Suinocultura investiu em biodigestores, mas utilização em larga escala ficou em segundo plano
Apesar de ter saído na frente na geração de créditos de carbono, a suinocultura gaúcha enfrenta dificuldade em executar projetos de implantação de biodigestores. O processo, que permite a geração de biogás, começou a ser incentivado pela Associação de Criadores de Suínos do RS (Acsurs) há três anos e é visto como fonte alternativa de renda e de preservação do meio ambiente. Mas a iniciativa esbarra no aspecto prático. Equipamentos, lonas e balões sofrem desgaste rápido em função do alto poder corrosivo do gás metano, formado a partir do dejeto dos animais. Segundo o presidente da Acsurs, Valdecir Folador, trata-se de um projeto que tem tudo para dar certo, mas é prejudicado por problemas de campo. 'Não está funcionando como deveria. Precisamos solucionar detalhes operacionais para podermos incentivar o programa.'
Além dos problemas de suporte, os criadores enfrentam dificuldade de negociação dos créditos de carbono. Companhias especializadas implantam biodigestores e ofertam os créditos ao mercado. O lucro é dividido: 90% para a empresa e 10% para o suinocultor.
Essa opção foi adotada por alguns criadores. Um deles é Vilceu Fontana, proprietário de uma granja com 6 mil suínos, em Charrua, que implantou o biodigestor há dois anos. Hoje, segundo ele, o funcionamento está a pleno vapor. 'Estava num grupo de 15 pessoas, mas todas desistiram no meio do caminho', relata. O investimento, segundo Fontana, foi de R$ 230 mil, mas o retorno, garante, já está ocorrendo. 'No futuro, utilizaremos energia com custo zero. Na fase atual, está funcionando a queima de gás para uma futura venda de crédito de carbono', revela. Além destes ganhos, o empresário rural afirma que tem um depósito de 5 milhões de litros de biofertilizante, que está utilizando sobre o milho, com sucesso.
Benefício ambiental
A instalação dos biodigestores garante que os dejetos suínos não fiquem em contato direto com o solo e ainda permite que os criadores utilizem o gás produzido pelos resíduos sólidos para geração de energia. O excremento é empregado na fertilização do solo.
Na maioria dos casos, o criador opta por contratar empresas especializadas, que fazem o meio de campo entre o produtor e as companhias poluidoras em diversas partes do mundo. Segundo o Protocolo de Kyoto, essas corporações comprariam os créditos como forma de compensarem o meio ambiente do lançamento de gases poluentes decorrentes de seu processo produtivo.
O protocolo de Kyoto é resultado de uma conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em 1997, na cidade de mesmo nome, no Japão. É um acordo, assinado por mais de 160 países, em que eles se comprometem em reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa. As nações em desenvolvimento podem atuar como 'eliminadoras' de CO2 da atmosfera a partir da criação de fontes de energia limpa.
(Por Andreia Fantinel, Correio do Povo, 08/06/2008)