O uso intensivo de agrotóxicos no Espírito Santo é de responsabilidade do governo Paulo Hartung: o Estado é o que mais usa herbicidas no país, e é o segundo no conjunto do emprego dos venenos agrícolas no Brasil. A análise é de Leomar Honorato Lírio, um dos coordenadores estaduais do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
O dirigente do MPA se manifestou sobre informações divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através dos "Indicadores de Desenvolvimento Sustentável - Brasil 2008".
Dos venenos agrícolas usados no Espírito Santo, os herbicidas são os mais comuns. São usados para combater o que as empresas chamam de ervas daninhas nas lavouras. Em 2005, em cada hectare (área com 10 mil metros quadrados, equivalente a um campo de futebol) do Espírito Santo as empresas e os fazendeiros usaram 3,7 kg de herbicida. A quantidade tornou o Espírito Santo campeão brasileiro no uso de herbicidas.
Se são somados inseticidas, fungicidas e outros venenos agrícolas, o Espírito Santo, com o uso 4,7 quilos por hectare, fica atrás apenas de São Paulo, que consome 7,7 quilos por hectare, média de 2005. Neste ano, a média nacional foi de 3,2 quilos de agrotóxicos por hectare.
O IBGE explica no seu texto que "os agrotóxicos - produtos utilizados para o controle de pragas, doenças e ervas daninhas - estão entre os principais instrumentos do atual modelo de desenvolvimento da agricultura brasileira, centrado em ganhos de produtividade".
E que "os agrotóxicos podem ser persistentes, móveis e tóxicos no solo, na água e no ar. Tendem a acumular-se no solo e na biota, e seus resíduos podem chegar às águas superficiais por escoamento e às subterrâneas por lixiviação".
Segue o IBGE esclarecendo que "a exposição humana e ambiental a esses produtos cresce em importância com o aumento das vendas. O uso intensivo dos agrotóxicos está associado a agravos à saúde da população, tanto dos consumidores dos alimentos quanto dos trabalhadores que lidam diretamente com os produtos, à contaminação de alimentos e à degradação do meio ambiente".
Trata-se de um uso criminoso, feito com o aval do próprio Estado. No Espírito Santo, cabe ao Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf) a responsabilidade de liberar o uso dos venenos e de fiscalizar as aplicações.
O Idaf atua junto ao Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), outro órgão da Secretaria de Estado da Agricultura (Seag), divulgando os agrotóxicos. Esta é a política do governo Paulo Hartung para o campo, diz o dirigente do MPA.
Leomar Honorato Lírio explica que nos plantios monoculturais de eucalipto da Aracruz Celulose, principalmente, e da Suzano, além das indústrias de açúcar e de álcool, o emprego dos venenos agrícolas é massivo. Usam principalmente herbicidas e formicidas. A Aracruz, por exemplo, faz a chamada capina química nos seus eucaliptais.
Mas há incentivo para uso dos venenos agrícolas nas grandes pastagens, e nas plantações em grande escala de mamão e maracujá, entre outras frutas destinadas à indústria.
Leomar Honorato Lírio afirma que o uso dos venenos agrícolas, incentivado pelo governo através dos órgãos da Seag, é feito de modo consciente. Os grandes produtores não se importam como o alimento ou produto vai chegar no mercado, interessam apenas pelo lucro.
Para o dirigente do MPA a Via Campesina, da qual o MPA faz parte, cuida como pode de difundir tecnologias conservacionistas. Ainda procura proteger com vegetação nativa as nascentes e suas áreas de recargas, que são os topos de morros e encostas, e não usam venenos agrícolas. O uso da terra é feito de modo a evitar ou reduzir a erosão.
Todo ano morrem dez mil brasileiros contaminados
Os venenos usados na produção de alimentos intoxicam 500 mil brasileiros por ano, e 10 mil trabalhadores morrem anualmente no Brasil contaminados pelos agrotóxicos. Dos intoxicados por venenos agrícolas, cerca de 10% ficam definitivamente incapacitados para o trabalho, o que totaliza uma perda de 50 mil trabalhadores/ano no País.
Os agrotóxicos castram os brasileiros (provocam impotência sexual e frigidez); provocam doenças genéticas; causam doenças que podem levar ao suicídio, e que deprimem o sistema imunológico, facilitando o desenvolvimento de um sem número de doenças; vários tipos de câncer, entre muitas outras.
As transnacionais do agrotóxico faturam muito e em escala crescente: uma receita de US$ 5 bilhões em 2007, contra US$ 3,9 bilhões em 2006, e US$ 4,6 bilhões em 2004.
O mercado brasileiro está aquecido, pois há tecnologias recentes no campo. Os agrotóxicos não eram usados nas plantações do milho. Agora, são. Há, também, o crescimento da área plantada com soja, cana, café e citros.
Com a demanda mundial por grãos aquecida, o consumo dos venenos agrícolas no Brasil também aumentará. Para 2008, a estimativa é que as vendas cresçam aproximadamente 10%.
As empresas miram ainda os negócios de sementes e a genômica. Na área de genômica, a Monsanto tem receitas semestrais superiores a US$ 3,3 bilhões. No setor de produtividade agrícola, entre os quais os agrotóxicos, a receita é 52,4% maior, atingindo US$ 2,497 bilhões.
Em 2005, o Brasil consumiu 365,5 mil toneladas de venenos agrícolas. O País é o quarto lugar no ranking mundial de consumo de agrotóxicos. O astronômico lucro das empresas é que justifica a defesa do uso destes produtos químicos que contaminam e permanecem no ambiente poluindo o solo, o ar e a água, e a minimização dos riscos a que estão expostos os consumidores e agricultores.
As análises, como as do Para, não consideram que os venenos se potencializam mutuamente. A lei de agrotóxicos não preconiza a mistura dos venenos agrícolas para aplicação. Mas a mistura é comum, como nas capinas químicas realizadas pela Aracruz Celulose nos eucaliptais.
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 06/06/2008)