A última esperança de ver os Estados Unidos tomarem alguma providência contra a mudança climática antes de o próximo presidente assumir foi sepultada na sexta-feira. Os republicanos no Senado americano vetaram o projeto de lei que limitaria as emissões de gases de efeito estufa no país que mais polui o planeta. A lei foi proposta pelos senadores democratas Barbara Boxer e Joe Lieberman e pelo republicano John Warner. Ela criaria um sistema de comércio de emissões no país, forçando empresas que emitissem acima da cota a comprar créditos de carbono das que tivessem conseguido exceder a meta de redução de CO2.
Após três dias de discussões sobre o projeto no Senado, os democratas quiseram colocar a lei em votação final, uma moção que precisaria de 60 votos para ser aprovada. Apenas 48 senadores votaram a favor, o que joga para o ano que vem a discussão da medida.
Críticos da legislação, entre eles vários senadores republicanos, disseram que a lei aumentaria o preço da energia nos EUA, incluindo o preço do petróleo. E não há tema mais sensível no momento: com o preço da gasolina numa alta recorde e o desemprego em ascensão em pleno ano eleitoral, falar em aumento do valor dos combustíveis é suicida, na visão de vários parlamentares.
Mas a lei também tem críticos do outro lado do espectro político. Para estes, a proposta permitiria a algumas indústrias prosperar, forçando ao mesmo tempo o americano médio a pagar mais pela energia. Se aprovada neste ano, a lei americana contra o aquecimento global poderia dar um tom mais esperançoso às negociações do acordo que substituirá e ampliará o Protocolo de Kyoto a partir de 2013. O novo acordo vem sendo discutido no âmbito da Convenção do Clima das Nações Unidas, mas tem enfrentado uma enorme resistência do governo George W. Bush.
As negociações oficiais do texto começam no fim deste ano na Polônia, quando o próximo presidente já estará eleito mas o governo Bush ainda não terá acabado. Nesse contexto, a ação do Congresso seria uma sinalização política importante sobre o tamanho das metas de corte de carbono que os EUA estariam dispostos a negociar. Barack Obama, virtual candidato democrata à Casa Branca, criticou a liderança republicana no Senado pelo veto.
(Por Claudio Angelo, Folha de São Paulo, 09/06/2008)