vai investir 100 milhões de dólares em um fundo que o governo federal criará, uma nova fórmula de “proteger” a floresta. No dia 31, uma das primeiras portarias, que o novo ministro assinou, diz o seguinte:

“Permite aos produtores de cem municípios em transição entre os biomas Amazônia e cerrado, onde ocorrem desmatamentos, receber crédito oficial. Eles integravam a lista de 527 municípios com créditos suspensos”. É uma notinha perdida no jornal. Tem uma outra: “ o projeto de exploração sustentável da floresta na região de Anapu, oeste do Pará, está parado há três anos, desde que a irmã Dorothy Stang, autora da idéia, foi assassinada. Seu plano era transformar os quase 200 mil hectares em um grande modelo de exploração por agricultores familiares. Porém, mais da metade do território continua ocupado por fazendeiros e madeireiros”.

Entre o discurso e a prática, há um abismo muito grande no Brasil. O desafio dos brasileiros não é implantar um projeto que avança pelo país, como um pacote fechado, sem margem de discussão: ou é soja, ou é boi, ou é cana. Assunto encerrado. Feito em grandes propriedades, com crédito oficial. A dívida é renegociada de tempos em tempos, como aconteceu recentemente: 75 bilhões de reais, das décadas de 80 e 90, sendo 65 bilhões da chamada agricultura comercial e 10 bilhões da familiar. Desafio seria criar um modelo que aliasse recursos naturais e exploração econômica. No mínimo, poderíamos acrescentar algo na história do planeta. Mas não. Quem desenvolve a tecnologia de energia solar, células fotovoltaicas e outros equipamentos usados na produção de energias alternativas é a Alemanha. Na contramão, buscamos tecnologia para ressuscitar Angra 3.

Bloqueio Econômico
Vamos viajar na maionese do agronegócio: transformaremos a Amazônia em um imenso campo de soja, pontilhado por pastagens de braquiária africana, onde os zebuínos nelore engordarão. Seremos conhecidos mundialmente como o povo que destruiu a última grande floresta do planeta, ou, por nossos índices de produtividade na leguminosa e na quantidade de arrobas por hectare de carne bovina?

A Amazônia não é e nunca foi o pulmão do mundo, a ciência já esclareceu isso. Porém , ela é um dos componentes do sistema climático mundial, com influência nos dois hemisférios – nunca esquecendo que 40% da floresta é dividido em outros oito países da América do Sul. Quem recicla a água e produz metade da chuva na região é a própria floresta. Sem vegetação o que acontecerá? A terra dentro dos rios, queda no volume de chuvas, aquecimento do solo e do clima local. É o óbvio. Mudanças no clima em toda a América Latina e em outras partes do mundo.

A floresta é uma das grandes fábricas de nuvens do planeta. Quanto custa isso? Trilhões de dólares. E mais: haverá intervenção dos países ricos certamente. Não tenham dúvida. Não com aparato militar, invasão. Bloqueio econômico. Veta a soja, a carne e a madeira que sai da região. Desmorona o agronegócio em dois anos. Não agüentam duas safras.

Quem quiser tirar a dúvida, ande pelo cerrado, na região de Rondonópolis, terra do governador Blairo Maggi. Veja o que sobrou do cerrado, depois, siga pelo rio Taquari, a partir de Coxim, 250 km abaixo, já no Mato Grosso do Sul. Um dos maiores rios que abastece o pantanal perdeu o leito, inundou uma extensa área – incluindo muitas propriedades -, totalmente assoreado, da terra que saiu das lavouras, localizadas rio acima. O rio Taquari é o retrato atual, das conseqüências. Podemos continuar em frente, na liberação total, e ficar como os bilionários chineses tomando Romane Conti (vinho exclusivo dos ricos) misturado com Coca-cola. É a moda lá. Um deles comprou 500 mil dólares em garrafas de Romane Conti, pagando UR$18,5 mil por garrafa.

(Por Najar Tubino*, Ecoagencia, 06/06/2008)
*Najar Tubino é jornalista


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