A criação do corredor ecológico no Rio Pelotas não é vista com bons olhos pelos três prefeitos do Rio Grande do Sul e os onze prefeitos de Santa Catarina que terão parte de seus municípios transformados em reserva ambiental. Eles reclamam que o projeto engloba uma extensa área do seu território. O projeto de Refúgio da Vida Silvestre do Rio Pelotas e dos Campos de Cima da Serra é uma exigência do termo de compromisso assinado pelo governo. A medida quer compensar os 6 mil hectares alagados pela Barragem de Barra Grande.
Para o Prefeito de São José dos Ausentes, Erivelto Sinval Velho (PMDB), a medida do governo prejudica os produtores que se concentram na área. O município terá quase 55% por cento da sua área atingida. “Viemos ao longo do tempo, incentivando a implantação de pequenos pomares, então, em toda essa área onde eles prevêem hoje a construção, que seja fechado o parque, a unidade de conservação, nós temos 224 pequenos proprietários morando nessas áreas e que sobrevivem exclusivamente do uso e da produção da sua terra”, diz.
Erivelto afirma que o corredor ecológico prejudica também a possibilidade de plantio do pínus em São José dos Ausentes. “Outro fator que nos preocupa bastante é quanto a introdução e a forma que vai ser trabalhado o pinus na nossa região, o plantio dessas árvores exóticas que produzem uma madeira e que dão um retorno muito interessante para o proprietário e sem dúvida é o futuro da madeira”, diz.
Para o Prefeito de Cambará do Sul, Aurélio Alves Lima (PP), o corredor ecológico é uma medida precipitada. A cidade terá 8,6% do seu território no projeto. Ele afirma que sua experiência mostra que as reservas ecológicas não trazem vantagens para o município. Nas duas cidades, existem os parques nacionais da Serra Geral e dos Aparados da Serra, que até hoje não foram regularizados. Aurélio afirma que o governo ainda não indenizou todas as famílias que moravam no local.
“Nos parques nacionais que existe a visitação, o município tem que ceder funcionários para o andamento dos parques. É cobrada portaria, estacionamento, e o município não vê se quer um centavo. Nós temos problemas quando acontecem as licitações pra explorar tanto a parte de gastronomia dentro dos parques, do que é permitido através do plano de manejo”, diz. Para o ambientalista e biólogo Paulo Brack, a medida deve ser revista. Ele afirma que os 272 mil hectares previstos para o corredor ecológico são importantes, mas é necessário considerar os interesses locais.
“Talvez o Ministério poderia até rever a proposta de corredor, talvez não dentro de uma unidade de conservação tradicional, e sim, numa estratégia maior, de um corredor que não ficasse tão amarrado conforme a lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, que tem regras rígidas”, diz. Apesar de não considerar o projeto ideal, Paulo Brack diz que os argumentos de perdas territoriais são usados para beneficiar o agronegócio.
“Temos sim alguns políticos da bancada ruralista que estão se aproveitando disso, querendo tirar uma fatia desse desgaste do governo. Pra nós ambientalistas, estamos muito triste em não poder avançar numa discussão de sustentabilidade, considerando que aquela área tem enorme potencial turístico”, afirma.
(Por Paula Cassandra, Agência Chasque, 07/06/2008)