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arborização urbana
2008-06-06
Especialistas criticam decreto de Beto Richa que prevê retirada de árvores

No Dia Mundial do Meio Ambiente, Curitiba se tornou a primeira cidade do país a ter um decreto que prevê a substituição gradativa de sete espécies florestais exóticas e invasoras por espécies nativas. O decreto foi assinado ontem pelo prefeito Beto Richa, durante a cerimônia de implantação do parque linear da Linha Verde, que terá 2,5 mil árvores nativas.

“Iniciamos fazendo um inventário das espécies dos parques e bosques. Nesse trabalho foram identificadas as que estão ocupando o espaço das nativas em Curitiba”, afirma o coordenador técnico de fauna e flora da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Alfredo Vicente de Castro Trindade. “Elas ocupam o habitat natural de algumas espécies nativas, porque se adaptam melhor e dominam o espaço, não deixando a biodiversidade natural que temos nos bosques.”

O decreto prevê que sete espécies sejam eliminadas dos parques e bosques. No caso da arborização viária, a substituição será gradativa. “Para que não haja um impacto muito grande”, diz Trindade. Quem quiser poderá cortar uma árvore de espécie exótica e invasora em propriedade privada, desde que comunique à prefeitura e plante cinco mudas de espécies nativas em seu lugar. “Existem várias espécies nativas que não causam nenhum problema, como o dedaleiro e o ipê-amarelo”, comenta o técnico.

Apreensão

A substituição foi recebida com preocupação por especialistas. A professora de paisagismo, arborização urbana e estudo da paisagem da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Daniela Biondi, que estuda as espécies exóticas e invasoras há cinco anos, acredita que uma mu-dança repentina vai causar impacto climático na cidade e para a flora e a fauna urbanas. “As cidades formam as chamadas ilhas de calor. Se todos os alfeneiros, que temos em grande quantidade, forem cortados, isso vai gerar um impacto muito grande nas ruas”, afirma. “Ali já tem uma planta completa, formada, que está fazendo fotossíntese, aumentando a umidade do ar e fazendo sombra, atuando em consonância com a fauna presente. Por que substituí-la por uma muda que ainda terá de crescer?”, questiona.

Para Daniela, a substituição deveria ser trabalhada a longo prazo. “Se cortar de uma só vez, vai ser um caos. Deveriam ser adotadas medidas de não se plantar mais essas espécies de plantas”, ressalta. “As que tiverem problemas de queda ou que tenham quebrado deveriam ser substituídas por espécies nativas. Isso ao longo de um determinado período.”

Já o professor doutor em produção vegetal da UFPR Flávio Zanetti não concorda com a diferenciação entre espécies nativas e exóticas invasoras. “Gostaria de saber: quais são as plantas nativas de uma área urbana? Estou desafiando. Em área urbana se usam espécies adequadas àquele ambiente, não interessa de onde venham”, diz.

Zanetti concorda com a retirada dos pinus e dos eucaliptos, que são muito grandes e atrapalham as vias, mas discorda em relação às outras espécies. “Essa lista não traz nenhum problema de segurança em termos de arrebentar calçadas, casas ou machucar pessoas. E quais são as plantas nativas que querem plantar? O hibisco, por exemplo, é da nossa flora e traz alergias. Vão plantar só porque traz flor linda e maravilhosa?”, indaga.

(Por Kamila Mendes Martins, Gazeta do Povo, 06/06/2008)

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