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Augusto Ruschi ambientalistas aracruz/vcp/fibria
2008-06-09
Quando o professor Fillipo Silvestri, do Reggio Laboratorio de Entomologia de Portici, Nápoles, Itália, recebeu, em meados de 1937, 500 caixas de percevejos, certamente achou o presente inusitado. O material foi doado pelo pesquisador Augusto Ruschi, quando tinha apenas 22 anos de idade. A partir daí, Ruschi ingressou no Museu Nacional, intermediado pelo cientista brasileiro Cândido Firmino Mello Leitão.

O exemplo citado é apenas um dos que traduz para os cenários nacional e internacional, o papel de Ruschi como ecologista, agitador, polemizador e catalogador de pequenos seres vivos. Um marco para a história do Espírito Santo e para a representatividade científica do País.

Dos pequenos seres vivos admirados e pesquisados por Ruschi, talvez o beija-flor tenha sido o mais emblemático. Balança-rabo-do-bico-curvo, beija-flor-verde-da-garganta-azul, beija-flor-verde-do-peito-safira são alguns exemplos, ao mesmo tempo poéticos e delimitados como ciência.

O vôo do colibri, inspirado pela região natal do cientista, as matas de Santa Teresa, foi alçado para regiões mais distantes. Com sua preocupação extremada pela natureza, um misto de amor e devoção, o pesquisador foi também um visionário, no sentido de diagnosticar os problemas ambientais e avisar às futuras gerações o que seria de mais cruel e problemático.

O problema começou logo dentro de casa. Ruschi, embora tenha ensinado aos seus filhos preservar a natureza e a discutir com seriedade questões ligadas ao meio ambiente, sobretudo com uma preocupação sobre o futuro planetário, não colheu os frutos que gostaria. Um dos rebentos, Augusto Ruschi Filho, fundou o Instituto Augusto Ruschi, mas sofreu complicações sócio-políticas no governo José Ignácio Ferreira. Outro filho, André Ruschi, mesmo tendo começado a denunciar as agruras ambientais provocadas pela multinacional Aracruz Celulose, mudou de lado e atualmente presta serviços à empresa, fato que deixaria seu pai em polvorosa.

André é atual coordenador da Associação Capixaba de Proteção ao Meio Ambiente (Acapema), mas presta serviço à Aracruz com peças de campanha e palestras para escolas, justificando o caso não como fator comercial, mas como "cooperação técnica".

Geógrafos constatam desgaste
No município de Aracruz, a empresa toma 40% do território, invadindo toda a região com um estranho odor gerado pela produção de celulose. Na realidade, uma fedentina suportável apenas para o Instituto Estadual do Meio Ambiente (Iema), que considera o cheiro inserido na normatização ecológica.

De acordo com a Associação de Geógrafos Brasileiros, seção Espírito Santo, o rápido crescimento urbano da sede de Aracruz produziu grande quantidade de esgoto, que passou a ser despejado sem tratamento nas nascentes dos rios e córregos próximos à área urbana, entre eles os rios Sahy e Guaxindiba. Rios praticamente mortos.

Em 2008, ano em que a morte de Ruschi completa 22 anos, a Aracruz Celulose celebra sua ascensão como maior produtora mundial de eucalipto. Na semana, o Brasil pôde conferir, no jornal "Correio Braziliense", a reportagem especial "Feridas abertas nas florestas: o preço da devastação", assinada pelo jornalista Lúcio Vaz. Na reportagem há denúncia das práticas mais comuns da empresa: desvio de curso de rios, destruição de mata nascente, divergências com nativos e ampla contribuição em campanhas políticas.

Durante os últimos 40 anos, a Aracruz vem arquitetando sua forma de trabalho, geralmente desvinculada de práticas de preservação ao meio ambiente e quase sempre envaidecendo os candidatos a cargos eletivos. De tanto necessitarem de recursos para as campanhas, os candidatos tornam-se cada vez mais distantes do combate às práticas da empresa.

Como defensor da mata atlântica, qual seria a reação de Ruschi diante da sanha da Aracruz? Talvez tivesse espasmos de irritação, diante de injustiças, as quais rebateria. Seriam reações semelhantes ao caso que envolveu a ameaça da perda da sua estação de pesquisa, a Reserva Biológica de Santa Lúcia, de 279 hectares, ligada ao Museu Nacional, abrigando mais de 200 trabalhos científicos. Na época, o governador Élcio Álvares queria transformar a área numa plantação de palmito.

Compromisso eleitoral
Em sintonia com mandos e desmandos dos governos estaduais, lembrando que nas últimas eleições foram doados pela empresa quase R$ 6,5 milhões a candidatos, grande parte das florestas de eucalipto da Aracruz foi erguida em terras pertencentes a índios e quilombolas. Atualmente, a empresa mantém 105 mil hectares de plantio no Espírito Santo. Vale lembrar, ainda, que o silêncio dos políticos, que apontam a fábrica como aliada ao desenvolvimento do Estado, está associado, freqüentemente, ao comprometimento eleitoral.

Somente no município de Conceição da Barra, 60% (104 mil hectares) são tomados por plantações de eucalipto. O corte das árvores não garante a geração de emprego local. Pelo contrário: é mantido pela mecanização de empresas terceirizadas localizadas no município de São Mateus.

O ecossistema sacrificado pelo eucaliptal tirou, como de assalto, o sustento de famílias ligadas à terra. Segundo o repórter do "Correio Braziliense", que percorreu com sua equipe cerca de dois mil quilômetros no Espírito Santo e no sul da Bahia, "os erros e acertos vividos no Espírito Santo podem servir como ensinamento para a atividade em outros estados."

O estudo dos geógrafos aponta a operação da fábrica de Barra do Riacho como causadora de sérios danos ao meio ambiente. Nascentes e cursos dos rios Santa Joana e dos córregos Santa Joana, Águas Claras, Arroz, Alvorada, Piabas e Constantino são de usos exclusivo da empresa. São vários os exemplos de descaso ambiental.

Em 1998, a empresa usou a transposição de águas do Rio Doce, de domínio federal, para se beneficiar, a partir do aproveitamento de canais de drenagem. As águas passam pelos rios Comboios e Riacho, atingindo áreas indígenas. A usurpação de terras indígenas e quilombolas tem passado por discussões que, por diversas vezes, já ganharam o cenário nacional.

Escassas justificativas
A empresa chama a utilização do aproveitamento do Rio Doce de "adução" e de "reservatórios d´água" rios e riachos que tiveram seus cursos deturpados. É comum esse tipo de justificativa da empresa, que trata do tema com distanciamento, afirmando que os rios secos são resultantes de mau uso do solo, variações climáticas ou irrigação excessiva.

Em Conceição da Barra e São Mateus, comunidades quilombolas reivindicam suas terras, quase 24 mil hectares, depois que gerações anteriores, compostas pela maioria de semi-analfabetos, viram-se obrigadas a negociar o montante por preços ínfimos. Funcionários e ex-funcionários da empresa também foram cerceados e forçados a entrar na negociação, com procurações articuladas com a direção.

No ano passado, os índios das tribos Tupinikim e Guarani, da região de Aracruz, depois de muitos embates políticos, inclusive junto à Funai (Fundação Nacional do Índio), conseguiram a declaração de posse de 18 mil hectares ocupados pela empresa. A luta, no entanto, apesar de ganho moral e histórico, gerou uma perda patrimonial. Assim como os rios, as terras também estão praticamente sem vida. E, enquanto assistem à quase morte dos patrimônios naturais do Estado, os seres humanos também sofrem, à espera de uma convincente explicação.

(Por Cristina Moura, Século Diário, 09/06/2008)

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