Não há outro local no Estado com as mesmas condições produtivas da área em que é plantado o arroz em Roraima, ao sul da Reserva Raposa Serra do Sol, afirma o secretário adjunto de Planejamento de Roraima, Jaime de Agostinho. Para o secretário, o maior dos problemas não é a contigüidade da reserva com a faixa de fronteira, mas o bloqueio do acesso ao potencial econômico da região, causado pela alocação geográfica da reserva.
"A região em que os arrozeiros estão hoje é altamente privilegiada. O plantio é feito em várzea alta, que enche apenas com a água da chuva, não sofre inundação do rio. Dá para se produzir arroz de duas a duas vezes e meia por ano", explica Agostinho. "Nas outras áreas, a várzea é baixa, o rio enche e só se produz uma vez por ano. O governo federal não quer entender isso, acha que todas as terras são iguais", explica ele.
A área de Raposa Serra do Sol ainda concentra reservas identificadas de minérios e pedras preciosas, como ouro e diamantes. Lá está, também, a barragem de Cotingo, onde o governo planejava construir uma usina hidrelétrica, e a Lagoa de Caracaranã, que, segundo o governo, tem importante escala turística. De olho nesse potencial, o governo estadual propõe a exclusão dessas áreas da reserva - um plano que diminuiria a área demarcada em 2.284 hectares (9,26% do total).
Paulo Santilli destaca, no entanto, que argumentos econômicos sempre foram usados contra demarcações no local. "Na época em que foi delimitada a terra indígena, dizia-se que a produção mineral era a vocação do Estado e que a demarcação iria comprometer a renda", lembra o antropólogo. "Depois, foi o garimpo, que não existe mais. Na década de 1990, falou-se que a vocação natural do Estado seria a pecuária. Agora, quando se conclui a demarcação, a produção de arroz passa a ser também um argumento para dificultar a regularização da área. O fim do garimpo ilegal e da produção pecuária dentro da região indígena não comprometeram a vida econômica do Estado", afirma.
(Por Daniel Lima, O Estado de São Paulo, 09/06/2008)